Por Ana Mizutori e Diogo Medeiros
A conexão entre o esporte e o espetáculo sempre existiu, e nos últimos anos com a enorme midiatização do esporte, o entretenimento entrou de sola na pauta de interesses dos clubes, entidades de prática e organização do desporto.
Nesta última semana a polêmica envolvendo os Presidentes dos dois clubes finalistas, Júlio Casares do São Paulo e Leila Pereira do Palmeiras, trouxe novamente à tona a relação intrínseca entre os negócios do esporte, a disputa esportiva e o entretenimento, mesmo que este se conecte indiretamente ao jogo propriamente dito.
Após a classificação do Tricolor Paulista, na vitória sobre o Corinthians, o Presideente Sãopaulino demonstrou sua posição e descontentamento com a situação aventada pelo rival, de ter o último jogo do campeonato, a partida finalíssima, realizada no sábado (02/04). Esse desconforto foi gerado pela indicação de que tal fato se daria em virtude do contrato havido entre a gestora da arena Allianz Park, a WTorre, e a esquadra alviverde, e que garantiria o direito da gestora promover eventos na mesma arena conforme combinado.
A dificuldade na marcação seria pelo acordo estabelecido onde ficou definido a realização do show da banda, internacionalmente conhecida, Maroon 5, na terça-feira (05/04), subsequente ao jogo, e mesmo não conflitando datas, o estádio deveria ficar à disposição para montagem da estrutura que virá diretamente do festival de música Lollapalooza, e cujo imenso cenário precisaria de alguns dias para sua completude.
A equipe Palmeirense passou a defender a realização da partida para ter a possibilidade de ambas realizações, o evento esportivo no sábado (02/04) e evento musical (05/04), e com isso ter a folga necessária para os ajustes. A Presidente Leila Pereira ainda fez circular nas redes sociais alviverdes que “o Palmeiras detém a melhor campanha geral e é o único time invicto do Paulista. Nossos profissionais lutaram, dentro de campo, para obter o direito de mandar a decisão em nossa casa. Não passa pela minha cabeça a possibilidade de jogarmos essa final fora do Allianz Parque”, e que numa singela cutucada, “vamos trabalhar para que esse direito, consagrado pelo regulamento, seja respeitado. O regulamento da competição não estabelece que a final tenha de ser disputada no dia 3 de abril. A definição da data do evento de encerramento do torneio compete à Federação Paulista de Futebol”[1].
Mais um empecilho se refere a Lei do Mandante, e o acordo firmado com a emissora detentora dos direitos de transmissão da competição, a TV Record.
Ainda tratando dos direitos em campo, o Estatuto do Torcedor (lei 10671/2003) em seu artigo 5º, § 1º, incisos I e II, e artigo 9º, §4º e §5º, estabelece o direito do torcedor em relação à transparência na organização, de saber antes do início do campeonato, a íntegra do regulamento da competição, as tabelas da competição, contendo as partidas a serem realizadas bem com as datas, locais, e horários, tanto como as exceções que favoreçam possíveis alterações, e a realização de espetáculos de entretenimento não entra nessas exceções.
Mesmo com alfinetadas de ambos os lados, em um nítido embate efervescido das emoções de um futuro campeão paulista, a Presidente Leila, conseguiu estabelecer novo acordo com a gestora da arena (WTorre) para que não perdesse a chance de usar seu próprio estádio, sua casa, para a grande final, e que sim, a partida vai acontecer na casa palmeirense, o Allianz Park, e no domingo (03/04). Para tal, a CEO alviverde renunciou a parte da receita advinda do show.
É nítido e notório que o esporte, principalmente o Futebol, é além de um esporte, também um grande negócio. Contudo, o que realmente movimenta, alimenta, e faz esse esporte ser um grande negócio é a paixão do torcedor que vai ao estádio, compra materiais esportivos do seu clube, promove engajamento nas mídias, se qualifica como sócio-torcedor e, portanto, o cliente final dessa indústria que enlaça o esporte ao entretenimento.
Depois da primeira partida da final, e por que não, um pouco antes dela, o entretenimento se mostrou evidentemente associado ao esporte. Vejamos, pois, a promoção das experiências memoráveis que o São Paulo entregou para seu torcedor no primeiro jogo das finais. As pequenas experiências, chamadas de “touch points”, deixaram não só a marca do grande espetáculo para o coletivo, como fez aproximar o torcedor individual ao seu time, sua família, e/ou seus amigos. Antes do início da partida um verdadeiro show de luzes e música no estádio do Morumbi, assim como também a participação efetiva e individual de cada um daqueles que levantaram seus celulares para registrar as experiências instagramáveis, criando um cenário do cenário dentro de o jogo.
Um bom exemplo, é daquele torcedor comum que levou seu filho no estádio para ver o primeiro jogo do time de coração, num momento pai e filho que ficará registrado não só na memória do celular (hoje tão facilmente esgotável), como também na memória afetiva da relação entre eles, transmitindo os valores do esporte, e como diria o grande mestre do direito desportivo dr Paulo Feuz, transmitindo o grande legado do esporte, senão da vida, o de transferir o Amor para gerações de sua descendência, o Amor pelo mesmo time, que seja.
E penso eu, que alegria para um pai deva ser este momento, porque para mim como filho sei bem o que meu pai fez por mim, o que fiz pelos meus irmãos, e a memória infindável daquele primeiro jogo no estádio que ele me levou.
Obrigado pai, obrigado futebol brasileiro!
Crédito imagem: Reprodução
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[1] Após Casares exigir decisão no domingo, Leila afirma que jogo fora do Allianz “não passa pela cabeça” (msn.com)