Os pilotos estão “preocupados” com a decisão da FIA de proibir declarações políticas. Como a gente já comentou por aqui, o órgão regulador do automobilismo mundial atualizou suas regras para impedir que comentários “políticos, religiosos ou pessoais” sejam feitos sem aprovação prévia. Uma decisão que pode ser usada para silenciar a necessária proteção de direitos humanos dentro da principal categoria do automobilismo mundial.
O piloto Alex Albon disse ao “The Guardian”: “Estamos todos preocupados. Sabemos que a política e as posições são áreas sensíveis, mas precisamos de clareza da FIA sobre o que eles estão tentando nos dizer.”
Para Valtteri Bottas, piloto da Alfa Romeo, a medida é uma tentativa de controle. “Não entendo por que eles querem nos controlar. Acho que deveríamos ter o direito de falar sobre o que quisermos. É assim que enxergo, mas vamos ver o que acontece”, declarou o finlandês em entrevista ao jornal sueco Expressen.
O que diz a regra
Neste ano, o órgão regulador da F1 atualizou suas regras para impedir que comentários “políticos, religiosos ou pessoais” sejam feitos sem aprovação prévia, um cerceamento à liberdade de expressão protegida universalmente e um freio à necessária proteção de direitos humanos.
O artigo 12.2.1 do Código Esportivo Internacional afirma que violará as regras “a realização e exibição geral de declarações ou comentários políticos, religiosos e pessoais que estejam claramente violando o princípio geral de neutralidade promovido pela FIA em seus estatutos, a menos que previamente aprovados por escrito pela FIA para competições internacionais ou pela ASN (Autoridade Esportiva Nacional), para competições internacionais dentro da sua jurisdição”.
A regra é válida para todas as categorias que são homologadas pela FIA, incluindo a Fórmula 1. Agora, a entidade quer ter ciência do que determinado piloto ou equipe pretende pintar em capacetes, carros e até camisetas para, então, emitir uma aprovação oficial por escrito.
Esporte e direitos humanos
Historicamente as entidades esportivas se apegam ao princípio da “neutralidade” esportiva. Uma ideia utópica de manter o esporte longe do ambiente político e concentrado no desempenho esportivo.
Exemplos não faltam para mostrar o quanto esse princípio está longe da realidade. O esporte carrega na sua essência manifestações políticas, como da igualdade e do respeito ao próximo. Esporte agrega, não segrega. Qualquer manifestação que venha na proteção dessa essência, reforçada por direitos universais, seria um erro.
A decisão recente ataca dois direitos fundamentais.
Ela ataca a liberdade de expressão e inibe a proteção de direitos humanos pelos atletas. Com medo da força coercitiva do regulamento, eles podem silenciar na luta por direitos universalmente protegidos.
Aqui, um aparente confronte entre a autonomia e o poder de estabelecer regras privadas e a necessidade social de permitir que atletas se engajem dando visibilidade a proteção da igualdade e ao combate à discriminação.
Quando o esporte e as entidades esportivas declaram em estatutos e regramentos internos que abraçam direitos humanos, o princípio da “neutralidade” não parece ser o caminho correto para o frear esse movimento de pilotos protegendo a essência do esporte e de direitos.
A campanha da FIA e dos pilotos
A controversa repressão da FIA ocorre depois que pilotos – incluindo o heptacampeão mundial Lewis Hamilton e o recém-aposentado Sebastian Vettel – se manifestaram sobre questões como racismo, diversidade e meio ambiente nas últimas temporadas.
Pressionada, em 2020, a F1 lançou a campanha We Race as One para combater a desigualdade e aumentar a sustentabilidade. Com a resolução desta temporada, dá passos para trás no movimento que abraçou.
Albion resumiu o sentimento dos pilotos: “Somos muito a favor do We Race as One [iniciativa], e parece que a FIA está se afastando disso….. Muitas pessoas olham para nós como porta-vozes de problemas em todo o mundo, e eu sinto que é uma responsabilidade dos pilotos conscientizar as pessoas sobre esse tipo de situação.”
Um resumo claro de uma ideia que não pode ser esquecida jamais. O esporte tem os direitos humanos como elemento intrínseco e os pilotos podem e devem ser porta-vozes dessa luta para o bem do esporte e da vida em sociedade.
Crédito imagem: Getty Images
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