Ingredientes
Modo de preparo
Receitas de bolo semelhantes a essa de bolo moreno, apareciam com frequência em cadernos de política de jornais de grande circulação no Brasil, na época da ditadura militar. Elas substituíam os textosque eram proibidos pelo governo e serviam como uma forma de protesto contra a censura.
No esporte a situação parece caminhar para a mesma receita, já que a Conmebol utilizou ingredientes muito conhecidos para censurar quem lhe fez críticas.
É que a entidade colocou no “forno” outro Moreno. Suspendeu por uma partida o jogador Marcelo Moreno, da seleção boliviana, pelas críticas feitas em relação à realização da Copa América. Além disso, colocou mais pimenta no tempero, aplicando uma salgada multa de US$ 20 mil.
Como se não bastasse, a Confederaçãoadvertiu expressamente o jogador, alertando que eventuais novas críticas seriam punidas com sanções ainda mais fermentadas.
O bolo, ou melhor, a batata de Moreno começoua assar depois de ele publicar no Instagram a seguinte mensagem, assim que foi diagnosticado com a Covid-19:
“Obrigado a vocês da Conmebol por isso. A culpa é toda de vocês. Se morre uma pessoa, o que vocês vão fazer? Vocês só se importam com o dinheiro. A vida do jogador não vale nada?”
Moreno não está sozinho no cardápio de arbitrariedades. O Técnico Tite também foi punido com multa de US$ 5 mil, apenas por haver dito antes da estreia do Brasil na Copa América, que a competição foi organizada de maneira “atabalhoada”.
Sem entrar no mérito das declarações, importa questionar: por acaso constitui infração DESPORTIVA, criticar-se a Conmebol pelarealização da Copa América?
A punição da Conmebol não tem qualquer relação com a disciplina da competição, sendo antes um típico ato de retaliação. A entidade aproveitou-se de um poder de que dispõe sobre os profissionais,para atingir jogador e técnico e intimidar não só eles, como também os colegas de profissão, para que se abstenham de criticá-la.
Houve abuso de poder e não sendo a suposta infração de índole desportiva, caberia à Conmebol despir-se do seu poder de império e recorrer à justiça, como qualquer outra pessoa.
Com efeito, se ela achou que foi ofendida em sua honra, deveria buscar a sua reparação pelasvias judiciais comuns e não intimidar atletas e treinadores dentro de sua própria cozinha.
Veja-se que nem mesmo o Estado faz isso. Quando sofre algum dano de um particular, ele precisa recorrer ao Judiciário para fazer valer osseus direitos. Como sabemos, em Estados democráticos existem três poderes autônomos queforam concebidos precisamente para impedir a instauração do arbítrio. Na Conmebol, porém, a divisão de poderes não parece fazer parte da dieta. Ela sozinha cria regra, julga e também executa…
Não posso comer alimentos calóricos, mas tenho fome de justiça e meu estômago embrulha quando vejo a maioria sem apetite para questionar tanto abuso de poder.
Vide, por exemplo, o silêncio dos demais participantes do torneio. Não vi ninguém se solidarizando com os apenados nem questionando a sua punição. Infelizmente, porém, esse é o padrão de conduta que se observa no meio.
Basta ver o “manifesto” dos atletas brasileiros contra a Copa América, que foi um comunicado totalmente ensosso e impossível de engolir.
Ah, quanto à receita de bolo que integra este artigo, confesso que não a experimentei e não posso garantir se é boa de verdade.
Mas tenho a certeza de que a melhor fórmula para acabar com o autoritarismo e vitaminar a democracia é bem simples e fácil de memorizar:
Proteger a liberdade de expressão.
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