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Os estranhos horários dos jogos do Cruzeiro 

A Federação Mineira de Futebol divulgou a tabela do Campeonato Mineiro e causou grande repercussão e revolta dos torcedores, os horários das partidas do Cruzeiro como mandante. A equipe azul tem jogos marcados para dias de semana às 17 horas, sábado às 11 horas e domingo às 20h30min.

O Cruzeiro foi a única equipe do Campeonato Mineiro que não vendeu seus direitos de transmissão para a Tv Globo, pois o comercializou com a “Sempre Editora”, grupo de comunicação que tem o jornal “O Tempo” e a “Rádio Super”, em Belo Horizonte. Ainda não há detalhes do formato da transmissão, mas se sabe que será por streaming.

A definição dos horários das partidas do Cruzeiro teria sido uma exigência da Tv Globo que invocou cláusula do regulamento da competição que estabelece que emissora parceira pode interferir na definição da tabela.

Do ponto de vista jurídico, a Federação está no exercício regular de seu direito, pois cumpre o regulamento que foi aceito pelo Cruzeiro.

Os Estaduais, outrora super valorizados, tem tido grande dificuldade de se viabilizar, dado o baixo interesse dos torcedores e, ao que tudo indica, o contrato com a Globo trouxe um respiro aos campeonatos de Minas e do Rio Grande do Sul ao gerar recursos financeiros para as equipes do interior.

Historicamente, o as equipes de Minas Gerais sempre comercializaram os direitos de transmissão de forma conjunta. Pela primeira vez, um time, no caso o Cruzeiro, quebrou a tradição e agiu individualmente.

Sob o ponto de vista comercial, a Globo, que desembolsou 20 milhões de Reais e firmou contrato com a anuência da FMF, não quer que os jogos do Cruzeiro concorram com sua programação. Natural que quem pague, tenha poder de decisão.

A grande avaliação que deve ser feita é se a medida não acaba por desvalorizar o produto “campeonato”, pois prejudica uma das marcas mais fortes da competição.

Ademais, vê-se uma grande dependência das emissoras de TV, o que demonstra a fragilidade do produto “campeonato” que pode deixar de existir quando não houver mais interesse da TV.

O fato é que à exceção do campeonato paulista e, talvez, do carioca, os Estaduais agonizam. São competições com pouquíssimo apelo de público e que ainda prejudica o calendário dos clubes que acabam encavalando os jogos do Brasileirão, da Libertadores e da Copa do Brasil, como ocorreu com Flamengo, Palmeiras e Atlético em 2021.

Para sobreviver, os Estaduais precisam se reinventar. Não vai demorar para os clubes, cada vez mais profissionais, e as emissoras de TV exigirem o início do Brasileirão em fevereiro.

Aliás, os Estaduais somente sobrevivem porque as Federações estaduais tem poder de voto para a Presidência da CBF e o mandatário que acabar com eles estará politicamente aniquilado.

Mas não há política que sobreviva à falta de dinheiro. O campeonato mineiro que já valeu 46 milhões, hoje vale 20, amanha poderá valer 10 e daqui a pouco pode não ter emissoras interessadas.

É preciso repensar os Estaduais. Uma boa medida pode ser a sua realização nos meios de semana de forma intercalada com o Brasileirão,  em datas espalhadas ao longo do ano, ou até mesmo em apenas um mês, no estilo Copa do Mundo.

Enfim, se em 2022, a ausência de transmissão em TV aberta bateu na trave, em breve pode ser uma realidade e sem a verba da TV, a maioria dos clubes do interior não se viabilizará e a própria Federação sofrerá forte revés financeiro.

Assim, é muito importante que as Federações valorizem seu produto e busquem formar de torna-lo atraente. Ceder às pressões de quem hoje paga resolve a questão imediata, mas fragiliza o futuro.

No caso específico do Cruzeiro, por mais que possa ter havido “descompasso comercial”, prejudicar o clube azul no momento mais difícil de sua centenária história vai contra um dos principais objetivos das Federações Estaduais que é fortalecer seus filiados.

No momento em que a Sociedade Anônima do Futebol traz a expectativa de que investidores estrangeiros venham para o futebol brasileiro, é difícil explicar a eles que contrariar os interesses da Federação pode gerar retaliações.

Se algo não mudar, de nada valerão as SAFs e os Estaduais terão seus dias contados.

Crédito imagem: Bruno Haddad/Cruzeiro

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