Como o escreveu Nelson Mandela, o esporte tem “o poder de mover o mundo”. E dessa capacidade que os esportes de massa têm de mobilização, a política ESG pode ser beneficiada. Antes tarde do que mais tarde, a comunidade esportiva se deu conta de que investir em governança, proteção ambiental e responsabilidade social é um compromisso do esporte, mas também pode ser ferramenta de captação de recursos.
No livro Uma Breve História Sobre a Igualdade, o economista francês Thomas Piketty apresenta uma história breve mas surpreendentemente otimista do caminho da humanidade rumo à igualdade, apesar de todas as crises, catástrofes e retrocessos. Seguindo nessa linha, aproveito para tentar trazer uma mensagem de esperança para o esporte sobre conformidade, meio-ambiente e direitos humanos.
Neste ano, o Brasil teve um Campeonato Estadual de futebol profissional cuja temática foi a proteção do meio ambiente. A Federação Paraense de Futebol criou o Parazão Sustentável, já na esteira da COP30. No ano passado, a temática foi a proteção de direitos humanos. Mandou mensagem importante, atraiu investidores e fez um campeonato histórico. Deu exemplo.
Mas não é só isso. A CBF fez recentemente um evento para discutir a proteção de direitos humanos no esporte, a FIFA criou um Summit sobre compliance no futebol.
O COI e a própria FIFA criaram nos últimos anos normas de elegibilidade para candidatura de países-sede para Olimpíada e Copa com regras de governança e respeito a direitos humanos.
A SIGA, entidade Global que trabalha com integridade no esporte, tem fechado cada vez mais convênios com entidades esportivas no Brasil e fora daqui. Particularmente, tenho sentido esse avanço, cada vez mais tenho participado de eventos sobre compliance e direitos humanos em ambiente esportivo.
Ou seja, a política ESG já é uma realidade no esporte.
A política ESG
O esporte precisa entender e aproveitar grandes eventos como catalisadores da agenda ESG. Ele pode ser um aliado fundamental para dimuir a crise ambiental, a discriminação e aumentar a diversidade, equidade e inclusão não só no esporte, como na sociedade.
A desigualdade no esporte tende a ser mitigada quando há uma pluralidade de vozes para opinar, sugerir caminhos que levem à justiça de gênero e mais inclusão de grupos sub-representados.
A gente sempre lembra e traz por aqui exemplos de como o esporte avanca e a sociedade segue atrás. Só para lembrar que a primeira edição dos Jogos Olímpicos modernos foi em 1896 e seu criador, o Barão de Coubertin, promoveu a exclusão feminina, ao dizer que as Olimpíadas com mulheres seriam “desinteressantes, antiestéticas e impróprias”.
Quatro anos depois, ainda em 1900, as atletas vieram a competir oficialmente, nos Jogos de Paris. Uma conquista que levou a outras na sociedade nos anos seguintes.
A despeito de um passado restritivo, muitas experiências positivas no âmbito do pilar “S” vêm surgindo em megaeventos esportivos, caso da Olimpíada de Tóquio (2021), que conseguiu ser neutra em termos de gênero.
Apesar do retrocesso no “Caso Semenya”, o esporte já avançou em regras de elegibilidade a respeito de transgêneros, tem reforçado em regulamentos privados compromisso com direitos humanos e incentivado a maior participação feminina não só em esportes, mas em quadros diretivos.
No Brasil, a nova Lei Geral do Esporte (Lei 14.597, de 14 de junho de 2023) traz diretamente em seus dispositivos os comandos de democratização, educação, inclusão e participação como princípios fundamentais, dentre outros (art. 2º), e acena para uma proximidade dos pilares ESG.
Inclusive, quanto à participação da mulher no esporte, é expresso a mulher, em qualquer idade, deve ter oportunidades iguais de participar em todos os níveis e em todas as funções de direção, de supervisão e de decisão na educação física, na atividade física e no esporte, para fins recreativos, para a promoção da saúde ou para o alto rendimento esportivo (art. 3o. § 3º).
Novos tempos?
Quem sabe. Estamos avançando. O esporte começou a se dar conta que a política ESG não é apenas um compromisso moral, mas pode se tornar uma estratégia eficiente de negócio.
As medidas tomadas para escolhas das sedes de grandes eventos esportivos decorrem também de recomendações constantes em suas novas políticas e regramentos internos. Isso mostra uma resposta efetiva do movimento esportivo às críticas que sofreu relacionadas a questões como sustentabilidade, transparência, gestão e respeito aos direitos humanos.
Os ventos que se replicam, a pressão para que FIFA, CBF e COI se engajem em movimentos sociais e o campeonato paraense são exemplos recentes para ganhar esperança. Se a conquista jurídica ainda não alcançou a necessária conquista emancipatória, é inegável que já avançamos.
Para seguir em frente o desafio é bem claro, tornar o discurso institucional prática efetiva, de conformidade e de proteção de direitos humanos. No esporte e na vida. Afinal, Mandela tinha razão.
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