Por Diogo Medeiros e Ana Mizutori
Ao enlace entre esporte, entretenimento e as oportunidades de negócios entre eles convencionou-se chamar de “Sportainment”. Uma interseção necessária e cada vez mais frequente no mundo, e no movimento esportivo internacional.
O esporte como paixão, como diversão, como alto rendimento, como competição, e de qualquer outra forma que seja praticado, necessita de receitas, renda, de dinheiro para se desenvolver. Na Constituição Federal em seu artigo 217, fica estabelecido que é dever do Estado (entes federados) o fomento da prática esportiva formal e não formal, e, portanto, a destinação de verbas públicas para manter esse direito social de cada indivíduo.
O que ocorre na realidade é que não existe constância, existe muito pouco planejamento dos gestores de clubes e entidades, e muitas vezes falta transparência e bom uso das verbas auferidas e destinadas para o fim específico esportivo.
Pensar, estudar e promover o “Sportainment” é buscar conectar a paixão dos torcedores pelos atletas, times, e competições à experiência de vivenciar as partidas, conhecer seus ídolos e ser por isso presenteado com momentos eternizados na memória afetiva e nos corações daqueles que presenciaram a experiência.
Muitas empresas entenderam essa dinâmica de necessidade/oportunidade e hoje exploram os negócios que essa visão de marketing esportivo oferece. Em contrapartida os atletas, times e competições que poderiam valer-se do “fomento” acima descrito, não podem ficar à mercê única e exclusivamente do apoio estatal, e devem sim dinamizar e aproveitar as receitas oportunizadas pelo setor privado, através de patrocínios, exploração de mídias sociais, aplicativos de celular, streaming, lives, podcasts, metaverso e tantas outras novidades digitais, por exemplo.
Há marcas que investem em ações que levam consumidores para dentro do campo, para conhecer o time, um jogador, entre tantas outras possibilidades. Outras ajudam a contar histórias emocionantes ou estão presentes apoiando um grande espetáculo, aquele de encher os olhos e o coração.
Esse é o sentido de “Sportainment” para as empresas, provocar experiências e emoções, são esses elementos que propiciam que os consumidores tenham interesse em conhecer, desejar, admirar e fidelizar a marca. Sem dúvida um grande apelo. Por isso o melhor caminho é fomentar cada vez mais as discussões acerca do assunto e os benefícios para toda a cadeia, que começa pelos clubes, jogadores e envolve torcedores, patrocinadores e a sociedade em geral.[1]
Uma das formas de apoio, fomento estatal, é o programa de benefícios chamado de Bolsa-Atleta. O Bolsa-Atleta é um programa do Governo Federal, gerido pelo Ministério da Cidadania, que visa garantir a manutenção pessoal aos atletas de alto rendimento que não têm patrocínio. O programa dá as condições necessárias para que eles se dediquem ao treinamento esportivo e possam participar de competições que permitam o desenvolvimento de suas carreiras. O atleta se inscreve no programa e, se for selecionado pelo Ministério da Cidadania, passa a receber mensalmente, pelo período de um ano, um auxílio financeiro creditado em conta. O benefício é destinado a praticantes do desporto de rendimento em modalidades olímpicas e paralímpicas, e nas modalidades vinculadas aos Comitês Olímpico e Paralímpico Internacionais. Também serão consideradas as modalidades não-olímpicas e não-paralímpicas para a concessão do benefício pleiteado por atletas de reconhecido destaque, nas categorias estudantil, nacional ou internacional.[2]
Um caso que foi muito comentado há pouco tempo, foi o do velocista de atletismo Paulo André, o P.A., segundo colocado na edição do Big Brother Brasil 22, que tinha o benefício de aproveitar o fomento estatal do Bolsa Atleta, mas que o perdeu por participar daquele reality show. Agora, imagine que a bolsa recebida fosse o principal gerador de receitas para este atleta, e o quanto teria sido prejudicado por perder essas verbas. Entretanto, a visibilidade adquirida no programa, catapultou seu instagram para mais de 10 milhões de seguidores, o que lhe oportuniza uma infinidade de trabalhos envolvendo marketing não só esportivo, como também o próprio entretenimento e as publicidades envolvidas. É atleta patrocinado pela empresa americana de material esportivo Nike, e aqui deixo uma indagação: será que a Nike se importa dele ter perdido o bolsa atleta, ou ter participado do programa de televisão e conquistado seus 10 milhões de seguidores aumentou o interesse da empresa em continuar como sua patrocinadora?!
