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Renúncia do presidente do comitê organizador de Tóquio aumenta desconfiança da população sobre evento

A Olimpíada de Tóquio 2020, marcada para acontecer neste ano, ainda é uma incógnita devido as inúmeras incertezas. Na última sexta-feira (12), uma notícia movimentou o cenário. O chefe dos Jogos Olímpicos, Yoshiro Mori, renunciou ao cargo e voltou a pedir desculpas por comentários sexistas que desencadearam inúmeras críticas e foi o principal responsável pela decisão. Dessa forma, o evento fica temporariamente sem um presidente do comitê organizador há poucos meses de seu início, afetando o planejamento.

“Em uma situação normal, seria possível dizer que a saída do chefe dos Jogos de Tóquio, mesmo a poucos meses do evento, não prejudicaria a sua realização, pois é de se esperar que boa parte do que é necessário para se realizar num evento dessa magnitude já tenha sido feita, e um substituto competente teria condições plenas de continuar liderando o resto do comitê naquilo que falta. No entanto, não estamos vivendo uma situação normal. A grave pandemia já adiou por um ano a realização do evento e existe forte pressão popular no Japão para que ocorra um novo adiamento ou até o cancelamento das Olimpíadas, cuja realização poderia aumentar significativamente no número de contaminados pela Covid-19”, avalia Marcel Belfiore, advogado especialista em direito desportivo.

Martinho Miranda acredita que a saída de Mori não causará problemas à organização do evento. “A estrutura está inalterada. Não haverá prejuízos com a renúncia do ex-presidente do comitê”, afirma o advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

De certa forma, a renúncia do ex-primeiro-ministro do Japão (entre 2000 e 2001), de 83 anos, diminuirá ainda mais a confiança da população na capacidade dos organizadores de realizar os Jogos Olímpicos, adiados em um ano, por conta da pandemia de Covid-19.

Mori causou um grande incômodo ao dizer durante uma reunião do comitê olímpico, no início de fevereiro, que as mulheres “falam demais” e “têm dificuldades” em ser concisas.

“Se você aumenta o número de membros executivos do sexo feminino, e se seu tempo de palavra não estiver limitado em certa medida, terão dificuldade para terminar, o que é irritante”, declarou Mori.

No dia seguinte à sua declaração, o então presidente do comitê organizador dos Jogos se desculpou, considerando sua fala como “inapropriadas” e que vão contra o “espírito dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos”. No entanto, o dirigente não aguentou a forte pressão de pessoas próximas e decidiu se desligar da função.

“Minha declaração provocou muito caos. Desejo renunciar como presidente a partir de hoje. Vou renunciar ao cargo de presidente do comitê”, disse Mori durante seu discurso na reunião desta sexta-feira.

A definição de quem ocupará o lugar de Mori será decidido por um comitê de seleção composto por um número igual de homens e mulheres, e centrado em atletas, conforme disse o executivo-chefe de Tóquio 2020, Toshiro Muto, durante uma coletiva de imprensa. Ainda não há uma data para o anúncio, mas a decisão deverá acontecer rapidamente, uma vez que faltam pouco mais de cinco meses para a cerimônia de abertura do evento.

“Mori não tem a menor condição de continuar à frente da organização dos jogos olímpicos de 2020, pois o cargo que ocupa deve ser preenchido por quem possa dar exemplos de cidadania e respeito ao próximo. Pessoas que não estão à altura do cargo que ocupam não podem permanecer e contar com a complacência das instituições e da sociedade”, ressaltou Martinho.

Para Marcel Belfiore, quem substituir o ex-presidente terá que restabelecer a confiança da população na realização do evento olímpico.

“O substituto de Mori deve ser alguém com boa capacidade para intermediar a vontade dos governantes japoneses e dos dirigentes do COI e, sobretudo, que consiga restabelecer o apoio popular para a realização dos Jogos em meio às incertezas da pandemia”, completou.

De acordo com a mídia japonesa, um dos nomes fortes para ocupar a cadeira é o da ministra da Olimpíada, Seiko Hashimoto, que participou de sete Olimpíadas e é uma parlamentar.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) reafirmou estar “comprometido” com a realização dos Jogos, previstos para começar no dia 23 de julho.

“Se você aumenta o número de membros executivos do sexo feminino, e se seu tempo de palavra não estiver limitado em certa medida, terão dificuldade para terminar, o que é irritante”, disse o presidente da entidade, Thomas Bach, em um comunicado divulgado horas após a renúncia de Mori.

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