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Sociedades Anônimas de Futebol: Como o caso da Inter de Milão pode se tornar uma realidade no futebol brasileiro

Por Luis Fernando Batista Hiar

No mês de maio, a Oaktree Capital Management, gestora de investimentos que tem à frente o renomado investidor Howard Marks, noticiou ao mercado a aquisição do controle acionário da Internazionale de Milão, após o Suning Holdings Group, controlador até então, falhar no pagamento de dívida vencida de € 395 milhões.

Em decorrência da inadimplência do Suning Group, a Oaktree executou garantias sobre 68,55% das ações da Inter, constituídas pelo Grupo Chinês, em garantia ao empréstimo de € 275 milhões concedido em maio de 2021, no contexto de dificuldade financeiras vividas em meio à pandemia de Covid-19.

Considerando o valuation da Inter de Milão, estimado pela publicação especializada Football Benchmark em 2023,[1] de € 1.2 a € 1.3 bilhões, a Oaktree passa a ser titular de participação avaliada entre € 820 e € 890 milhões.

Sem discutir a valorização ou desvalorização da participação no futuro, a Oaktree pode ter mais do que triplicado o investimento realizado há 3 anos – para não falar no valor intangível que decorre do controle sobre o 14º mais valioso time de futebol da Europa, campeão de três UEFA Champions League, três Copas da UEFA e 20 campeonatos italianos – o mais recente deles conquistado este ano, após vitória no Derby de Milão.

Engenheiros de obra pronta, provavelmente, dirão que a aposta da Oaktree era certa e o investimento feito em 2021 não demandava muita reflexão. A análise do negócio, entretanto, aponta exatamente o contrário, e o alto retorno do investimento confirma o faro aguçado de Howard Marks e sua gestora por oportunidades únicas.

A gestora topou conceder empréstimo multimilionário ao grupo chinês em dificuldades financeiras, no meio de pandemia global, acompanhada de incertezas sobre o futuro do planeta e que impunha medidas de distanciamento social severas para bilheterias das partidas de futebol.

Não havia qualquer certeza quanto ao futuro da Inter, que não vencia títulos de expressão há mais de 10 anos, após vencer o campeonato italiano e a UEFA Champions League na temporada 2009/2010.

Este tipo de investimento, que pode trazer maior risco ou complexidade e também pode recompensar o investidor com ganhos extraordinários, é conhecido como Special Situations. O cuidado deve ser redobrado e costumam ser feitas análises multidisciplinares para identificação de riscos financeiros e jurídicos, potencial retorno, entre outros fatores.

Caso não analisado adequadamente, o investimento em Special Situations pode implicar prejuízos para os investidores e a perda integral do capital investido.

Sabedoras do potencial de retorno dos special situations, muitas casas de investimento têm dedicado especial atenção a essa modalidade, diversificando sua atuação.

Entre os investimentos em special situations mais populares, pode-se citar a aquisição de ativos de sociedades em dificuldade financeira (distressed assets), a aquisição de precatórios, o financiamento de litígios (litigation finance) e a aquisição royalties musicais, que também ganhou destaque durante a pandemia, no contexto de dificuldades no setor fonográfico.

A aquisição do controle da Inter de Milão pela Oaktree, por outro lado, pode chamar a atenção para um mercado de special situations que ainda não parece ter despertado o interesse das gestoras especializadas no Brasil: o investimento em Sociedades Anônimas do Futebol (“SAF”), criadas pela Lei nº 14.193/2021.

Esta modalidade de organização chegou para ficar: já há mais de 60 clubes de futebol que se organizam como Sociedade Anônima, incluindo equipes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro: Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo, Cuiabá, Cruzeiro, Vasco da Gama.

Confirmando a relevância das Sociedades Anônima de Futebol, menos de 3 anos após a entrada da Lei em vigência, tramita perante o Congresso o Projeto de Lei nº 2.978/2023, para aperfeiçoar a governança das sociedades, resguardar direitos de investidores, assim como direitos dos clubes, profissionais do futebol e atletas em formação.

Ao modificar a lei das SAF e trazer mais segurança para investidores, o PL nº 2.978 pode contribuir para a captação de investimentos para este mercado que movimenta bilhões todos os anos.  A segurança para investidores não apenas tende a fortalecer os clubes e atrair investimentos, como pode fomentar o mercado de special situations.

Sentindo segurança no ambiente de negócios, investidores podem passar a olhar para além dos clubes consolidados e em boa situação financeira. As teses de investimento podem se deslocar para times em dificuldade, que podem propiciar retorno proporcional à complexidade enfrentada.

Não é fácil ou, necessariamente, barato investir em special situations. A identificação da oportunidade correta, com a análise de risco e da conjuntura de investimento, no entanto, pode trazer ganhos extraordinários, que podem compensar o risco e desafio tomados – a exemplo do retorno para a Oaktree na Itália.

Crédito imagem: Inter de Milão/Getty Images

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Luis Fernando Batista Hiar é advogado, membro da Comissão de Direito Bancário da OAB-SP, pós-graduado em Contratos Empresariais pelo Insper e graduado pela Universidade de São Paulo

[1] https://www.footballbenchmark.com/documents/files/public/Football%20Benchmark%20Football%20Clubs%E2%80%99%20Valuation%20The%20European%20Elite%202023.pdf

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