Grigory Rodchenkov era até então um nome desconhecido. Isso mudou em 2017, quando ficou conhecido por ter denunciado o esquema russo para fraudar exames antidopings nas Olimpíadas. Antes de contar para o mundo sobre o que sabia, foi um dos líderes do processo de criação de um coquetel de esteroides anabolizantes que ajudou a recolocar a Rússia como uma das maiores potências no esporte.
Após sua história ser revelada ao mundo no documentário “Ícaro”, de 2017, Grigory vive uma vida de fugitivo. O químico está vivendo nos Estados Unidos desde 2015, e afirma que já recebeu diversas ameaças de morte e outras intimidações.
O ex-diretor do laboratório antidoping russo concedeu uma entrevista à agência Associated Press onde revela o temor de ser assassinado. Para realizar a entrevista, o químico se cobriu com uma máscara preta e óculos escuros, para evitar ser identificado em nenhuma hipótese. “São minhas medidas de segurança porque eu tenho ameaças físicas de ser assassinado. Putin é muito lógico. Ele separa a oposição de duas maneiras: inimigos e traidores. Eu caí na categoria dos traidores e os traidores devem ser decapitados, cortados, mortos. Então, não há dúvidas de que ele me quer morto”, declarou em entrevista.
A divulgação do esquema fez com que a Rússia fosse desclassificada dos Jogos de Inverno de Sochi em 2014, perdendo as 13 medalhas de ouro, além de ser excluída de Olimpíadas e campeonatos mundiais até 2023. A medida é válida desde 2016, quando os russos ficaram de fora do Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Rodchenkov não se arrepende de sua atitude. O ex-diretor acredita que atletas de outros países também podiam estar se beneficiando do doping. “Honestamente, eu peço desculpas, mas eu tive um sentimento enorme de realização [na época]. Os atletas que ajudei a vencer eram extremamente talentosos e eu não conseguia entender, com o treinador, como eles conseguiam perder para os outros. A única explicação seria doping. Depois, usando alguns métodos, ganhamos medalhas de ouro. Foi como nivelar as coisas. ‘Moral’ é algo do vocabulário da vida americana, mas não da soviética ou russa. Na União Soviética, era a moral soviética, e na Rússia não há moral”, afirmou.
“Para mim, foi o fim do controle de doping. Se podemos fazer isso, por que outros não podem? O esporte faz parte da política de Putin e mostra ao Ocidente como a Rússia é boa. Você não pode confiar na Rússia. Não pode confiar nos certificados feitos pelas autoridades, e os laboratórios não vão recuperar confiança num futuro próximo”, concluiu.
O químico tentou se suicidar-se em 2017, após isso, foi para um hospital psiquiátrico e hoje faz parte de um programa de proteção de testemunhas que o protege enquanto a Rússia pede sua extradição.
Crédito imagem: AP Foto
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