Ele estava indignado. Pela terceira rodada seguida, o VAR havia demorado muito mais do que o razoável pra validar o gol. Oito minutos. Oito minutos! Alguém precisa fazer alguma coisa! Gritava o meu porteiro enquanto eu escapava elevador adentro. Não que eu tenha rendido o assunto (ou pudesse fazer alguma coisa), mas ele tinha razão.
Alguém com tempo calculou, e aferiu um acréscimo de 9 minutos, em média, às partidas. Se tudo isso vai na comanda do Vídeo Árbitro, ele jogou mais do que muita gente. Como tudo o que ainda não deu exatamente certo por aqui, a comparação com o lado de lá é inevitável. Na Liga Inglesa, cada paralisação dura em média menos de um minuto.
Os porquês da diferença ainda estão sendo desvendados. Em uma parte, o protocolo do gol está claro: bola na rede, apito do juiz, mão no ponto eletrônico. A revisão é automática. A partir daí, aqui, a zona é cinzenta. Entramos todos na escuridão absoluta. Entre a curiosidade e a angústia sobre o que acontece nesse espaço misterioso do mundo, ocupado pela cabine do VAR. Local inóspito. Só pra convidados. Onde um minuto vale por três, e as informações que chegam aos mortais ainda são de ouvir dizer, e não exatamente o que se diz. De lá, desse universo paralelo, outros quatro sujeitos vêm e reveem o lance. Vêm e reveem. O lance. Frame a frame. Às vezes, aquilo que nem sempre demanda árdua revisão. Que a bola entrou, ficou claro. E se a posição é legal, os algoritmos vão dizer. Mas, porque a demora? E pra que tanta conversa? Receita de bolo é que não hão de estar trocando.
O fato é que, é o árbitro colocar a mão no ouvido, que até quem viu o lance, bem visto, passa a duvidar dos próprios olhos. Será que foi falta? A posição era legal? Foi falta na origem? No lance anterior? Não, no lance anterior não pode. Ou pode? Angústia absoluta. As regras do futebol se multiplicam em mais possibilidades do que o narrador é capaz de explicar. Por isso, fica em silêncio.
Enquanto isso, o torcedor não se furta do compromisso que leva o décimo segundo jogador ao estádio. Reza. Olha pro árbitro como se pudesse entrar entre os seus ouvidos pra dizer: foi gol. Pelo amor de Deus, foi gol. Bem ou mal, se a persuasão um dia funcionou com o homem no centro do gramado, o mesmo não se pode dizer da cabine secreta. Eles estão lá, blindados.
Com todo esse tempo, os joelhos já se dobram de volta ao assento, a alegria se esvai, e o grito fica murcho. Depois que a tecnologia veio com a verificação obrigatória, até o narrador passou a dar uma segurada de primeira, quando vê o balaço afundar a rede. É preciso esperar. Juiz um, juiz dois, assistente, operador… Imagina se precisasse segurar o grito no gogó até que o braço do árbitro finalmente apontasse pro centro do campo? Penso se vão criar comerciais específicos pra esse momento de ócio. Anúncios de monitores, de relógios. De orações.
Oito minutos depois (segundo repetia incessantemente o indignado da portaria)… Gol! ooooh! O grito do alívio da validação. Um repeteco de comemoração. O momento mais sublime do futebol, agora vem parcelado.