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Os games e o tempo

No início dos anos 80 chega ao Brasil o Atari, um dos primeiros consoles de games. Não demorou muito e ele logo caiu nas graças do público jovem.

Ainda criança, lembro de ir à casa dos meus primos, já adolescentes, e vê-los jogar o console. Às vezes, com sorte, conseguia uma brecha e o direito de jogar alguns minutos ao lado deles.

Os cartuchos de maior sucesso eram do Pacman e um outro de avião que não me recordo o nome. O jogador assumia o controle de uma aeronave e disparava tiros e bombas em obstáculos que surgiam na tela. Acho que o jogo se chamava River Raid.

Na sala de uma casa com quatro meninos (sim, minha tia teve a ousadia de ter quatro filhos homens), os joysticks se acumulavam, muitos deles quebrados pela empolgação (e brutalidade) dos meus primos, que ainda não tinham compreendido que os games demandam mais da mente do que físico. Natural, toda novidade requer adaptação.

Gostei da brincadeira, logo que pude pedi de presente um vídeo game. Ganhei de minha avó um Nintendo. O que havia de mais moderno na época. Adorava Mário e Mário Kart. Mas me encantei mesmo por Sonic, o que me fez vender meu Nintendo, para comprar um Mega Drive, da Sega.

No mundo Sega, entrei em contato com a série FIFA Soccer, que me absorveu de uma maneira absurda. Foram cartuchos e cartuchos comprados, todo ano havia uma nova edição. Sabia exatamente de que posição do campo chutar a bola. Se chutasse do local exato, era gol na certa, não tinha erro.

Cheguei ao ponto em que jogar contra a máquina ficou fácil, perdeu a graça, então passei a buscar adversários reais. Barganhava com a minha irmã fazer algo que ela gostasse em troca de tê-la como adversária em algumas partidas de FIFA. Às vezes um dos meus primos passava a tarde em casa de bicicleta para jogarmos, ou então marcava com amigos.

Mas fato é que com o passar dos anos, prioridades foram surgindo e os games foram ficando de lado. Parei minha trajetória no universo dos jogos eletrônicos no Sega CD, não dei o passo seguinte rumo ao Play Station e tudo que ele oferece.

Mas a vida dá voltas, anos mais tarde, já na vida adulta e com filhos, por obra do destino, fui reinserido no ambiente dos games. Uma oportunidade de trabalhar com entretenimento. Adorei. Mergulhei de cabeça.

Agora o jogo (na sua maior parte) não é via consoles, e sim online. Mas o pano de fundo, de muitos, segue sendo o mesmo: os esportes. O futebol do FIFA Soccer que tanto me cativou, se faz presente no meu dia a dia, hoje é o carro-chefe do fantasy no Brasil. Me pego, anos depois, de volta ao mundo dos games. A vida é mesmo curiosa.

Esse vai e vem da vida, me leva a pensar sobre o tempo. O pouco tempo que demorou para a indústria de games se revolucionar e expandir. O pouco tempo que levou para mostrar que o jogo eletrônico deixou de ser só puro entretenimento e se tornou oportunidade de trabalho para o jovem.

O pouco tempo que os jogos levaram para mostrar que experiências reais podem ser gamificadas. O ensino por meio de jogos aumenta o nível de aprendizado, um tratamento com suporte em jogos aumenta as chances de recuperação dos pacientes, treinamentos com veículos ou máquinas podem ser feitos de forma mais segura no ambiente virtual.

Em pouco tempo muito mudou na vida de quem gosta e vive dos games.

O público dos jogos eletrônicos se acostumou com a rapidez e a fluidez do setor. Se habituou em pouco tempo, a alcançar metas e a resolver grandes desafios.

Mas agora, para os jovens que naturalmente anseiam resultados imediatos, seja pela experiência anterior de rápida evolução dos games, seja pela ansiedade própria da idade, o tempo parece pregar uma peça.

Está em trâmite no Congresso Nacional um projeto de lei que se propõe a regular o setor de jogos eletrônicos (PL 2796/21), acenando com grandes oportunidades, como a qualificação de mão obra para a indústria, ou então uma expansão do mercado com a atração de novos investimentos que devem vir diante da existência de segurança jurídica, própria de um mercado regulado.

Dados indicam que o mercado de games no Brasil pode saltar de US$ 12 bilhões para US$ 30 bilhões com a regulação. E que pode passar dos cerca de 12.000 empregos para mais de 30.000, em uma indústria extremamente apelativa ao público jovem, muitas vezes carente de oportunidades.

O projeto de lei que cria o Marco Legal dos Games e traz condições para o crescimento do setor no Brasil é de 2021. Já estamos em 2023, ou seja, dois anos se passaram e ele ainda não foi aprovado no Congresso.

É, realmente, o tempo parece, às vezes, pregar peças. De um lado, parece ter voado em termos de evolução das tecnologias disponíveis no mundo. De outro, parece andar a passos curtos quando se trata da aprovação de uma lei para impulsionar a indústria brasileira, ainda que, em se falando de processo legislativo, dois anos para uma aprovação não seja considerado tanto tempo assim.

Tempo, tempo, tempo, você é no mínimo curioso. Mas inegavelmente um bom professor, pois ensina que na vida as coisas não acontecem no nosso ritmo, e sim no ritmo delas. A tecnologia anda acelerada, a política no seu próprio compasso.

Crédito imagem: Divulgação/Lego

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