Em fevereiro deste ano, quatro ex-diretores da Hypera Pharma (ex-Hypermarcas) foram denunciados pelo Ministério Público Federal. Entre eles, o presidente João Alves de Queiroz Filho. Todos são acusados de formação e participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva.
A ação não teve andamento desde então. O juiz ainda não recebeu a denúncia. Mas, independentemente disso, “não há problema em um acordo entre a empresa e o Corinthians. A pessoa jurídica não responde por crime, só a pessoa física”, explica o advogado criminalista, João Paulo Martinelli.
A ação penal é resultado de investigações da Lava-Jato, realizadas a partir do acordo de colaboração firmado com Nelson José de Mello. O ex-diretor de relações institucionais da Hypermarcas apresentou provas sobre esquema de favorecimento à empresa no Senado Federal, entre 2013 e 2015.
“O Corinthians agora tem um sócio não idôneo. O clube, com todos os problemas de credibilidade que já tem, agora tem negócio com uma empresa denunciada pelo Ministério Público Federal e com presidente destituído do cargo por suspeita de compra de votos no Congresso Nacional”, alerta Amir Somoggi, especialista em gestão.
A Hypera Pharma fechou parceria com o Corinthians, que inclui o naming rights do estádio, além de ativações, promoções e experiências para o torcedor, não apenas em dias de jogos. O valor de contrato é de 300 milhões de reais, pagos em 20 anos.
A expectativa inicial era de que a parceria rendesse bem mais. “Eu falei em 400 milhões de reais por causa da dívida com a Caixa. Recentemente contratamos a Ibope Repucom (que analisa retorno de visibilidade dos patrocinadores) e fizemos o levantamento de todas as propriedades que tínhamos na arena. Foi um trabalho muito árduo e completamos a primeira fase com sucesso”, declarou o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, em coletiva na tarde desta terça-feira (1).
“Os negócios valem o que alguém está disposto a pagar. Num contrato longo me parece um bom número. A dificuldade da venda vinha desde antes da pandemia. Fechar neste momento parece bom, e os valores são os possíveis. Não há um mercado que balize esses valores”, pondera o analista financeiro César Grafietti.
O naming rights ajuda, mas não quita a dívida da arena, que tem custo inicial calculado em 1,15 bilhão de reais, dividido entre três credores: a Caixa, um fundo imobiliário e a construtora Odebrecht. “O dinheiro vai 100% para abater a dívida com a Caixa. O torcedor pode ficar tranquilo, porque a renegociação com o banco vai acontecer nos próximos dias”, informou Andrés Sanchez.
“A arena faturava o valor suficiente para pagar o débito com a Caixa, mas, às vezes, não. E aí incindiam as multas previstas, que são o motivo de divergência entre o banco e o clube. Com o contrato com a Hypera Pharma, o Corinthians tem saúde financeira para conseguir acordo e pagar efetivamente”, analisa Fábio Trubilhano, diretor de negócios jurídicos do clube.
A Caixa entende que o Corinthians deve 532 milhões e moveu processo de execução. Já o Timão entende que o valor correto é de 450 milhões e, por isso, entrou com embargo. Os dois processos estão suspensos desde outubro por causa do diálogo entre as partes. Também há dúvidas em relação ao custo atual das dívidas com a construtora e com o fundo imobiliário.
Sobre as garantias para o recebimento integral do valor pelo naming rights, Fabio Trubilhano esclareceu que “em caso de rescisão sem justa causa, o acordo prevê multa escalonada, conforme cumprimento do contrato. Mas que a proposta de ambos é cumprir os 20 anos”.
“O lucro da Hypera Pharma despencou em 2020. A situação não é boa. Quem gastaria 300 milhões de reais em um clube mal administrado? É muito ruim para o clube neste momento, em época eleitoral. Agora o Corinthians está amarrado a um empresa envolvida com o que há de mais grave em termos de denúncias do MPF”, avalia Amir Somoggi.
“Chamamos isso de apetite de risco. Quando é feita a análise dos prós e contras, o gestor tem que estar preparado para os problemas que possam acontecer. Com isso, ao optar por correr esse risco de reputação, o clube já precisa se preparar, se blindar para as consequências da sua escolha. Se houve a devida diligência quanto a situação da empresa patrocinadora, o clube já deveria saber dessas condições negativas e assumiu o risco”, finaliza Nilo Patussi, advogado especialista em governança e compliance.
Crédito para a foto: @jp_drone
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