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Suicídio de jogador paralisa rodada do campeonato uruguaio e reforça urgência em se trabalhar o lado psicológico no esporte

Um dos maiores problemas mundiais voltou a dar as caras no futebol neste final de semana. No último sábado (17), Williams Martinez, zagueiro do Villa Teresa, do Uruguai, foi encontrado morto em seu apartamento após cometer suicídio e novamente chocou o país.

Diante do cenário desolador, a Associação Uruguaia de Futebol (AUF) atendeu ao pedido do Sindicato Uruguaio de Futebolistas Profissionais e suspendeu as partidas restantes da 11ª rodada do campeonato nacional, que aconteceriam no domingo e na segunda.

Segundo o sindicato, o período de paralisação serviria como reflexão para todos em volta.

“De acordo com a resolução do MUFP, que solicita a suspensão do restante da data disputada em decorrência do falecimento do jogador Williams Martinez, a Diretoria Executiva resolve suspender os jogos pendentes da 11ª Etapa do Torneio Apertura”, publicou a AUF em suas redes sociais, no domingo.

Infelizmente esse tipo de notícia está sendo tornando cada vez mais frequente e novamente reforça a importância e necessidade dos clubes em trabalhar o lado psicológico de seus atletas.

“No futebol, assim como em alguns outros esportes, há uma idealização dos atletas por parte da torcida, como se eles tivessem que ser heróis. Não há uma clareza, para muitos torcedores, que antes de ser atleta o jogador do time deles é um ser humano. Esses atletas precisam de acompanhamento psicológico- treinamento mental- pois estão sob forte pressão em muitos momentos. Eles também precisam se ver como seres humanos que acertam e erram, e não podem permitir que a empolgação ou a vaia dos torcedores definam a visão que eles têm de sí mesmo, pois na quarta feira eles podem ser incríveis na visão da torcida, mas no domingo eles podem falhar e serem vistos como canalhas”, avalia Daniel Mello, psicólogo esportivo.

“As doenças do cérebro são associadas ao estilo de vida que o ser humano leva. A depressão é frequente à proporção em que a sociedade moderna cresce em complexidade. É consequência do ritmo acelerado da vida, da alienação das pessoas, do colapso da estrutura familiar, da solidão e do fracasso e da constante cobrança por metas satisfatórias, sendo que essas cobranças são generalizadas e padronizadas, sem levar em consideração a aptidão de cada indivíduo e as suas limitações. É fundamental que os clubes tenham psicólogos para acompanhamento integral de seus atletas, desde a base até os atletas profissionais”, ressalta Mauricio Corrêa da Veiga, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Daniel Mello garante que a presença de psicólogos no futebol é indispensável.

“É necessário que os clubes tenham departamentos psicológicos sólidos, com psicólogos do esporte capacitados para dar suporte a essas demandas específicas, e que também possam identificar e encaminhar para tratamento um atleta que esteja com depressão ou qualquer outra psicopatologia”, afirma o psicólogo.

João Ricardo Cozac, psicólogo e presidente da Associação Paulista de Psicologia no Esporte, segue a mesma linha. “No triângulo da preparação esportiva, de um lado temos a parte física, do outro a parte técnica, e a base dessa pirâmide é a parte mental e emocional. Tanto nas categorias de base como no profissional, é preciso fortalecer os atletas para encarar as pressões da carreira profissional, a expectativa da mídia, da torcida, para poder dar conta de uma rotina bastante cansativa de jogos, treinos e viagens”.

Ainda não foi confirmado que o zagueiro estava com depressão, no entanto, claramente a sua saúde mental não estava saudável e precisava de ajuda.

Os sintomas de depressão e de ansiedade são mais frequentes do que se imagina entre jogadores e ex-jogadores de futebol. A FIFPro (sindicato internacional dos atletas), frequentemente divulga estudos envolvendo a saúde dos atletas profissionais. A depressão lidera a lista das doenças que mais atinge esse esporte.

O último levantamento da FIFPro, realizado em 2015, apontou que 38% dos 607 jogadores em atividade e 25% entre os 219 ex-jogadores disseram ter sofrido de depressão ou ansiedade. Os números confirmam a gravidade do problema e um aumento generalizado, uma vez que no estudo anterior 26% relataram ter sofrido da doença.

É importante destacar que o suicídio é um problema grave no Uruguai, um país de 3,4 milhões de habitantes que somente em 2020 registrou 718 casos, o que representa 20,3 por 100 mil habitantes. A faixa etária mais comum dos casos ocorreu com pessoas entre 15 e 24 anos.

Em fevereiro deste ano, o suicídio do uruguaio Santiago “Morro” García, atacante do Godoy Cruz de Mendoza, da Argentina, deixou o futebol sul-americano de luto. O jogador de apenas 30 anos passava por momentos difíceis ao enfrentar uma intensa depressão e foi encontrado morto em sua casa após se matar com uma arma de fogo. Na época, o Lei em Campo contou o caso e deu início ao importante debate sobre a pressão emocional sobre os atletas e a necessidade dos clubes em trabalhar esse tema.

Williams Martinez tinha 38 anos e chegou a representar a seleção principal do Uruguai em 2003 e no Mundial sub-17 de 1999. Atualmente no Villa Teresa, da segunda divisão uruguaia, o jogador também vestiu a camisa do Defensor Sporting, Argentine Ferro e West Bromwich.

Em nota oficial, o Villa Teresa lamentou o ocorrido. “O Club Atlético Villa Teresa lamenta profundamente o falecimento do nosso principal jogador, Williams Martinez, e a sua família, amigos e parentes, as nossas mais profundas condolências”, escreveu.

Até o momento, a AUF não anunciou para que data as partidas serão remarcadas.

Crédito imagem: Reprodução

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