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O mundo paralelo do futebol e as ruas de Barranquilla

Quantas vezes já ouvimos e dissemos a expressão “o futebol é um mundo paralelo”? A expressão é verdadeira. Os valores praticados no mercado do futebol não são os mesmos fora dele. Há aspectos culturais bem típicos do mundo do futebol. A expressão é verdadeira porque também é o mundo paralelo das emoções. É o mundo da paixão cega, inexplicável, bonita. Que une gente tão diferente num só grito de gol, num abraço caloroso. Que tira o peso dos problemas dos ombros e te coloca numa redoma onde nada mais importa, pelo menos por 90 minutinhos. É sim um mundo paralelo; a expressão é verdadeira.

E ao mesmo tempo a expressão é falsa. Não, o futebol não acontece num mundo paralelo; ele acontece no nosso mundo. Nosso mundo de alegrias e de tristezas, de paz e de conflitos. No nosso mundo binário de direita e esquerda. O futebol não está imune nem isolado de nada disso.

Na quinta-feira, dia 13 de maio, o futebol aconteceu em Barranquilla. A partida entre América de Cali e Atlético-MG pela Copa Libertadores da América aconteceu em meio a protestos. Naquele dia o gás lacrimogênio invadiu o mundo paralelo do futebol e interrompeu a partida que não deveria nem ter começado. Mas começou, interrompeu, continuou, finalizou.

O mundo que acontecia nas ruas de Barranquilla – de Bogotá, de Armenia e de outras cidades colombianas – refletia naquele momento a insatisfação de significativa parte da população colombiana com as medidas do presidente. A cidade que sediava o futebol naquela noite também sediava manifestações sociais. E talvez não houvesse espaço para os dois.

Não é a primeira vez que algo parecido acontece, nem será a última. No Manual de Clubes da Libertadores 2021, a CONMEBOL delineia recomendações para a interrupção ou suspensão de partidas quando há algum fator que enseja tais medidas. O documento prevê que a “interrupção, suspensão e abandono do campo de jogo ou cancelamento da partida são o último recurso possível e somente poderão ocorrer quando houver uma ameaça clara e iminente à segurança dos jogadores, oficiais e/ou público. ”

De acordo com o documento, em caso de não haver condições mínimas de jogo, o árbitro deve interromper a partida e o Delegado da Partida deve avaliar a situação identificada e consultar o grupo de gestão de crise para definir se é caso de interrupção (quando o Delegado e os envolvidos no grupo de gestão de crise acreditam que, em um espaço curto de tempo – normalmente até 45 minutos-, a situação pode ser controlada e a partida pode ser recomeçada e concluída) ou suspensão (quando o Delegado e os envolvidos no grupo de gestão de crise acreditam que não será possível, em um curto espaço de tempo, controlar a situação para começar ou recomeçar a partida de forma que seja concluída com segurança).

Em caso de suspensão da partida ou interrupção por motivo de força maior ou risco iminente, depois de seu início, a partida deve ser recomeçada com o mesmo placar e no mesmo minuto em que tenha sido interrompida ou suspensa.

Talvez o futebol tivesse que ter dado lugar ao mundo das ruas de Barranquilla. Não só por Barranquilla, mas também pelo próprio futebol. Pela saúde dos que tocam o espetáculo, pela integridade da própria competição.

Cumpre-se seu papel social e protege-se os seus.

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