Pesquisar
Close this search box.

Sobre esporte e memórias

Minha primeira memória esportiva concreta é o gol da Argentina contra o Brasil na Copa de 1990. Até ali, Maradona era apenas uma ideia, um conceito meio vago para aquele menino que começava a se tornar apaixonado por futebol.

Eu sabia que ele se chamava Diego, nome dado ao meu irmão, que nasceu pouco antes que se completasse um ano da conquista argentina na Copa de 1986. E sabia que aquele baixinho que vestia a camisa 10 era, então, o melhor jogador do mundo.

Mas só fui entender, de fato, o que era Maradona, o Diego Armando Maradona de carne e osso, quando ele saiu driblando os jogadores brasileiros e deixou Caniggia em perfeitas condições de vencer Taffarel e decretar um silêncio sepulcral na festa organizada pela minha família naquele dia.

Lembro-me como se fosse ontem do lance e da tristeza que sentia ao ir embora para casa, ainda que não pudesse compreender muito bem o motivo de estar triste por algo que não dizia respeito diretamente à minha própria vida.

Bom, como eu vim a descobrir mais tarde, o futebol e o esporte, na verdade, diziam, sim, respeito à minha própria vida. E, ironicamente, tornei-me um fã de Maradona, que nos deixou há quase exatos 2 anos.

E quase exatos 2 anos depois daquele gol da Argentina contra o Brasil, lá estava eu em frente à televisão, acompanhando os Jogos Olímpicos de Barcelona. Foi quando me deparei com o Dream Team e com Michael Jordan.

Assim como Maradona, Jordan era, até ali, um sobrenome de algum modo familiar para mim, assim como me era vagamente familiar a ideia de que aquele era “o Pelé do basquete”, como diziam as pessoas mais velhas ao meu redor.

Encantado com Jordan e seus “superamigos”, desenhei em uma folha de papel os jogadores da seleção de basquete dos Estados Unidos, colei os desenhos em um pedaço de papelão, recortei-os e passei a usar os “bonequinhos” para brincar na quadra que, com a ajuda do meu pai, improvisei sobre a tampa de uma caixa de sapatos. E assim investi horas e horas fantasiando novas jogadas daquele time incrível.

Acompanhar a NBA daí em diante seria (e foi) natural. Os jogos passavam tarde da noite e lembro-me como se fosse ontem de torcer, madrugadas adentro, contra o Chicago Bulls de Michael Jordan (vejam só!) nas finais de 1993 contra o Phoenix Suns de Charles Barkley, outro dos meus “heróis” do Dream Team.

Naquele tempo, eu já compreendia melhor que era permitido, pelo esporte, ter alegrias e tristezas que não tinham relação direta com a minha própria vida. Bom, na verdade existia uma relação direta com a minha própria vida…E as cestas nunca mais deixaram de fazer parte dela.

Com o futebol americano foi um pouco diferente. Meu primeiro contato se deu por meio de um episódio (The Acme Bowl) do desenho animado Tiny Toons. Intrigado, aluguei o Madden para jogar no videogame e, quando vi o Luciano do Valle anunciando que o Super Bowl de 1993 seria transmitido pela TV Bandeirantes (como chamávamos à época), decidi que iria assistir, crente de que já sabia tudo sobre o jogo (sabia pouquíssimo e ainda estava bem confuso sobre as regras, para ser bem sincero).

Lembro-me como se fosse ontem do icônico show do intervalo feito por Michael Jackson e de achar tudo naquele evento muito demorado. Depois entendi os porquês. E aquele esporte um tanto quanto violento, de conquista de território, foi, aos poucos, fazendo sentido para mim. Anos depois, as jardas entraram de vez na minha rotina, mesmo morando bem longe do país da bola oval.

No dia em que escrevo este texto, vi com minhas filhas o gol de Messi contra o México, que manteve vivas as esperanças da Argentina na Copa do Mundo do Qatar. A mais nova ainda é muito pequena para nutrir qualquer lembrança desse momento. Para a mais velha, porém, eu já havia explicado, algum tempo antes, que aquele baixinho que vestia a camisa 10 era o melhor jogador do mundo (sem tecnicismos aqui, por favor). Já ouviu a expressão “to come full circle”? Pois é…

Minhas meninas certamente só irão entender, de fato, o que é (era) Lionel Messi daqui a um bom tempo. Contudo, espero, de coração, que elas tenham pelo esporte, seja de gols, seja de cestas, seja de jardas ou seja outro qualquer, o mesmo sentimento de amor que eu tenho.

Em época de Copa do Mundo, é comum ouvir gente comentando que associa determinados períodos da vida ao evento que acontece de 4 em 4 anos (tivemos de esperar um pouco mais desta vez). É o meu caso, obviamente.

E no meu caso, também obviamente, o esporte é o principal guia para organizar minhas memórias. Como é bom que seja assim!

Tenho um desejo e vou revelá-lo a você: quero que no futuro, eu, já bem velhinho, lembre-me (como se fosse ontem) de ter escrito este texto enquanto era disputada a Copa do Mundo de 2022.

Por tudo isso, peço-lhes licença para escrever, hoje, somente sobre esporte e memórias.

Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo

Compartilhe

Você pode gostar

Assine nossa newsletter

Toda sexta você receberá no seu e-mail os destaques da semana e as novidades do mundo do direito esportivo.