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Paralisação do futebol brasileiro poderia ter sido evitada se protocolo de ‘bolha’ tivesse sido adotado

A discussão sobre a paralisação ou não do futebol brasileiro parece não ter fim. Diferentes estaduais já foram suspensos após novas medidas sanitárias serem adotadas pelos governos no combate ao aumento exponencial da pandemia de Covid-19 no País. Em São Paulo, a situação é ainda pior e poderá ser definida pela Justiça por conta do impasse entre Federação Paulista de Futebol (FPF), Ministério Público e autoridades paulistas.

O Governo de São Paulo acatou uma recomendação do Ministério Público que pedia pela paralisação de partidas de futebol em todo o Estado. No entanto, a FPF afirma que não vai parar a competição porque não há motivos para tal, apresentando dados estatísticos para sustentar seu posicionamento. A entidade está tentando transferir partidas do Paulistão para outros estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Ambos locais foram negados. A princípio, a partida entre São Bento e Palmeiras, marcada para essa quarta (17), havia sido marcada na Arena Independência, mas acabou sendo cancelada depois que o governo mineiro anunciar a ‘Onda Roxa’, conjunto de medidas mais restritivas, em Minas Gerais. Cada vez mais acuada, a FPF agora corre contra o tempo para encontrar outro lugar para receber as partidas.

Toda essa discussão poderia ter sido evitada se o futebol brasileiro tivesse escolhido outro caminho ao retomar suas atividades em junho do ano passado, após o início da pandemia. Esse caminho seria a adoção do protocolo de “bolhas”, o mesmo utilizado pela NBA, nos Estados Unidos, na última temporada.

Para o advogado Paulo Schmitt, não será possível continuar com as competições sem que seja implementado esse protocolo pelas federações e entidades esportivas.

“A continuidade dos campeonatos depende da formação de bolhas, obviamente com adoção de rígidos protocolos sanitários. Nossos estudos sempre demonstraram os graves riscos do esporte fora da bolha. Então, em momento mais crítico ainda, somente se vislumbra um mínimo de segurança para a atividade caso ocorra a efetiva diminuição de circulação mediante confinamentos, testes e jogos em sedes fixas (bolha). Qualquer outra tentativa de manter a bola rolando, com deslocamentos constantes e desmobilização de elencos com intervalos entre partidas, será altamente arriscado ainda mais nesse momento da pandemia”, ressalta o membro do Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva, da Universidade Federal do Paraná e um dos autores do estudo Esporte Fora da Bolha.

Na última temporada, a NBA adotou a ‘bolha’, uma zona de isolamento em Orlando, Flórida, no Walt Disney World, com regras estritas criadas para proteger os jogadores dos times de sua liga até que a competição seja encerrada. Ao todo, foram investidos um total de US$ 170 milhões (R$ 950 milhões na cotação atual) para que o protocolo fosse mantido por 96 dias (período que os atletas ficaram nos alojamentos), com um total de 347 jogadores testados regularmente, 205 jogos disputados e nenhum caso positivo de Covid-19, mostrando-se totalmente eficaz.

O futebol brasileiro apostou na testagem em larga escala em funcionários e jogadores. Apesar de serem cumpridos pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), os protocolos adotados não se mostraram totalmente seguros. Diferentes clubes sofreram com surtos de Covid-19 em seu ambiente de trabalho. Um dos principais fatores para o contágio se dá pela grande quantidade de viagens e deslocamentos das delegações.

“As constantes viagens aumentam significativamente o nível de exposição e inviabilizam testagem centralizada e outros fatores de planejamento de riscos de infecções. As competições esportivas em ‘bolhas’ ou com deslocamentos controlados nas diversas modalidades se mostram eventos mais eficazes, seguros e menos desequilibrados entre competidores”, afirma Paulo Schmitt em seu estudo.

O Lei em Campo já contou que a ideia de jogar o Campeonato Brasileiro em bolha foi cogitada, mas acabou não avançando depois que nenhuma das partes (jogadores, clubes e a própria entidade) aprovaram a ideia.

Ainda é possível adotar o protocolo da ‘bolha’, não há impedimento na justiça desportiva que impeça isso, mesmo com a competição em questão já ter sido iniciada. No entanto, é necessário a aprovação de todos os clubes que participam do campeonato.

“Nada impende que a bolha seja adotada. Não existe regra desportiva nem estatal que proíba esse protocolo. Isso não tem a ver com regulamento, mas sim com a segurança da competição. Caso seja necessário, poderá ser colocado em prática se for aprovado”, afirma Martinho Miranda, advogado especialista em direito desportivo.

O estudo apresentado por Paulo Schmitt e Marcus Beims busca comprovar, através de fórmulas com tempo de estadia, possibilidade de infecção nos ambientes e voos, como as viagens realizadas pelos clubes que disputam competições nacionais e regionais podem ser um fator determinante para o aumento do número de casos.

“O estudo pretende demonstrar como a constância de viagens entre capitais, tem relação direta com a probabilidade de aumento significativo de infecção pelo coronavírus e o seu impacto esportivo. O Brasil entra em um perigoso cenário de provável segunda onda e expectativa de vacinação, mas a pandemia está longe de acabar. O aumento de chance de contágio chegou a 65% na Superliga Feminina de Vôlei em novembro, e a elevados 75% de crescimento de risco no Brasileirão de futebol em dezembro”, detalha Schmitt.

“Os estudos constantes das recomendações do esporte frente a Covid-19 e os Boletins e artigos fazem o alerta de risco desde o início da pandemia. A conta está chegando, com as inúmeras infecções e as primeiras mortes já registradas. Escolhas e consequências”, finaliza Schmitt.

Nesta terça-feira (16), o Brasil passou de 280 mil mortes pela Covid-19. O país confirmou um novo recorde desde o início da pandemia, 2.841 óbitos em 24 horas, média de 1.976 óbitos por dia nos últimos 7 dias.

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