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O ouro das Olimpíadas: a busca pela igualdade de gênero

As Olimpíadas são muito mais do que simples competições esportivas, servindo também como um palco global onde questões políticas, sociais e culturais frequentemente emergem. Desde o boicote de países a edições específicas dos Jogos até protestos de atletas contra injustiças sociais, o evento tem sido uma plataforma para manifestações que transcendem o esporte.

Tais atos políticos e sociais refletem as realidades do mundo contemporâneo e demonstram que os Jogos Olímpicos refletem questões globais em seus diversos aspectos.

As Olimpíadas de Paris 2024 marcaram um avanço significativo na busca da inclusão e igualdade de gênero no esporte.

A participação quase paritária entre atletas homens e mulheres é apenas um pequeno recorte do que se pode extrair dos reflexos do Comitê Olímpico Internacional nos esforços para respaldar às mulheres atletas. Afinal, para que se efetive tal paridade conta-se com medidas implementadas previamente e de essencial importância, consistindo na introdução de novas políticas e infraestruturas, como por exemplo, a tratativa inovadora (e que se diferenciou das edições olímpicas anteriores) para apoiar atletas mães, garantindo, através da infraestrutura necessária, o apoio para buscar equidade nas oportunidades entre os demais atletas.

A trajetória das mulheres no esporte é marcada por lutas e conquistas significativas ao longo dos anos, refletindo a evolução dos direitos femininos em diversas esferas sociais.

Nos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, realizados em 1896, as mulheres foram excluídas, uma decisão que refletia o contexto social da época, onde o esporte era considerado uma atividade predominantemente masculina.

 Na contramão da expressão de Barão de Coubertin, que afirmava que as mulheres deveriam se limitar a assistir, e não a competir, se verifica ao longo da história das Olimpíadas a inclusão das mulheres nos Jogos.

 A participação feminina nos Jogos Olímpicos surgiu timidamente em 1900, em Paris, quando 22 mulheres competiram em apenas nas modalidades de tênis e golfe, transformando-se em um marco importante, apesar das limitações e restrições de atletas mulheres em determinadas modalidades esportivas, sem contar a absoluta ausência de respaldo, sobretudo no que tange à estrutura necessária para treinamento, e fomento do esporte praticado por mulheres.

Nas décadas seguintes, a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos cresceu gradualmente. Em 1928, as mulheres foram permitidas a competir no atletismo, um avanço significativo que enfrentou resistência, mas abriu caminho para a inclusão em outros esportes. Durante os Jogos de 1948, em Londres, o número de esportes disponíveis para mulheres aumentou, marcando o início de uma era de maior reconhecimento e valorização das atletas femininas.

A partir da década de 1960, impulsionadas pelo movimento pelos direitos civis e feministas, as atletas começaram a lutar ativamente por igualdade no esporte. Um marco importante foi a aprovação do Título IX nos Estados Unidos em 1972, o qual proibiu a discriminação de gênero em programas educacionais, incluindo esportes, incentivando a participação feminina no esporte em nível escolar e universitário.

Nas Olímpiadas da Era Moderna, a paridade de gênero tem se tornado uma realidade. Os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, foram os primeiros a contar com a participação de mulheres em todas as modalidades esportivas, e em Tóquio 2020, quase 49% dos atletas participantes eram mulheres.

Trata-se de um progresso que reflete não apenas uma mudança nas regras dos Jogos Olímpicos, mas também uma transformação cultural global em relação aos direitos e à igualdade das mulheres.

São inúmeras as conquistas das mulheres no esporte. Nomes que marcaram a história como Nadia Comaneci foi a primeira ginasta a receber a nota 10, em 1976, e Serena Williams, uma das maiores tenistas de todos os tempos, são exemplos do impacto e da inspiração que as mulheres têm proporcionado no cenário esportivo global.

A evolução dos direitos das mulheres no esporte, especialmente nos Jogos Olímpicos, representa a persistência e a determinação das atletas em superar barreiras como a falta de políticas adequadas e suficientes para o devido apoio e demais estruturas de fomento.

As conquistas alcançadas até hoje são o resultado de luta contínua por igualdade e reconhecimento, servindo de referência sobre a importância de continuar promovendo a inclusão e a igualdade de gênero em todas as esferas do esporte.

Nessa linha, o COI passou a adotar medidas visando a proteção e promoção dos direitos das mulheres atletas, tais como a paridade de gênero, onde se busca garantir a participação equilibrada entre homens e mulheres nos Jogos Olímpicos; políticas de proteção visando proporcionar um ambiente seguro para as atletas, implementadas para combater o assédio e o abuso no ambiente esportivo; a instauração de comissões e programas de apoio dedicadas as questões de igualdade de gênero, incluindo programas de mentoria para as atletas; observância à direitos relativos à maternidade, de forma à não prejudicar o retorno das atletas, através de medidas que permitem a manutenção da excelência esportiva.

Verifica-se avanços significativos com relação às regulamentações e legislações que apoiam as modalidades femininas, notadamente no que se refere à maternidade. Ligas esportivas, como a WNBA e a FIFA implementaram nos últimos anos políticas específicas de licença-maternidade, para afastar prejuízos e assegurar estabilidade contratual no retorno após a gestação, além de fornecer suporte para o retorno às competições de alto nível, incluindo treinos e adaptações personalizadas durante a respectiva fase. Além disso, atualmente determinadas competições fornecem infraestrutura de apoio em suas instalações esportivas, para fornecer áreas dedicadas para amamentação e cuidados infantis, como vem se concretizando nas Olimpíadas de Paris 2024.

Para tanto, o Comitê Olímpico Internacional implementou programas como o Women in Sport Commission, que atua no aumento da participação feminina no esporte e em posições de liderança; Solidarity Programmes, o qual consiste em sistema de bolsas e financiamento para apoiar a carreira de atletas; Athlete365, o qual trabalha em proporcionar recursos e apoio em áreas relacionadas à saúde mental, transição de carreira e equilíbrio entre a vida pessoal e esportiva.

No âmbito nacional, o Comitê Olímpico Brasileiro instituiu o Programa Mulheres no Esporte, focado em promover a igualdade de gênero e capacitar mulheres em cargos de liderança e arbitragem, promovendo workshops, seminários e programas de desenvolvimento para atletas e treinadoras.

Os projetos destacados acima correspondem a medidas de apoio à mulheres em diversas fases de suas carreiras esportivas, onde se objetiva a promoção de um ambiente inclusivo e equitativo no esporte de alto rendimento.

Rebeca Andrade, Rayssa Lea l, Beatriz Ferreira, Ana Marcela, são atletas da atualidade que, diante de altíssimo nível competitivo, representam inclusão e igualdade no esporte, abrindo caminho para mais conquistas. Contudo, importante reforçar que além da competência e resiliência dessas atletas, é preciso um trabalho de equipe, onde o fomento e a estrutura sejam adequadas para que os avanços sejam progressivos e efetivos, tendo as entidades de administração esportiva um papel crucial nessa jornada.

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