Essa semana outro caso está em “alta” na mídia. O caso da jogadora de vôlei do Osasco Key Alves. A líbero do Osasco se tornou a atleta de vôlei com maior número de seguidores em todo o mundo. A repercussão geral na mídia se deu pelo comentário que a jogadora fez em uma entrevista, “Ganho umas cinquenta vezes mais com as plataformas digitais do que com o vôlei. É muito mesmo. E mais no ‘Only Fans’ porque o valor é fixo, tem todo o mês. Mas eu amo jogar vôlei, mais do que ficar tirando fotos. Por isso, não vou parar com a minha carreira nas quadras mesmo que isso seja possível atualmente (financeiramente falando)”[3] ressaltou.
Continua “- Estou indo para o terceiro ano em uma equipe de vôlei e me considero atleta profissional. Porém as coisas fora de quadra começaram a crescer muito para mim. Então comecei a dar sim um pouco mais de atenção para uma carreira paralela. Querendo ou não, hoje é a minha maior renda. Me considero atleta e é isso que fez a minha imagem crescer na internet. Então, sou atleta, modelo e também influenciadora e empresária de alguns negócios próprios”, e a atleta não está sozinha nessa atuação conexa como modelo, influenciadora, empresária. “Tenho uma equipe e nos falamos em um grupo no Whatsapp. Mas sou eu quem cuido de todas as minhas plataformas, menos o Onlyfans. Neste é meu empresário que faz as postagens. Todas passam por mim, as fotos, as edições, as legendas. Sempre posto na hora do almoço ou à noite, para não atrapalhar a rotina de treinos. Fico à noite toda, rodando entre as redes. Mas sei o meu limite e por isso não atrapalha meu sono”, explicou a atleta, que se interessa até em uma futura participação no BBB.[4]
E quando perguntada sobre se ela sentia ou sofria algum tipo de preconceito em virtude das postagens ela explicou, “Ainda tem um pouco de preconceito sim. Mas são poucas as pessoas que pensam assim. Esses trabalhos extra quadra fazem a gente se distrair e se divertir. São momentos que não estamos na pressão. E os treinadores e as pessoas que trabalham com o esporte deveriam começar a achar isso um pouco mais normal e bom também. O atleta não é robô.”[5], essas declarações e os casos apresentados demonstram com nitidez a existência da interseção entre o esporte e o entretenimento, até que chegará um momento em que será plenamente natural a atuação e geração de receitas por muitos outros atletas.
Outro caso emblemático ocorrido nas últimas semanas foi o imbróglio envolvendo o influencer “Luva de Pedreiro”, que contratou serviço de assessoria para mídias digitais e com seus vídeos divertidos, demonstrando suas habilidades no futebol e seu jeito singular de criação de conteúdo alcançou a incrível marca de 16,6 milhões de seguidores no Instagram. E no meio do caminho se viu insatisfeito com a atuação da assessoria contratada, rescindiu contrato, deverá pagar uma indenização altíssima, e pelo visto regularmente devida. Deixando o aprendizado de que sempre que for necessário fazer um contrato, seja qual for a relação negocial, a atuação de profissionais especializados se faz preemente.
Evidenciando com isso a necessidade do mercado se atualizar e explorar essas demandas reprimidas, abrindo-se cada vez mais espaço para os profissionais do Direito Desportivo, do Direito do Entretenimento, Direito Digital, Direito Contratual, Direito Empresarial, Marketing, Publicidade, e toda a cadeia produtiva envolvida direta e indiretamente.
Crédito imagem: Reprodução/Instagram
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[1] O que é o sportainment e como ele pode revolucionar o futebol brasileiro – Hubstage
[2] Bolsa-Atleta, Apoio aos Atletas de Alto Rendimento (caixa.gov.br)
[3] Ganho cinquenta vezes mais com plataformas digitais do que com vôlei, diz líbero Key Alves (msn.com)
[4] Ganho cinquenta vezes mais com plataformas digitais do que com vôlei, diz líbero Key Alves (msn.com)
[5] Key Alves, atleta influencer, diz que ‘ganha 50 vezes mais’ nas redes sociais do que no vôlei – Jogada – Diário do Nordeste (verdesmares.com.br)