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O golaço de Taison precisa ser aplaudido por todas as torcidas

Taison recebeu em velocidade, tirou dois jogadores do Flamengo da jogada, colocou a bola na rede de Diego Alves e fez o terceiro gol do Internacional na partida e o primeiro dele pelo clube gaúcho depois de 10 anos. Na hora de comemorar o golaço, ele parou e levantou o braço direito. O atacante não estava mais ali como jogador do Inter, mas como um atleta preocupado em proteger algo indispensável no esporte: direitos humanos.

Taison já foi uma das incontáveis vítimas do racismo no esporte.

Em novembro de 2019, no clássico ucraniano entre Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, torcedores da capital que visitavam o estádio Metalist entoaram gritos racistas que foram ouvidos em campo, apesar de estarem em menor número.

Os jogadores brasileiros Taison e Dentinho, que atuam pelo Shakhtar, reagiram às ofensas. Muito revoltado, Taison chegou a mostrar o dedo para os torcedores do Dínamo e chutou a bola em direção a eles.

A partida foi interrompida, e o time do Shakhtar ameaçou deixar o campo. Os jogadores do Dínamo pediram que as ofensas parassem e a bola voltou a rolar dois minutos depois, sem os brasileiros. Taison e Dentinho saíram muito nervosos, chorando.

Taison foi expulso.

O direito pune quem revida. Mas muitas vezes o direito no esporte esquece de punir quem agride primeiro.

O futebol até endureceu a política de combate ao preconceito

Em julho de 2019, a Fifa anunciou um Novo Código Disciplinar, cujo texto dá ênfase ao combate ao racismo. O presidente da entidade, Gianni Infantino, já deu declarações fortes contra o racismo que se apresenta no futebol.

“O racismo se combate com educação, condenando, falando nele. Não se pode ter racismo na sociedade e no futebol. Na Itália, a situação não melhorou, isso é grave. Precisamos identificar os autores e expulsá-los dos estádios. Não devemos ter medo de condenar os racistas, devemos combatê-los até o fim”.

O artigo 13 do Código fala em suspensão, multa associada à limitação de espectadores no estádio, perda de mando de campo, dedução de pontos, rebaixamento e expulsão, além da possibilidade de direcionar um clube ou associação para implementar um plano de prevenção.

Mas o futebol não tem dado o exemplo de um combate efetivo ao problema do racismo. São muitos os casos de racismo em gramados pelo mundo, e poucos os exemplos de punição do esporte.

A história mostra que penas financeiras não têm ajudado a diminuir os crimes de injúria racial. É preciso ser mais rigoroso, e punir o clube também esportivamente.

Movimento esportivo tem papel de destaque na defesa de causas sociais

O apoio à diversidade tem sido uma batalha de vários movimentos ao redor do planeta. Influenciadores, artistas e atletas se manifestaram de diversas maneiras sobre a importância do respeito às diferenças e da necessidade de inclusão.

O movimento de combate ao preconceito racial ganhou força depois do assassinato do negro #GeorgeFloyd, e a mobilização que começou nos Estados Unidos e tomou conta do mundo também repercutiu no esporte. Patrocinadores, coletivos internacionais e atletas se posicionaram de maneira rara, combatendo preconceito e cobrando mudanças.

Esse movimento mostrou a força que os atletas têm, e desconhecem ter. Eles fazem parte da cadeia associativa do esporte. E, por isso, precisam ter voz nas discussões, inclusive sobre regras.

O futebol que punia gestos de combate ao racismo, teve que entender o movimento e dialogar. A FIFA passou orientação e essas manifestações dos atletas não foram mais punidas.

Esporte é agente de transformação

O esporte sempre foi um catalisador de transformações sociais pelo mundo. Ele ajudou na luta contra o racismo, contra a discriminação aos mais pobres, até na abertura democrática brasileira durante os anos da ditadura.

No mundo, muitos são os exemplos de atletas que entenderam que sua força vai muito além de uma pista ou quadra ou campo, e que eles podem ser agentes importantes na construção de uma sociedade melhor, menos excludente e mais humana.

Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de usar a Lei do Racismo para punir crimes contra a homofobia, com o novo Código Disciplinar da Fifa e o próprio CBJD, a Justiça Desportiva tem caminhos para punir o absurdo por aqui.

Pelo mundo, também existem caminhos.

Mas é sempre necessário entender que mais importante do que punir é conscientizar. E os personagens do esporte têm papel fundamental nesse momento.

Jogo não se separa da vida. A não discriminação e o direito à igualdade estão na natureza do esporte. A verdade é que não existe esporte longe da proteção de direitos humanos.

E quando o Taison levanta o braço pedindo igualdade, ele levanta na verdade uma bandeira protegida pela Declaração Universal de Direitos Humanos, e pelos próprios regulamentos internos da FIFA e do Movimento Olímpico.

E quando isso acontece, o esporte jamais pode punir. Pelo contrário, deveria aplaudir e incentivar.

Crédito imagem: Internacional/Divulgação

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