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Quando o fato de tomar remédio se torna antiético

Na segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020, o programa de jornalismo investigativo Panorama, da BBC, foi ao ar com uma reportagem questionando o relacionamento entre o atleta de track britânico mais bem sucedido da história, Sir Mo Farah, e seu treinador, Alberto Salazar. A reportagem caiu como uma bomba!

Ano passado a United States Anti-Doping Agency (USADA) baniu Salazar por quatro anos depois que a investigação da agência encontrou indícios de que o treinador (i) traficou testosterona, (ii) administrou substâncias proibidas a atletas (L-carnitina) e (iii) adulterou controles de antidoping, enquanto dirigia o prestigioso programa de corridas de longa distância intitulado Nike Oregon Project (programa para atletas de elite como o Sir Mo Farah). A punição de Salazar também foi estendida ao médico Jeffrey Brown, que o auxiliava com o programa.

A atual punição se deve ao fato de que em 2015 um grupo de atletas revelou ao programa Panorama o cotidiano do Oregon Project, uma cultura de uso de medicamentos para melhorar a performance dos integrantes. Naquela ocasião o Panorama divulgou evidência de que Salazar violava regras antidoping. A repercussão da punição ganha cada vez mais comoção uma vez que inúmeros atletas (atuais e ex) integrantes do Oregon Project se pronunciam a respeito das questionáveis práticas médicas do projeto. Segundo atletas, a cultura era de total obediência a Salazar. Do contrário, estariam fora do projeto. Atletas revelam como Salazar influenciou negativamente a vida dos atletas, até mesmo fora das pistas.

O questionamento levantado pelo Panorama na segunda-feira, foi a respeito de quão cegamente Farah seguia as orientações de Salazar. Será que Farah também se utilizou de doping para atingir seu auge? Segundo Panorama, documentos comprovam que Farah negou ter injetado L-carnitina antes da maratona de Londres em 2014 quando interrogado pelos investigadores da USADA na ocasião. Porém, depois mudou sua declaração dizendo que havia se esquecido de que havia sim, recebido injeções da substância. Enquanto L-carnitina não é substância proibida para a prática de esportes, o seu uso é controlado por uma dosagem máxima permitida. Acima de 13,5 ml a substância passa a ser considerada como doping. A equipe de Farah não tem documentação comprovando de que a quantidade foi abaixo da proibição. As investigações não devem parar. Com os jogos Olímpicos nos próximos meses, os holofotes estarão ainda mais voltados para Farah já que ele defenderá seus vários títulos.

O que nos assusta é a utilização (cada vez mais aceita) de medicamentos para a prática profissional de esporte. Como é possível ser um atleta profissional e não utilizar medicamento? Permitir alguns, controlar o uso de vários e proibir muitos nos parece trabalho com garantias impossíveis para as agências antidoping. Será que o uso de qualquer medicamento que seja já não configura uma vantagem sobre os demais competidores? Não seria este ato, o de usar medicamento (qualquer que seja), antiético?

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