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Para aquele que nunca caiu

É difícil escrever uma homenagem adequada a um grande lutador cujos feitos se deram muitos anos antes deste autor sequer ter nascido. Ser apenas um praticante, estudioso e apreciador dos esportes de combate não me confere autoridade para me manifestar sem ter presenciado um ídolo no auge ao vivo. No entanto, alguma forma de apreciação é deveras necessária. Não se perde uma lenda sem prestar-se o devido tributo.

Eder é universalmente reconhecido como o maior boxeador brasileiro já produzido e era conhecido como “O Galo de Ouro” por sua esplêndida técnica, suprema inteligência de movimentação e poder de nocaute em cada punho.

Apesar de ser um peso galo, ele era considerado o melhor lutador de boxe durante seu auge no início dos anos 60, isso em meio a era “Ali”.

Depois de participar dos Jogos Olímpicos de 1956 na Austrália, onde chegou às quartas-de-final, Jofre começou sua carreira lendária no esporte profissional em 23 de março de 1957 com um KO de Raul Lopez depois de cinco rounds.

Em toda sua carreira, Jofre só foi ao solo uma vez durante um knockdown aplicado por José Smecca no primeiro round. Eder levantou-se e, com pura vontade e paciência, desgastou Smecca para derrubá-lo no sétimo giro.

Subindo nas fileiras, ele nocauteou Jose Medel no décimo round de uma verdadeira guerra, tornando-se o campeão peso galo da WBA com um nocaute de Eloy Sanchez, se firmando campeão indiscutível com uma série de defesas de seu título de 1960 a 1965.

Em 1965, Jofre perdeu uma decisão próxima e discutível para Fighting Harada, isto no Japão, perdendo novamente na revanche, através de uma decisão mais ampla. Harada foi o único homem a derrotar Jofre.

Jofre se aposentou por três anos, antes de voltar em 1969. Surpreendentemente, aos 37 anos de idade, Eder ganhou o título de peso pluma do WBC em 1973, quando derrotou Jose Legra.

Jofre continuou a manter o título com uma vitória sobre Vicente Saldivar, sua única defesa de título, lutando em mais sete oportunidades, todas vitórias, aposentando-se com um excelente recorde de 72-2-4(50) no final de 1976.

Antes de sua morte, Jofre foi o campeão mundial mais velho vivo. Mais de quatro décadas após sua luta final, o brilhantismo de Jofre permanece indiscutível. A The Ring o classificou em 85º lugar em sua lista dos 100 melhores lutadores de boxe e 19º na lista dos “80 melhores lutadores dos últimos 80 anos” em 2002.

Ele foi eleito para o Hall Internacional da Fama do Boxe em 1992 (onde fez uma luta de exibição contra a lenda Alexis Arguello), assim como para o Hall da Fama do Boxe Mundial e o Hall da Fama do Boxe da Costa Oeste. Como amador, Eder Jofre defendeu o São Paulo Futebol Clube, clube pelo qual seguiu torcendo até o fim de seus dias.

Eder sofria de encefalopatia traumática crônica (ETC), doença popularmente conhecida como “demência pugilística”, diagnosticada em 2015. Desde a década de 1920, sabe-se que o trauma repetitivo cerebral associado ao boxe pode produzir uma deterioração neurológica progressiva.

A encefalopatia traumática crônica é uma condição cerebral progressiva causada por repetidos golpes na cabeça e repetidos episódios de concussão. Ela está particularmente associada aos esportes de contato, como o boxe ou o futebol americano. A maioria dos estudos disponíveis é baseada em ex-atletas.

Relato de casos recentes descreveram atletas anteriormente expostos a traumas repetitivos na cabeça enquanto participavam de esportes de contato que mais tarde na vida desenvolveram distúrbios de humor, dores de cabeça, dificuldades cognitivas, ideação suicida, dificuldades com a fala e comportamento agressivo.

Descobertas pós-morte mostram que alguns destes atletas têm descobertas patológicas que associadas com a ETC. Há, no entanto, alguns atletas que participam de esportes de contato que não desenvolvem os achados atribuídos ao CTE.

A atual falta de dados prospectivos e estudos de caso  devidamente desenhados limita o entendimento atual do CTE, levando ao debate sobre as causas dos achados neuropatológicos e as observações clínicas.

Quando Eder apresentou os primeiros sintomas, chegou, de forma equivocada, a ser diagnosticado como portador do Mal de Alzheimer. Posteriormente ao diagnóstico equivocado, Jofre começou a tratar corretamente a encefalopatia.

O ex-pugilista deixa dois filhos, Marcel e Andrea. Nascido em 26 de março de 1936 em São Paulo, Eder Jofre é um dos poucos campeões de boxe que nunca foi nocauteado.

Descanse em paz, eterno ídolo…

Crédito imagem: Reprodução

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REFERÊNCIAS

SMITH, Christopher. Eder Jofre: Primeiro Campeão Mundial de Boxe do Brasil. 1ª. ed. [S. l.]: Win by Ko Publications, 2022.

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