Por Rogério Tavares
Nos últimos anos, acostumamos a assistir à violência se misturando com o noticiário do futebol. Direito Penal interligado com o Direito Desportivo. Jornalismo Policial em conexão com o Jornalismo esportivo.
Aquela hora em que ligávamos a TV, o rádio, abríamos o portal de notícia, o aplicativo no celular para dar uma relaxada passou a ser um tempo estranho. O gol foi bonito, mas o caso de racismo no estádio dividiu espaço de destaque. A goleada foi acachapante, mas a ameaça de alguns criminosos (que se dizem torcedores) na saída dos jogadores ou até mesmo pela internet ganhou repercussão igual ou maior ao “balaio de gols”.
Onde estávamos quando passamos a achar que tudo isso é normal? Virou algo comum? Sim, infelizmente. No entanto, é preciso que nunca nos deixemos acreditar que fatos geradores e incentivadores de violência são normais.
Esporte é disputa, rivalidade, negócio e amor. Sentimentos extremos que se misturam, confundem e que têm, sim, limites. É preciso dar um basta! Já escrevi aqui e repito, há lei para punir. É fundamental fazê-la efetiva. Usar o que temos nas mãos.
Rapidamente, utilizando como exemplo os casos de violência de torcedores que vão para outra cidade, em vários ônibus e quando chegam perto do destino, são escoltados pela Polícia Militar.
Primeira atitude, verificar quem tem ingresso. Fácil, porque hoje em dia a internet permite que o cidadão imprima ou carregue no próprio celular o ingresso do jogo.
Porém, mais importante do que isso é o cadastro dos maus elementos. Temos na Lei Pelé e no CBJD artigos que tratam de torcedores que causam tumulto e que podem pegar como pena, anos sem poder ir ao estádio. Esse nome acaba em uma lista. Lista essa que ficaria disponível a qualquer momento para o serviço de segurança.
Voltando à linha de raciocínio inicial. Além da verificação de quem tem ingresso ou não entre os torcedores, vai ser possível identificar, quais pessoas estão na lista de cretinos que destroem o futebol brasileiro. O mínimo a se fazer é trancá-los durante todo o fim de semana de jogo. Já estão condenados. Não se faz nada além do que cumprir a lei.
Mas diante da inércia das autoridades, como um câncer, a violência vai invadindo os espaços saudáveis do esporte. Jogador agora passou a ser ameaçado pela internet. Se o time perdeu 3, 4 jogos seguidos, o clube pode estar no meio da tabela de classificação, mesmo assim, há quem acredite que é do seu direito cobrar atleta com ameaças virtuais e até mesmo pessoais.
Perdeu-se a vergonha. A canalhice está goleando. Um time como o Fortaleza, há 3 semanas fazia história se classificando de maneira brilhante para a segunda fase da libertadores. Mas acreditem. Há quem pense que se a campanha em outra competição (no caso o Brasileirão) não é boa, o ideal é ir para aeroportos fazer ameaça, cometer crime, artigo 147 do Código Penal. Sem falar nos crimes contra a honra.
E nós, como sociedade, estamos nos acostumando.
O cidadão entrando no seu trabalho, saindo e tendo seu carro parado por grupos de pessoas que querem “conversar”. Técnico do Atlético-MG passou por isso esses dias. Sem falar daquela imagem constrangedora que envolveu o ex-técnico do Vasco Zé Ricardo cercado e pressionado quando estava embarcando para uma viagem à trabalho pelo seu clube. E isso vem acontecendo rotineiramente.
Essa moda já pegou. Mas tem uma que tá em processo de aprovação. “O jogador só poderá comemorar datas festivas caso haja, no momento, conquistas de vitórias e estejam todos no clube satisfeitos e felizes com o desempenho do elenco.”
Parece piada né? Não importa se o atleta até há 3 semanas era muito querido e vivia um bom momento. Bastam algumas derrotas seguidas e se te virem comemorando o próprio aniversário em algum local público, o absurdo está formado. Pior ainda se a folga for sem data festiva a se comemorar.
Confesso que procurei e vasculhei a CLT e não encontrei nada que pudesse embasar esse comportamento da patrulha da vida alheia que acarreta até mesmo afastamento como aconteceu com Lucas Crispim do Fortaleza. Impossível classificar um ato como esse como desídia. Jogar mal não significa preguiça ou falta de vontade, muito menos ser derrotado.
Obviamente que não tratamos das exceções aqui. Jogador que sai no meio da pandemia, atleta que está em tratamento sendo visto bailando nos salões da vida noturna, funcionário que deveria estar em concentração sendo visto alcoolizado em dia anterior a jogos.
O foco é o comum e não as exceções.
Mas quando tratamos de paixões, muitos acreditam que é possível afogar a razão em nome da emoção. Afinal, dirão alguns teóricos da vida alheia, “jogador ganha muito bem, é tudo milionário, tem que obedecer”.
A moda está pegando. E já pensou que de 20 clubes da séria A, 4 estarão sempre na zona do rebaixamento? 4 torcidas no direito de fazer ameaça. Invadir propriedades e vidas privadas. Depredar espaço público.
Ah, e seu o teu time investiu muito e criou demasiada expectativa em você, lamento informar, só haverá um campeão. Dependendo do fim da competição, encontraremos defensores do “vamos invadir”, do “se não jogar o bicho vai pegar”.
Tempos estranhos.
Sociedade se acostumando com violência no esporte.
Autoridades convivendo com o desrespeito ao Direito Desportivo e Penal tranquilamente.
Que sonho poderia ser o dia que iremos nos acostumar com a revolta à agressão. Com a desaprovação ao crime.
O maior desafio do futebol brasileiro hoje não é mais o hexa. Questão de vida ou morte, hoje em dia, é trazer de volta o bom senso, punir criminosos, evidenciar limites para o bom e democrático protesto, e encontrar de volta, o caminho da normalidade.
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