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Relatório da Fifa mostra crescimento do futebol feminino mesmo diante da pandemia

Os reflexos da pandemia de Covid-19 no futebol não param de aparecer. Em um balanço divulgado pela Fifa nesta quarta-feira (17), a janela de transferência de janeiro de 2021 seguiu o ritmo do mercado de transferência internacional e registrou sua menor atividade nos últimos seis anos. O ponto positivo foi a resistência apresentada pelo mercado de transferência internacional feminino que praticamente não foi afetado.

“O balanço é uma resposta instantânea da Fifa para mostrar como o mercado se comportou na janela de transferência internacional da pandemia. E digo que essa foi a mais importante pois encarávamos a segunda onda, um pós 2020 entre lockdown e perdas significativas para todos os setores produtivos da sociedade. Vimos os clubes chegarem a orçamento zero, e ainda assim procurar evoluir e não perder o potencial de compra e venda dos seus atletas”, avalia Fernanda Chamusca, advogada especialista em direito desportivo.

Em comparação com o ano passado, o número de transferências internacionais do futebol masculino sofreu uma queda marcante. Uma diminuição de 36,2%, de 4.215 para 2.690, enquanto o gasto com taxas de transferência despencou de US$ 1,16 bilhão (aproximadamente R$ 5,8 bilhões na cotação atual) para US$ 0,59 bilhão (R$ 3,3 bilhões), representando uma queda de 49,1%.

“Os dados claramente mostram que a pandemia afetou de modo substancial os clubes de futebol masculino, cuja crise econômica não apenas diminuiu os investimentos dirigidos à aquisição onerosa de novos atletas, mas reduziu o valor de mercado das próprias operações realizadas, o que era previsível”, afirma Victor Targino, advogado e consultor especialista em direito desportivo.

Número de transferências internacionais – futebol masculino (janela de janeiro)

2017 – 3.267 (US$ 0.86 bilhão – R$ 4,6 bilhões)

2018 – 3.407 (US$ 1,34 bilhão – R$ 7,3 bilhões)

2019 – 3.852 (US$ 1,10 bilhão – R$ 6 bilhões)

2020 – 4.215 (US$ 1,16 bilhão – R$ 5,8 bilhões)

2021 – 2.690 (US$ 0,59 bilhão – R$ 3,3 bilhões)

Enquanto isso, o cenário do futebol feminino é totalmente diferente. As transferências internacionais não só demonstraram resistência, como mantiveram seu ímpeto em janeiro. O número de transferências teve uma queda pouco sentida, mas os gastos com taxas de transferência aumentaram consideravelmente, com os clubes investindo cerca de US$ 310 mil (aproximadamente R$ 1,7 milhão na cotação atual), representando um aumento de mais de 60% no mesmo período de 2020.

Número de transferências internacionais – futebol feminino (janela de janeiro)

2018 – 69 (US$ 223,8 mil – R$ 1,2 milhão)

2019 – 100 (US$ 54,1 mil – R$ 292 mil)

2020 – 185 (US$ 193,6 mil – R$ 1,05 milhão)

2021 – 177 (US$ 310,1 mil – R$ 1,7 milhão)

Para Fernanda Chamusca, os números do mercado feminino refletem o quanto a modalidade está crescendo mundialmente.

“A estratégia montada para o futebol feminino em 2018 evidencia cada dia mais a seriedade do projeto e a busca pela autonomia e independência da modalidade, especialmente quando há evidente procura e potencial na formação dos times e investimento no futuro. É possível verificar a importância da Copa do Mundo de 2019 nesse cenário e o quanto o investimento no evento proliferou o interesse das marcas e investidores pelo futebol feminino”, analisa.

A Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2019, na França, foi um marco importante para o crescimento da modalidade. A visibilidade que o esporte ganhou com o sucesso da competição foi o ponto de partida para que melhorias pudessem acontecer.

Tal sucesso foi confirmado pela audiência dos jogos, que registraram 1 bilhão de telespectadores em todo o mundo. No Brasil, meses após a Copa do Mundo, jogos decisivos do Campeonato Paulista e do Brasileirão A-1 começaram a chamar a atenção do público e da mídia, e os estádios começaram a encher.

Já Cesar Grafietti destaca a linha de negócio que se tornou o futebol feminino nos mercados mais desenvolvidos: “Trata-se de um movimento bastante interessante e mostra que apesar de ainda substancialmente menor, o futebol feminino começa a ganhar tração. Isso pode ser explicado porque as equipes femininas nos mercados mais desenvolvidos deixaram de ser custo e passaram a ser linha de negócios, ou seja, entram no grupo das receitas, com direitos de tv e patrocínios específicos. Negócios em expansão costumam ser resilientes, e o futebol feminino mostrou isso na última janela de transferências. Os clubes brasileiros precisam entender essa dinâmica, que cresce na Europa”, ressalta o economista.

“Por outro lado, ainda que os clubes de futebol feminino tenham saído quase ilesos da crise econômica – experimentaram alta histórica no valor total por transferência de atletas, aliás –, não devem repetir os erros do futebol masculino no passado. Têm de aproveitar o momento para diversificar a matriz de receitas e investir em governança e no profissionalismo de suas gestões, bem como de exigir das respectivas federações e ligas a implementação (e efetivação) de políticas voltadas a aprimorar a austeridade e o equilíbrio econômico, a fim de fomentar, cada vez mais, a competitividade e o interesse de público e mídia”, finaliza Targino.

Ainda falta muito para o futebol feminino, mas já é possível ter uma dose de otimismo com os números apresentados pela Fifa em seu site oficial.

Crédito imagem: Reuters

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