A partida entre Atlético-MG e Boca Juniors foi marcada por muita confusão após o apito final, e parece que ainda haverá mais desdobramentos. Isso por que os argentinos ainda não aceitaram a desclassificação e estudam apresentar um ofício pedindo a eliminação do Galo da Libertadores. A informação foi revelada pelo jornalista Germán García Grova, da ‘TyC Sports’.
Para saber se há alguma possibilidade disso acontecer, o Lei em Campo ouviu especialistas:
“De fato, o Código Disciplinar da Conmebol prevê a eliminação da competição como uma das sanções possíveis em caso de ocorrência de qualquer infração punível. Mas estamos falando de uma punição extremamente gravosa, que causa um prejuízo enorme à própria competição desportiva. Por lógica, só se aplica uma punição assim quando a infração foi comprovadamente mais grave que as consequências da própria sanção. Não me parece ser o caso, já que os meios razoáveis para evitar o ocorrido e para conter a confusão foram providenciados pelo Atlético-MG (clube mandante), especialmente no que se refere à segurança”, avalia Fernanda Soares, advogada especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.
“Não consigo enxergar fundamento jurídico para a eliminação do Atlético-MG, uma vez que o tumulto não foi causado pela torcida ou pelo clube do Atlético-MG. A previsão que tem no regulamento da Conmebol é possibilidade de eliminação em razão de atos da torcida, como aconteceu naquele River x Boca, em 2018”, afirma Gustavo Lopes, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.
“Pelas imagens que circulam nas redes sociais e pelo conteúdo do Boletim de Ocorrência, há fortes indícios de que o Boca Juniors (clube visitante) tenha sido o responsável pela escalada do conflito. Não parece ser razoável que o Atlético-MG sofra uma sanção tão pesada por atos de terceiros”, completa Fernanda.
Ainda segundo o repórter, há uma informação ‘em off’, de dentro da Conmebol, de que o Atlético-MG não poderá ter o Estádio do Mineirão como casa na próxima fase da competição, quartas de final, por não ter controlado de forma mais eficaz a confusão causada pelos jogadores argentinos, uma vez que essa seria de responsabilidade da equipe mandante da partida.
“Já esse pleito (perda de mando de campo) me parece mais razoável. Apesar da confusão ter sido causada pelo próprio Boca, de fato o Atlético-MG ou organização da partida não conseguiu conter a briga, tornando-se generalizada. Ou seja, a estrutura disponibilizada pelo mandante não foi adequada para conter o tumulto. Por outro lado, tudo foi iniciado pelo clube visitante, logo se for haver qualquer tipo de punição, ela tem que ser dúplice”, analisou Gustavo.
Essa possível sanção estaria baseada na mesma aplicada ao River Plate, na final da Libertadores de 2018, quando torcedores arremessaram objetos em direção ao ônibus do Boca Juniors no lado de fora do Estádio Monumental de Núñez. Na ocasião, os ‘Millonarios’ tentaram recorrer da punição, afirmando que ação fugiu do controle do clube, mas não teve sucesso e a finalíssima foi transferida para o Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid, na Espanha.
Início da confusão
Tudo começou após a vitória do Atlético-MG, nos pênaltis, sobre o Boca Juniors, pelas oitavas de final da Libertadores. No caminho para o vestiário, os jogadores do time argentino entraram em confronto com seguranças do clube mineiro e do estádio. A partir daí uma briga generalizada se estendeu nos corredores. Em imagens que circulam nas redes sociais, os xeneizes arremessaram diversos objetos e tentaram invadir o vestiário em que estava o Galo.
Para tentar acabar com a confusão, a Polícia Militar usou spray de pimenta contra os jogadores e membros do Boca Juniors. Alguns atletas do time argentino se sentiram mal com o gás e foram flagrados retornando ao gramado do estádio.
Delegacia e Boletim de Ocorrência
A delegação do Boca Juniors ficou pouco mais de 12 horas prestando depoimento para a Polícia Civil de Minas Gerais. O clube argentino teve que pagar uma fiança de R$ 3 mil para dois integrantes da delegação serem liberados, e ninguém acabou detido.
Segundo as informações da Polícia Civil, sete integrantes da delegação do Boca Juniors foram identificados como protagonistas da confusão.
“Foram fichados por lesão corporal: os atletas Marcos Rojo, Diego González, Carlos Zambrano e o dirigente Raul Cascini. Já Cristian Pavón, Sebástian Villa e Norberto Briasco foram identificados por dano ao patrimônio do Mineirão”, detalhou.
Na manhã desta quarta-feira, o Lei em Campo teve acesso ao Boletim de Ocorrências da polícia mineira em que descreve o que cada membro do clube argentino fez:
– Villa e Pavón arremessaram bebedouro em seguranças e funcionários;
– Gonzales e Rojo agrediram seguranças e funcionários;
– Rojo pegou extintor de incêndio;
– Briasco tentou agredir com barra de ferro; e
– Zambrano cuspiu na polícia
Posicionamento dos clubes
Em nota publicada na noite desta terça, o Atlético-MG disse que houve pessoas feridas na confusão, mas sem gravidade. Segundo o clube, a revolta do Boca Juniors, inicialmente, era contra a arbitragem pela anulação de um gol e depois se virou contra seguranças e membros da equipe brasileira.
“Seguranças do Galo e Mineirão tentaram, sem sucesso, contê-los. Os argentinos decidiram, então, invadir o vestiário do Galo, onde estavam jogadores, comissão e diretoria. Até o presidente Sérgio Coelho tentou impedir a invasão para proteger os profissionais do Atlético”, escreveu o Atlético-MG em seu Twitter.
Pelo lado do Boca Juniors, o segundo vice-presidente do clube, Juan Román Riquelme, reclamou da arbitragem em entrevista ao ‘TyC Sports’.
“O que está acontecendo é lamentável. É vergonhoso. Podemos jogar o dia todo que, se assinalarem nossos gols, não vamos passar. Não dois deixaram avançar, essa é a verdade. E agora querem prender algum jogador”, disse o ex-jogador.
Uma entrevista coletiva do diretor executivo do Atlético-MG, Rodrigo Caetano, será realizada às 15h (de Brasília) para falar sobre questões relacionadas ao tumulto.
Crédito imagem: Reprodução
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