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Repercussões da Covid-19 no mundo do futebol poderão ser sentidas até 2024, mas novas oportunidades poderão surgir

A pandemia provocou um forte impacto no mundo do futebol e obrigou os clubes a criarem alternativas de perspectivas financeiras. A retomada das competições evitou um desastre absoluto e imediato, tanto no Brasil quanto em Portugal. Contudo, os clubes ainda convivem com atrasos de salários, processos judiciais, desvalorização dos jogadores e a própria incerteza de contaminação de seus atletas.

O processo de recuperação dos impactos da pandemia provocada pelo Coronavírus será uma partida longa e desafiadora para a indústria do futebol. Recentes pesquisas têm demonstrado que os efeitos provocados por esta crise de saúde sem precedentes permanecerão pelo menos até 2024. Entretanto, este cenário catastrófico poderá gerar novas oportunidades, principalmente no âmbito da propriedade intelectual, como possibilidade de fontes de receita não tradicionais que irão mitigar o impacto da crise[1].

Na pesquisa mencionada, representantes de clubes, ligas e de entidades do setor foram convidados a avaliar os danos provocados pela pandemia em uma escala de 1 a 7 e estimaram em 6,74 os riscos associados aos últimos meses de 2020, que antecederão um período de transição em 2021 (5,26) e 2022 (3,21), acompanhadas de uma tímida desaceleração em 2023 (1,95) e 2024 (1,4). Portanto, a pior parte terá passado no final de 2022.

Os grupos de interesse mais afetados serão os eventos desportivos (6,58), os estádios (6,16), os clubes (6,05), as ligas (5,79) e as cidades que recebem as principais competições (5,68). Por outro lado, sofrerão menos os impactos os profissionais de medicina (3,32), advogados (3,47) e nutrição desportiva (3,68), redes sociais (3,47) e empresas de tecnologia (4,16).[2]

O mercado das transmissões pode ser uma solução imediata para os clubes, na medida em que a ausência de público nas arquibancadas pode ser compensada com um aumento da visualização das partidas, inclusive através de novas formas e plataformas de transmissão.

Ao contrário do que se pensava, as disputas não ficaram menos emocionantes e as finais da Champions League comprovam esta assertiva, tendo em vista a alta competitividade, bem como os placares elásticos.

Tal situação demonstra que apesar das pesquisas realizadas e das palavras dos especialistas, apenas o tempo poderá definir qual será o futuro do futebol no mundo após esta trágica pandemia.

Assim como já ocorre em todos os setores da economia, o futebol será obrigado a reinventar-se para a nova realidade imposta pelo coronavírus.

O setor dos espetáculos ao vivo foi um dos que muito sofreu com esta pandemia e a recuperação será lenta e gradual, com a adoção de protocolos de rígida segurança sanitária e que demandará tempo e adaptação. O futebol sente estes efeitos, mas tem a oportunidade de se reinventar e utilizar a tecnologia ao seu favor, com a possibilidade de atrair torcedores que estejam a quilômetros de distância.

Não se pode perder de vista que a indústria do futebol não se resume aos 22 jogadores que se exibem nas arenas desportivas. Existem inúmeros profissionais e empresas que dependem desta atividade.

Dentro do próprio clube há o preparador físico, o massagista, a secretária, a cozinheira, o zelador, dentre outros. Nos arredores do estádio há os vendedores de flâmulas, cachecóis e alimentos e bebidas.

As empresas que patrocinam os clubes esperam ansiosas pela exposição de sua marca e os bancos, além patrocinarem, emprestam dinheiro aos clubes.

De acordo com matéria publicada na revista Exame de Portugal, as duas principais ligas portuguesas representam 0,3% do PIB do país ibérico e empregam diretamente mais de 2.600 pessoas, enquanto que as equipes pagam anualmente 150 milhões de Euros em impostos.[3]

As receitas dos clubes de futebol, via de regra, são divididas em: direitos de transmissão das partidas; prêmios de competições; bilheteria; publicidade; merchandising e transação de jogadores.

Com o retorno das competições a primeira fonte de receita foi retomada, devendo ser observado que os clubes que possuem fatia maior de seu orçamento vinculado a esta receita, sofrerão menos. Os contratos de merchandising e publicidade, em alguns casos, foram renegociados. Contudo, foi justamente neste momento de pandemia que se precisou de criatividade para buscar novas iniciativas de exploração da imagem do clube.

O licenciamento de produtos com a marca do clube tem como finalidade atender à demanda de torcedores que buscam os mais variados produtos com as cores e símbolos do clube do coração. A partir desta prática o produto pode ser comercializado em qualquer lugar do mundo, com a garantia aos consumidores de que se trata de um produto oficial. Desta forma, o clube tem a possibilidade de aumentar a sua renda com o recebimento de royalties pela comercialização dos produtos. Neste momento a utilização de recursos tecnológicos pode ser uma ferramenta de grande utilidade para diversificar os produtos e potencializar o alcance aos consumidores que estão em suas residências.

O quadro de incertezas provocará uma retração nos clubes que (pelo menos a princípio) estarão mais cautelosos em suas contratações e seus gastos, ainda mais com as regras de fair play financeiro impostas pela FIFA.

Questão bem delicada e que será sentido no período das janelas de transferências diz respeito ao valor de negociação dos jogadores. Muitos clubes contam com a formação e valorização de seu plantel como forma de aumentar o caixa e fazer frente a novas contratações. Os valores destas negociações sofrerão impactos, razão pela qual, quanto mais diversificada for a fonte de receita dos clubes, menos preocupações haverá.

As capacidades tecnológicas permitirão que os clubes descubram novas oportunidades, nada obstante a aposta digital ainda estar bem distante da receita obtida com as vendas físicas tradicionais.

O momento requer ousadia na inovação e criatividade, mas ao mesmo tempo deve haver cautela no tocante as despesas que forem contraídas pelos clubes.

……….

[1] Neste sentido é o relatório apresentado pela World Football Summit (WFS) e pela empresa SPSG Consulting, disponível em: https://worldfootballsummit.com/covid-19-challenges-will-remain-in-play-until-2024-but-new-revenue-streams-will-arise/ . Acesso realizado em 18.08.2020.

[2] disponível em: https://worldfootballsummit.com/covid-19-challenges-will-remain-in-play-until-2024-but-new-revenue-streams-will-arise/ . Acesso realizado em 18.08.2020.

[3] Revista Exame, n. 436.8/20 – Agosto 2020, p. 20.

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