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Polêmicas do fim de semana: árbitro precisa conhecer e entender o futebol

As regras do futebol foram feitas para tornar a prática da modalidade segura, igualitária e divertida, buscando tornar o esporte cada vez mais dinâmico e atrativo. Mas será que levam em consideração a visão dos principais protagonistas – jogadores e goleiros?

A regra do impedimento é uma das mais complexas, e em alguns pontos também cabe interpretação. No Beira Rio, Internacional x Cruzeiro fizeram uma partida com quatro gols, mas o gol da Raposa gerou polêmica. No começo do Brasileirão, o Fluminense também teve um gol anulado muito discutido contra o Goiás.

A regra do impedimento diz que um jogador deve ser punido por estar em posição somente quando participar de jogo ativo: interferindo no jogo ou interferindo no adversário ou ganhando vantagem.

“Interferindo em um adversário de uma das seguintes maneiras:  impedindo um adversário de jogar ou de poder jogar a bola ao obstruir claramente sua linha de visão; ou disputando a bola com o adversário; ou tentando claramente jogar a bola que se encontre próxima de si e quando essa ação causar impacto no adversário; ou praticando uma ação óbvia que tenha impacto claro na possibilidade de o adversário jogar a bola.”

No gol do Cruzeiro, o atacante Fred não toca na bola, mas há disputa com o defensor, e essa atitude pode retardar a ação do goleiro. Na sequência, Dedé marca o gol.

No gol do Fluminense anulado, o goleiro não tem a visão bloqueada no momento do chute; a bola, em sua trajetória, passa por trás do atacante em posição de impedimento e entra na meta.

 

 

Em lances como esse do Fluminense, o árbitro assistente normalmente não consegue definir se há interferência ou não, passando ao árbitro a informação de que há um jogador em posição de impedimento, e este, então, com um ângulo melhor de visão, conclui se há ou não interferência no adversário (lembrando que no Brasileirão tem o VAR, e todo gol é revisado sempre).

Em um jogo da Copa do Brasil em 2017, o Corinthians teve um gol validado no qual o atacante Jô, em posição de impedimento, bloqueia a visão do goleiro na saída da bola. Dessa forma, o gol não deveria ter sido validado.

Mas os árbitros têm conhecimentos suficientes para saber quando há interferência no adversário? Como os árbitros sabem se um atacante em posição de impedimento realmente interferiu ou não na ação do goleiro?

Rafael Kiyasu, que é treinador de goleiros do Santos, professor na área e um dos mais bem-conceituados do Brasil, traz alguns conceitos para ajudar a entender as ações do atacante que podem interferir na defesa do goleiro:

“Para realizar uma defesa bem-sucedida, o goleiro necessita de uma ótima velocidade de reação. A velocidade de reação é expressa pelo tempo de reação, que é o tempo entre um sinal até um movimento muscular solicitado (Steinbach, 1966). Nesse tempo, importa a captação do estímulo pelos órgãos sensoriais, a condução para os locais de percepção central e os impulsos até o estímulo no músculo, onde há a representação do movimento (memória motora). Há uma confusão entre reflexo e reação. Reflexo é uma ação involuntária que ocorre abaixo do nível consciente e não está sob o controle da pessoa. A reação, por outro lado, é uma ação consciente, voluntária e sob controle da pessoa. Em suas ações no jogo de futebol, durante um remate ao gol, o goleiro precisa, inicialmente, ver a bola, calcular a direção (trajetória e altura; bola rasteira, meia altura ou alta) e a velocidade do voo, escolher a ação e realizar o plano de interceptação”.

Um detalhe importante é que os atletas de alto rendimento reagem não apenas à trajetória da bola, mas também às ações preparatórias dos jogadores que precedem a finalização.

Outro detalhe importante é que a atenção e concentração despendidas no momento são de vital importância para a velocidade de suas ações, e qualquer desvio de atenção pode interferir na precisão da ação do goleiro.

Movimentos prévios do atacante impedido agiriam sobre o sistema perceptivo e sobre os mecanismos de antecipação do goleiro, o que faria com que ele desviasse sua atenção para o jogador impedido e preparasse seu movimento para reagir a esse jogador que disputa a bola, e não referente ao jogador que faz o gol, como no lance de Fred.

Em jogadores altamente qualificados, o processamento visual do estímulo dinâmico é muito bem desenvolvido: a direção da bola e sua velocidade podem ser determinadas em um curto espaço de tempo, para interceptar a bola no momento certo.

O jogador expert não acompanha o voo da bola até o final com os olhos (Oehensen, 1987) – caso do gol do Fluminense; o goleiro não necessita ver a trajetória toda da bola. Porém, a eficiência depende do reconhecimento rápido da bola e seus movimentos, principalmente no momento exato de sua saída do pé, ou cabeça do atacante; a saída e seus primeiros metros são essenciais para o goleiro perceber e processar todas as informações referentes à velocidade e trajetória da bola.

Bloquear a visão de goleiro de modo em que ele perca a saída e os primeiros metros da bola são momentos decisivos para o goleiro decidir seu movimento trajetória e plano de ação para a defesa (lance Jô).

O árbitro se baseia na regra, mas é preciso ir além, conhecer e entender de futebol para apitar um jogo.

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