Ederson Moreira deixou o Cruzeiro após seis meses de trabalho. Seis meses! Ney Franco, que substituirá Ederson na Toca da Raposa foi recentemente dispensado do Goiás, onde permaneceu por 12 meses. Eduardo Barroca deixou o Coritiba depois de oito meses como técnico, período de permanência semelhante a Jesualdo Ferreira no Santos, Dorival Junior no Athletico e Daniel Paulista no Sport. Todos demitidos bem antes do final do contrato.
A realidade do futebol brasileiro é triste.
A dança das carreiras do técnicos do nosso futebol está cada vez maior. Segundo estudo feito pela CIES Football Observatory, em 2016, os técnicos brasileiros de futebol permaneceram, em média, 5,2 meses no cargo. Em 2020, segundo o portal GE.com, as coisas não mudaram muito, a média é de 6 meses.
Mas como toda regra tem um exceção, Renato Portaluppi, técnico do Grêmio, completou nesse mês de setembro 4 anos à frente da equipe gaúcha. Com seis títulos nesses quatro anos (3 estaduais, 1 Copa do Brasil, 1 Libertadores e 1 Recopa Sul-Americana) Renato viveu altos e baixos no Grêmio, mas a continuidade do trabalho fez com que, mesmo com muitas trocas no elenco, o técnico conseguisse manter time muito competitivo. Ou seja, foi possível planejar, organizar e colocar em prática o projeto.
A história já mostrou que a continuidade para um técnico de futebol é fator importantíssimo para conseguir desenvolver um bom trabalho. Os maiores treinadores da história, independentemente da modalidade, ficaram no comande de suas equipes por um longo período. Com tempo, apresentaram resultado.
É exatamente o que Bernardinho, Alex Ferguson e Bill Belichick têm em comum além do sucesso do lado de fora das quatro linhas. Tempo!
Uma das maiores personalidades do esporte brasileiro, Bernardo Rocha de Rezende é considerado por muitos o maior campeão da história do voleibol mundial. Bernardinho, como é conhecido, acumula em seu currículo mais de trinta títulos importantes na carreira, entre eles, seis medalhas olímpicas (cinco como técnico é uma como jogador).
À frente da Seleção Brasileira de Vôlei por 22 anos, masculina e feminina, criou um legado conhecido como “Era Bernardinho”, a sequência mais vitoriosa da história na modalidade, transformando o vôlei brasileiro em um dos principais do planeta.
Além dele, com o título de Sir agraciado pela rainha da Inglaterra, o escocês Alex Ferguson, considerado por muitos o maior técnico de futebol de todos os tempos, e o mais vitorioso técnico da Inglaterra, está muito distante da realidade brasileira. Fergie, como também é chamado, fez a carreira comandando durante 27 anos os “Diabos Vermelhos”, como são chamados os jogadores do Manchester United.
Graças a Alex Ferguson, a equipe de United se tornou uma das mais importantes e vitoriosas equipes da Inglaterra, com 39 títulos, sendo treze Premier League, duas Champion League, dois mundiais de clubes e uma Supercopa da Uefa.
Não é diferente com Bill Belichick. Seu sucesso, principalmente liderando a equipe dos New England Patriots, franquia da NFL sediada em Foxborough, continua até os dias de hoje. Em parceria com o maior nome do futebol americano dentro das quatro linhas, o quarterback Tom Brady, Bill conquistou seis Super Bowls. Bill entrou no 20º ano no comandando da equipe da região de Boston e é considerado um dos mais importantes e vitoriosos técnicos da história do futebol americano.
Poderíamos citar outros gênios que, com muito talento e paixão, dedicaram anos de suas vidas às vitoriosas equipes que comandaram, como Connie Mack (conquistou cinco vezes o título da Série Nacional de Beisebol durante os 49 anos em que esteve à frente da equipe do Philadelphia Athletics) ou Phil Jackson (técnico mais vitorioso da NBA – liga americana de basquete –, com 11 títulos apenas em passagens por Chicago Bulls nos anos 90 e Los Angeles Lakers nos anos 2000).
Nem todos são geniais, mas todos tiveram tempo.
Vale a reflexão: será que a troca prematura de técnicos, como vem acontecendo no Brasil, não está frustrando, no longo prazo, o resultado esperado pelos times?