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O One Championship chega à América

Há alguns meses, falei, ainda na coluna do amigo Rafael Ramos, sobre a diferença entre as regras de alguns eventos asiáticos e as regras norte-americanas do MMA, as assim chamadas “Regras Unificadas do MMA” devido ao fato de serem as regras reconhecidas por todas as comissões atléticas norte-americanas, embora algumas mudem em certo pontos de um estado pra outro.

Ocorre que, com a chegada das transmissões ao vivo do evento asiático One Championship ao Brasil através do grupo Globo (embora o evento já estivesse disponível em nosso território pela plataforma do Youtube, porém sem narração brasileira), convém retomarmos o tema das regras aplicadas em determinados shows, que diferem daquelas do UFC, como é o caso do One.

O MMA teve conjuntos de regras ao longo de sua curta história que alcançaram algum destaque nos últimos 20 anos.

As regras do Shooto, evento japonês, incluiam o uso de luvas acolchoadas, e o PRIDE Fighting Championships, maior dos eventos asiáticos, que foi adquirido em 2006 pelo UFC, também tinha seu conjunto único de regras, permitindo que até chutes na cabeça de um oponente no solo fossem aplicados.

Promoções como ONE Championship usam um conjunto misto de regras (cunhado como Global MMA Rule Set). Entretanto, as “Regras Unificadas do MMA” se firmaram como o padrão mais popular.

As regras unificadas foram popularizadas pelo Ultimate Fighting Championship e são usadas por todas as comissões atléticas dos EUA. São um conjunto de regras que se concentra na segurança dos lutadores sem comprometer o entretenimento.

O ONE Championship, com sede em Singapura, anunciou uma parceria plurianual com a Prime Video, plataforma de streaming da gigante norte-americana Amazon, em abril de 2022, trazendo 12 eventos de artes marciais ao vivo anualmente.

O ONE Championship tem se esforçado para ter uma presença maior na América nos últimos anos com mais eventos de imprensa e acordos de transmissão concedendo a eles uma maior presença no mercado que é amplamente dominado pelo UFC, Bellator e PFL.

O empecilho para a realização de eventos do One em solo americano sempre foi justamente a implementação de seu próprio sistema de regras, o já falado Global MMA Rule Set.

Como as comissões atléticas dos EUA impõem a utilização das regras unificadas, o One teria que abrir mão de suas próprias regras para se adaptar ao modelo norte-americano.

Aqui é que entra o Estado do Colorado.

O Colorado tem uma rica história em esportes de combate como o primeiro estado a sediar um evento de MMA em 1993, o próprio UFC 1.

Na ocasião, o estado não tinha sua própria comissão atlética e, portanto, não exigiria aprovação para competições sem luvas.

Em julho de 2021, o Escritório de Esportes de Combates do Colorado aprovou o conjunto de regras do ONE Championship, que inclui joelhadas na cabeça de um oponente no solo – um desvio das “Regras Unificadas do MMA”.

Outras diferenças nas regras incluem protocolos de hidratação e de redução de peso, tomografias computadorizadas semanais antes da luta e critérios de julgamento/pontuação diversos do sistema norte-americano.

De acordo com as regras unificadas, os pontos são concedidos round a round através de um sistema de 10 pontos, com o vencedor recebendo dez e o perdedor recebendo nove ou menos. Mas, sob o conjunto de regras do One, a disputa é pontuada como um todo.

Há alguns que considerem este um sistema melhor para pontuar uma luta. Se um atleta perde por pouco os dois primeiros rounds, mas melhora no final com um terceiro round mais claro (10 a 9), ele provavelmente perderia por decisão de 29-28 sob o conjunto de regras unificadas. Mas sob o conjunto de regras do One, ele venceria.

O One também permite o uso de cartões coloridos, amarelos e vermelhos, similar ao modelo usado no futebol, como forma de se punirem faltas por parte dos atletas, senão, veja-se:

PENALIZAÇÃO DE FALTAS/PROBLEMAS LEGAIS

(…)

Cartões Amarelos – Qualquer desrespeito flagrante às regras ou paralisação pode resultar em um cartão amarelo. Um cartão amarelo resultará em uma dedução de 10% no dinheiro do prêmio do atleta e poderá influenciar a decisão dos juízes. Cada cartão amarelo é uma dedução sucessiva de 10% dos ganhos do atleta. Se um atleta for penalizado com um cartão amarelo, o oponente que recebeu a falta terá a opção de retomar o combate a partir da mesma posição que quando a falta ocorreu ou a partir de uma posição de pé.

Desclassificação / Cartão vermelho – A critério do árbitro, um atleta pode ser desclassificado com base na repetição ou incrustações graves. Se um atleta for desqualificado, a empresa pode deduzir um mínimo de 30% a um máximo de 100% dos ganhos dos atletas[1]. (tradução livre)

É digno de nota que o árbitro pode, através de um cartão, retirar uma fração ou a totalidade da bolsa do atleta. Isso inclui até mesmo se a conduta do atleta for a de evitar a ação, conforme a própria regra dita, in verbis:

TRAVANDO A LUTA

Quando a ação diminui na posição de pé, o árbitro dará o comando “ação”. Quando a ação abranda no solo, o árbitro dará os comandos de “melhorar sua posição” ou “trabalhar para terminar”. Se a ação não tiver aumentado, o árbitro pode mandar os atletas retornar em pé ou penalizar com um cartão amarelo. Se um cartão amarelo for exibido, a partida será retomada a partir da posição de pé.

Os juízes laterais podem exibir um marcador vermelho ou azul como um sinal ao árbitro e à equipe do atleta que este está travando a luta. A equipe do atleta deve levar esta exibição em consideração e incentivar seu atleta para competir de forma mais ativa e agressiva. (tradução livre)

Veja que a equipe também é responsável pela conduta do atleta no entender das regras do One, sendo que só o futuro dirá qual o impacto desse tipo de regras frente à legislação vigente nos EUA quanto ao fato do evento reter a bolsa do atleta por ato discricionário do árbitro do confronto e qual seria a responsabilidade real da equipe do atleta frente a essa conduta.

O que se sabe agora é que o público norte-americano terá a chance, em primeira pessoa, de comparar os dois sistemas utilizados e ver qual deles é o mais adequado quando o One fizer sua estreia em solo americano em 5 de maio de 2023, em Broomfield, Colorado, sob o uso de seu próprio sistema de regras.

Crédito imagem: Bullit Marquez/AP

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REFERÊNCIAS

COSTA, Elthon José Gusmão da. Aspectos jurídicos do desporto MMA. 1ª. ed. São Paulo: Mizuno, 2022.

[1] https://combatsportslaw.com/2021/07/27/full-colorado-approved-one-championship-global-ruleset/

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