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O VAR do MMA

Por Elthon José Gusmão da Costa1

O UFC tem visto um longo processo de evolução em termos de como o conjunto de regras que rege o MMA funciona. No entanto, ele ainda se encontra atrasado em muitas questões, embora haja um processo ativo de mudança nas regras.

No entanto, a maioria das mudanças de regras funciona em um nível administrativo sobre o qual o UFC não tem controle.

As regras são específicas para as comissões atléticas norte-americanas. As diferentes comissões em diferentes estados ditam regras específicas para suas áreas, o que cria uma inconsistência básica entre como as lutas são tratadas com base na localização.

Nessa seara, entra a questão do replay instantâneo, o VAR do MMA. A maioria das comissões permite repetição instantânea, mas apenas pode ser usado tal recurso para se ver uma “sequência de final de luta” e uma luta não poderia ser retomada depois que o replay fosse usado.

O uso do replay instantâneo é permitido oficialmente no estado de Nova York, e foi de fato usado para determinar o polêmico final da vitória de Gegard Mousasi sobre Chris Weidman no UFC 210.

Naquela ocasião, o árbitro Dan Miragliotta interrompeu a polêmica disputa no meio do segundo round depois que Mousasi deu duas joelhadas na cabeça de Weidman enquanto Weidman tentava se tornar um oponente “no chão”, colocando ambas as mãos no solo. Acreditando que os golpes eram ilegais, Miragliotta deu a Weidman tempo extra para se recuperar. No entanto, ele inverteu o julgamento e Mousasi recebeu uma vitória por nocaute técnico depois que as joelhadas foram descobertas como legais.

Porém, algumas controvérsias ocorridas em outros eventos posteriores causaram confusão e exigiram mudanças.

Nesta senda, a Comissão Atlética do Estado de Nevada licenciou o uso de replay instantâneo a qualquer momento durante uma luta, sendo o UFC Vegas 10 o primeiro card que permitia o uso de replay instantâneo. Especificamente, a NAC 467.682(5)2 foi adicionada, expandindo a capacidade de repetição instantânea de “a conclusão de uma competição ou exibição interrompida imediatamente devido a uma lesão” para “a qualquer momento” da seguinte forma:

 “O árbitro pode, a qualquer momento durante uma competição ou exibição, pedir um desconto de tempo para consultar oficiais da Comissão ou para ver imagens de replay.”

No caso da regra de Nevada, o replay instantâneo funcionaria da seguinte maneira: um oficial de revisão designado estará ao lado do cage para alertar o árbitro do cage sobre uma situação em que o replay é necessário. O árbitro principal, o do cage, no entanto, ainda tem a autonomia para declarar um nocaute, nocaute técnico, etc.

O oficial de revisão funcionará como um segundo par de olhos para o árbitro. Uma luz amarela fora do cage será usada para sinalizar ao árbitro no cage caso algo precise ser revisto. No entanto, ainda está na decisão do árbitro do cage quando interromper a ação. O árbitro principal também tem a palavra final em todas as decisões.

O mais interessante, talvez, seja a confirmação de que o replay instantâneo pode ser usado em qualquer ponto da luta. Não há necessidade de uma sequência de finalização da luta e o árbitro pode recomeçar a luta a seu critério.

Um exemplo de como a ausência do replay pode afetar o resultado de uma luta ocorreu em maio de 2021 na Professional Fight League (PFL) durante o duelo entre Fabricio Werdum e Renan Ferreira. Werdum, ex-campeão dos pesos pesados ​​do UFC, encabeçou o PFL 3 de 2021 no Ocean Casino Resort em Atlanta City, N.J., como parte do evento de início da temporada regular para a divisão dos pesos pesados. Ele rapidamente derrubou Ferreira no round de abertura do confronto, depois colocou seu jogo de chão de classe mundial em uso.

Depois de Werdum fazer a transição para uma combinação de estrangulamento/chave de braço no triângulo por baixo, Ferreira pareceu pedir para a luta ser interrompida. O árbitro Peterson não percebeu o momento, porém, de acordo com o relato de Werdum, fazendo com que o lutador liberasse parte da pressão na expectativa de que a luta fosse interrompida.

Não foi, no entanto, e momentos depois Ferreira escapou do estrangulamento e posicionou-se por cima de Werdum, terminando a luta por nocaute.

O fato de a PFL ter optado por não utilizar o replay instantâneo antes do evento, significava que o resultado da luta não poderia ser revisto – e potencialmente alterado – imediatamente após a luta. Mais tarde, o New Jersey State Athletic Control Board (NJSACB) anulou a derrota por nocaute de Werdum para Renan Ferreira, convertendo o resultado em um “no contest” (sem resultado) depois de revisar a fita e concluir que o árbitro perdeu o que aconteceu, uma sinalização de submissão por Ferreira.

Erros de arbitragem existirão, independentemente da tecnologia. Pelo menos isso dará aos árbitros uma chance melhor de tomar as decisões certas e preservar a integridade do esporte, além de, principalmente, proteger os lutadores. Afinal de contas, o árbitro é um garantidor.

Crédito imagem: Twitter/T-Mobile

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REFERÊNCIAS

BRAVO, Guilherme. Nas mãos dos juízes: Uma perspectiva do MMA ao lado da grade. 1ª. ed. [S. l.]: PVT 1, 2019. 79 p. ISBN 978-85-66501-03-2.

TROWBRIDGE, Glenn. Judging professional MMA. 1ª. ed. Las Vegas, Nevada: Munched Kitty Publications, 2014. 71 p.

1Advogado. Pós-graduado em Processo Civil pela Faculdade AVM. Pós-graduando em Direito Desportivo pelo Complexo Educacional Renato Saraiva (CERS). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD). Membro da Diretoria do Grupo de Estudos e Desporto São Judas (GEDD-SJ).

2NEVADA State Athletic Comission: NAC-467. InCHAPTER 467 – UNARMED COMBAT. [S. l.], 2020. Disponível em: https://www.leg.state.nv.us/nac/NAC-467.html#NAC467Sec001. Acesso em: 17 jan. 2022.

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