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O impacto da guerra na Ucrânia nos esportes de combate

Por Elthon Costa e Rafael Ramos

Há meses, a guerra Rússia-Ucrânia vem afetando os esportes de combate, já que quase todas as promoções abrigam uma série de atletas russos. O impacto do conflito em curso entre os dois países atingiu um ápice quando a principal promoção de kickboxing, o GLORY, decidiu rescindir todos os contratos de seus lutadores russos[1].

Os esportes de combate em geral têm tentado se distanciar de ter que excluir seus atletas russos, já que muitos superastros e prospectos vêm da região. Entretanto, sendo o GLORY uma organização majoritariamente eurocêntrica, tem enfrentado mais críticas do que a maioria das organizações de combate que tem sede principalmente nas Américas, incluindo o UFC e o Bellator MMA.

O GLORY aceitou a recomendação do COI de permitir que os atletas russos competissem apenas como competidores neutros[2]. Esta recomendação está em vigor desde fevereiro passado. O GLORY decidiu que, devido às condições de guerra, era do melhor interesse dos atletas liberá-los de suas obrigações contratuais e permitir que competissem em outro lugar.

A maioria das federações internacionais implementou as recomendações do COI e baniu atletas e oficiais russos e bielorrussos de seus eventos, embora um punhado incluindo a Federação Internacional de Judô e a Federação Internacional de Sambo estejam permitindo que eles concorram como neutros, como fez o GLORY.

Entretanto, não é devido à pressão externa que a organização decidiu tomar estas medidas, mas sim aos problemas causados em cada etapa da luta. Isto inclui questões de pagamento, vistos e viagens e uma falta geral de combatentes dispostos a aceitar combates contra os russos. Em uma declaração emitida pela liga, eles agradeceram a seus atletas por seus desempenhos, mas deixaram explícita a dificuldade em conseguir lutas para os atletas russos, veja-se, pois:

A organização encontrou uma variedade de obstáculos que impossibilitaram a organização de lutas contra seus atletas russos, barreiras como proibições de viagens, preocupações de segurança e bloqueios de pagamento em um ambiente de sanções mundiais contra a Rússia e oponentes relutantes[3].

Muitas outras organizações desportivas internacionais de combate mantiveram os competidores russos em seus planteis, e algumas até se abstiveram de comentar a invasão por completo. Desde seu início em 24 de fevereiro, por exemplo, o UFC já organizou mais de 15 eventos. Desses cards (programação de lutas que compõe um evento de esporte de combate), quatro dos principais vencedores vieram da Rússia, enquanto uma infinidade de outros lutadores nesses cards também representavam a Rússia. Outra grande organização de MMA, o Bellator MMA também continuou a permitir que os russos competissem sem restrições aparentes. A PFL, liga de MMA norte-americana, retirou a bandeira exibida dos atletas russos e todas as menções de seu país durante as transmissões, enquanto ainda os permite lutar.

O ONE Championship, maior promoção de esportes de MMA asiática, retirou os lutadores russos de seus próximos eventos em Cingapura depois que o governo local decidiu proibir os atletas russos de competir na cidade-estado[4]. A promoção baseada em Singapura divulgou uma declaração sobre o assunto e observou que os combatentes russos estarão de volta à ação quando a promoção realizar eventos fora de Singapura.

Os desligamentos contratuais também fizeram com que Artem Vakhitov, maior estrela russa do kickboxing no GLORY, tivesse que desocupar seu título de campeão do peso meio-pesado, retomado ao vencer em uma controversa revanche o brasileiro Alex Pereira, hoje estrela do UFC. Uma luta pelo título vago já foi anunciada na GLORY 81 em Düsseldorf, Alemanha, entre Luis Tavares e Sergej Maslobojev, em 20 de agosto. Tavares, que originalmente enfrentaria Vakhitov – que já o venceu por nocaute – em uma revanche no fatídico Glory 80[5], recusou-se a dividir o ringue com o russo novamente logo após o início da guerra, tendo declarando o seguinte[6]:

(…) na Holanda, lutar contra um lutador russo tornou-se uma ideia muito ruim para a opinião pública. As grandes empresas sofreram grandes golpes financeiros, especificamente naquela semana, devido às sanções. Estes fatores, combinados, me fizeram concluir que eu tinha que tomar uma decisão sobre este assunto, o que eu fiz. E você tem que entender, isto também foi um grande sucesso para mim financeiramente. Eu realmente sofri nessa perspectiva, e isso me tirou a vingança pela qual tenho procurado e trabalhado, durante anos e anos. Portanto, foi uma decisão muito difícil.

Embora a GLORY, naquela época, tivesse uma visão diferente sobre o assunto russo-ucraniano em relação ao esporte, eles têm sido muito compreensivos e cooperativos comigo. Por isto, sinto-me respeitado pelo GLORY, e estou feliz com isso.

Não está claro se qualquer outra organização desportiva de combate seguirá o exemplo do GLORY. Com a guerra na Ucrânia não tendo fim à vista, pode chegar um momento em que promover atletas russos sob sua bandeira não vale mais a pena para grandes organizações como o UFC.

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Elthon Costa é advogado. Sócio-Diretor das Relações de Trabalho e Desporto na Todde Advogados. Especialista em Direito Desportivo (CERS). Pós-graduado em Direito Processual Civil (Unileya). Auditor do TJDU/DF. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD). Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/DF. Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP Subseção Osasco. Membro da Comissão de Esporte e Lazer da OAB/SP Subseção Osasco. @elthoncosta

[1] PETTRY, Jay. Glory Kickboxing Terminates Contracts of All Russian Competitors, Including 1 Champ. In: SHERDOG, Site, 17 jun. 2022. Disponível em: https://www.sherdog.com/news/news/Glory-Kickboxing-Terminates-Contracts-of-All-Russian-Competitors-Including-1-Champ-187156. Acesso em 06 jul. 2022.

[2] BURKE, Patrick. IOC affirms opposition to World Association of Olympians’ stance on Russia and Belarus. In: Inside The Games, Site, 17 mai. 2022. Dispoível em: https://www.insidethegames.biz/articles/1123275/ioc-opposes-woa-stance-russia-belarus. Acesso em 07 jul. 2022.

[3] GLORY PRESS OFFICE. Tavares and Maslobojev will battle for the GLORY light Heavyweight title at GLORY 81. In: GLORY KICKBOXING, Site, 17 jun. 2022. Disponível em: https://glorykickboxing.com/news/tavares-and-maslobojev-will-battle-for-the-glory-light-heavyweight-title-at-glory-81:034c296a-e06b-4683-b632-df4885300f19. Acesso em 07 jul. 2022.

[4] LockerRoom Team. ONE Championship removes Russian MMA fighters from upcoming events in Singapore. In: Locker Room, Site, 14 mar. 2022. Disponível em: https://lockerroom.in/blog/view/ONE-Championship-Russia-Ukraine-MMA. Acesso em 07 jul. 2022.

[5] COSTA, Elthon José Gusmão da. RAMOS, Rafael Teixeira. O hooliganismo chega ao kickboxing. In: Lei em Campo, Site, 13 jun. 2022. Disponível em: https://leiemcampo.com.br/o-hooliganismo-chega-ao-kickboxing. Acesso em 06 jul. 2022.

[6] NAVSHYVANOV, Ruslan. GLORY 81’S LUIS TAVARES: ‘ME, MYSELF AND I’. In: COMBAT PRESS, Site, 22 jun. 2022. Disponível em: https://combatpress.com/2022/06/glory-81s-luis-tavares-me-myself-and-i. Acesso em 07 jul. 2022.

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