A temporada 2023/24 do Campeonato Espanhol começou na última sexta-feira, 11 de agosto, com as partidas entre Sevilla x Valencia e Almería x Rayo Vallecano. Enfraquecida após a saída de Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar, a liga tenta contornar a imagem negativa deixa pelos recentes e recorrentes casos de racismo ocorridos nos últimos anos, em especial, contra o brasileiro Vini Jr, do Real Madrid.
Nesse sentido, a LaLiga anunciou novas medidas de combate ao racismo para essa temporada. Entre as ações, a principal delas é a criação da ‘LaLiga vs Racism’, um aplicativo que servirá como canal de denúncias de ofensas raciais dentro e fora dos estádios, em tempo real.
“O racismo tem sido há muito tempo uma questão de grande preocupação para nós. A LaLiga vs Racismo nos ajudará a avançar em nossa luta contra o racismo e a intolerância no futebol. Por anos, temos condenado incidentes racistas. A partir desta temporada, agora esperamos abordar o problema de forma mais global, com maior envolvimento de clubes, torcedores, parceiros e, esperamos, instituições espanholas que são chaves”, disse Javier Tebas, presidente da LaLiga.
Outra ação prevê que os capitães de todas os 18 times que disputam a primeira divisão do futebol espanhol usarão braçadeiras customizadas com mensagens de combate à discriminação, algo bastante comum na Premier League (Campeonato Inglês).
Além disso, o torneio terá um manual para o torcedor e outro para o atleta, com informações de combate ao ódio e a violência. Os diretores da competição continuarão a ter áudios captados nas arquibancadas para identificar comportamentos discriminatórios e criminosos.
“A LaLiga ao menos reconhece que existe um problema estrutural. Na minha visão, essas ações me parecem muito pouca efetivas. Entendo que elas tenham um caráter muito mais de ‘salvar’ a imagem da liga do que proporcionar um debate sobre as estruturas do racismo de fato. Não me parece que tenha uma ação de proteção para aqueles que são, foram ou podem vir a ser ofendidos”, avalia a advogada Mônica Sapucaia, especialista em direitos humanos.
Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, entende que as ações serão efetivas se forem aplicadas de fato.
“A criação desse aplicativo para que os torcedores denunciem os casos de racismo é muito importante e necessário. Não basta lançar o aplicativo, é preciso trabalhar nessa questão da educação antirracista para que os torcedores entendam que é preciso denunciar também os torcedores do próprio clube. Um outro ponto que vale ressaltar é essa ligação junto à torcida, principalmente aos mais jovens, de falar sobre racismo e comunicar a importância de combater o racismo”, afirma.
“Se as medidas foram adotadas conforme o pessoal da LaLiga está dizendo, haverá reflexos na prática. Porém, mais do que isso, é necessário trabalhar na educação e conscientização”, acrescenta Marcelo Carvalho.
Em maio, LaLiga viveu seu ponto máximo de tensão com a interrupção da partida entre Valencia e Real Madrid, por conta dos gritos de “macaco” direcionados a Vini Jr. Essa foi a décima denúncia de injúria racial feita pelo jogador brasileiro desde 2021. Após o episódio, três pessoas detidas pela polícia espanhola foram liberadas após pagamento de fiança.
O caso teve desdobramentos ao Valencia, que teve fechamento parcial do setor sul do estádio Mestalla por cinco jogos, além de multa de 45 mil euros. No entanto, após pedido do clube espanhol, uma nova decisão judicial reduziu o gancho para três jogos, e diminuiu a multa para 27 mil euros.
Casos de discriminação racial não são uma novidade no futebol espanhol. Em 2014, um torcedor do Villarreal arremessou uma banana em direção a Daniel Alves, na época jogador do Barcelona. O episódio repercutiu mundialmente e teve desdobramentos. O responsável foi identificado e proibido, permanentemente, de frequentar o estádio do clube.
Crédito imagem: Reuters
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