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Super Bowl foi mais um espetáculo, com entretenimento, esporte e direitos humanos (?)

A festa foi linda, o jogo espetacular. O Super Bowl – com a conquista dos Chiefs – mais uma vez entregou mais do que prometeu. A tradicional NFL sabe como ninguém conciliar esporte e entretenimento. E, finalmente, tem colocado um pouco de direitos humanos nessa receita. Tanto que demorou anos para fazer uma reparação histórica com um de seus atletas, Colin Kaepernick.

Pra quem não lembra, logo ali, em 2019, a NFL teve uma noção da força da luta do atleta por direitos humanos e civis a cantora Rihanna declinou o convite da liga para ser a atração principal do show no intervalo do Super Bowl LIII.

Mas um passo decisivo para para a Liga se curvar veio um pouco depois, em 2020. O “Caso George Floyd”, quando um negro foi morto brutalmente por um policial branco nos Estados Unidos, desencadeou uma série de protestos no mundo e no esporte. E esse movimento gerou uma pressão nas associações esportivas e nas ligas independentes para que elas se posicionassem de uma maneira mais firme no combate ao preconceito, assumindo o erro de um silêncio vergonhoso.

Com a morte de Floyd, a NFL também se curvou ante a necessidade de combater a discriminação. “Estávamos errados ao não ouvir os jogadores mais cedo e a encorajá-los a falar e protestar pacificamente. Nós, NFL, acreditamos no ‘Black Lives Matter’. Apoiamos os jogadores que fizerem ouvir a sua voz e tomarem atitudes”, disse Roger Goodell, chefe da NFL, em vídeo publicado nas redes sociais depois da morte de Floyd, e de manifestações de atletas da Liga.

O posicionamento da Liga fez com que muitos lembrassem de Colin Kaepernick, um atleta que ganhou a antipatia do ex-presidente Donald Trump por defender o combate à desigualdade racial e que acabou sendo punido pela postura.

A história do jogador poderia ser contada como a da maioria dos atletas, por seus feitos esportivos. Com uma carreira de destaque no futebol americano universitário, o quarterback atingiu o auge esportivo ao liderar o San Francisco 49ers no Super Bowl de 2013.

Mas o momento que mudou a história do atleta aconteceu três anos depois, em 2016. Kaepernick se ajoelhou durante o hino nacional dos EUA como forma de protesto contra o racismo e a violência policial. O gesto foi repetido por alguns colegas de equipe e por adversários.

No dia 5 de julho daquele ano, Alton Sterling, um homem negro de 37 anos, foi baleado várias vezes após ser derrubado por dois policiais brancos em Louisiana. Toda a ação foi filmada. No dia seguinte, Philando Castile, homem negro de 32 anos, foi parado por um policial enquanto dirigia acompanhado de sua namorada e da filha dela, de apenas 4 anos. Após ser solicitada a sua carteira de motorista, Castile informou calmamente ao policial que tinha licença para portar arma e que havia uma arma no carro. Na sequência, o oficial de polícia disparou sete vezes contra Castile, vitimando-o fatalmente.

Os assassinatos de Sterling e Castile escancaram ainda mais a violência policial contra a população negra, desencadeando uma onda de protestos em vários lugares nos EUA. A indignação atingiu o ápice em 2016.

O gesto de Kaepernick simbolizou o protesto dentro da poderosa NFL e provocou também um movimento contrário. O então presidente Donald Trump encabeçou as críticas contra os atletas, e a Liga — usando da autorregulação — decretou sanções a quem não respeitasse o hino. Kaepernick deixou o 49ers ao final da temporada, e nunca mais foi contratado por nenhuma franquia.

O protesto do atleta se tornou um símbolo do esporte na luta antirracista. Atletas da Fórmula 1, do futebol e de vários outros esportes já se manifestaram contra o preconceito da mesma forma antes de eventos esportivos, repetindo Kaepernick. Além do amplo movimento que iniciou em 2016, Kaepernick também ajudou organizações sociais que combatiam a violência policial e a fome infantil e auxiliavam desabrigados, doando mais de um milhão de dólares.

Depois do gesto do atleta, a NFL formalizou um acordo com um grupo de 40 atletas, no final de 2017, para doar o valor de 89 milhões de dólares a organizações que atuam pela reforma do sistema criminal, pela responsabilização policial e por ações de educação afro-americana nas escolas.

Em 2019, os advogados dos atletas Colin Kaepernick e Eric Reid anunciaram a assinatura de um acordo confidencial para encerrar a ação judicial que os atletas moviam contra a NFL. Os atletas processaram a NFL sob o argumento de que a liga havia promovido um boicote dos times para que não os contratassem, como retaliação por conta dos protestos iniciados por Kaepernick em 2016.

Mas foi só depois de quase quatro anos que a declaração do chefe da NFL, em função da repercussão da morte de George Floyd, soou como um pedido de desculpas ao atleta. E agora, quase oito anos após o gesto do atleta, atletas da NFL podem ajoelhar sem medo para pedir ao mundo que lute contra o preconceito e pela proteção de direitos humanos. E com Rihanna no palco!

Crédito imagem: AP

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