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Quando um não quer, dois não jogam

Uma vez tentaram contar – como se isso fosse possível – quantas pessoas jogam futebol por aí afora. Coisa da FIFA. Como quem quer saber quantos jogam o seu jogo. Segundo os cálculos (que eu estaria mentindo se dissesse que sei como foram feitos), chegaram a um escandaloso relatório. Um não. Vários. O primeiro, dizia que entre ingleses, russos, sauditas, sul-americanos e tantos quantos sejam aqueles que dividem irmãmente as faixas de terra desse mundo, somam 1,5 bilhão aqueles que tenham encontrado em algum momento de suas vidas uma bola pra tocar de maneira razoavelmente formal, conforme a padronização de regras da modalidade.

Mais espantoso que esse dado, achei os anexos dotados (ao menos pra mim) de igual importância: porque somos 1,5 bilhão de praticantes, isso significa que temos também 50 milhões de juízes, e igual quantidade de bolas e campos (aqui, leia-se qualquer espaço de chão demarcado entre duas balizas).

Por falar em campos, as linhas brancas somariam cerca de 25 milhões de quilômetros, caso fossem enfileiradas em uma única reta. O suficiente para circular a terra por mais de mil vezes.

Por que eu estou falando disso? Porque em cada um desses microuniversos que se constroem onde uma bola rola de pé em pé, um espetáculo de arte e drama une aqueles que jogam, com aqueles que assistem, e até aqueles que não se importam. Uma espécie de relação mítica que alguns juram servir de metáfora pros dilemas da nossa vida.

Explico. Mesmo diante das intensas mutações do jogo desde os primeiros pontapés, aqui e ali algumas características parecem ter sido mais ou menos comuns ao longo dos anos. Elementos que estão enraizados na nossa história, e que ajudaram o esporte a se reinventar, e a se readaptar aos desafios que se apresentaram pra humanidade. Uma delas – e talvez essa seja a mais importante – é sua incrível contribuição na formação dos laços que nos unem, especialmente em tempos difíceis.

A história oficial nem sempre reconhece, mas o futebol se desenvolveu como um elemento importante em cidades, estados e países onde ele foi e continua sendo um símbolo de identidade coletiva. Diria Galeano: diga-me com quem jogas, e eu e direi quem és. Se falávamos de uma metáfora para a vida, o jogo se tornaria uma representação da luta cotidiana, em que o que importa é menos a guerra, e mais aqueles com quem dividimos as trincheiras (ou os vestiários).

Hoje, quando os desafios nos convidam a olhar para o que realmente importa, a verdade é que, pro bom observador, o futebol tem dado aulas de cooperação e de solidariedade desde que alguém cedeu pela primeira vez ao irresistível instinto de chutar um objeto esférico apenas pra observar a sua trajetória. Um curso que começa pelo simples balançar de corpos em que um precisa do movimento do outro pra fazer o espetáculo acontecer.

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