A dúvida agora é: Tite vai levar em conta o histórico disciplinar recente de Neymar na hora de fazer a convocação para a Copa América?
O técnico deve conversar com o jogador, quem sabe passar uma orientação, quando muito um puxão de orelhas longe de todos, mas não vai tirá-lo da lista de convocados.
Mas quem não deve ser generosa com o atacante brasileiro é a Justiça Esportiva francesa. Como foi uma competição realizada na França, não são os tribunais da UEFA ou da FIFA que julgarão o atacante.
O histórico de decisões na Europa não joga a favor do brasileiro, assim como o comportamento dele.
Deve vir punição por aí. E não será branda.
O Zeca Cardoso conversou com o professor Luiz Marcondes, presidente do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo e colunista do Lei em Campo, para explicar essa história.
Na derrota do Paris Saint-Germain no último final de semana para o Rennes, na Copa da França, o que mais chamou a atenção não foi o jogo em si, mas a agressão de Neymar a um torcedor rival. Quando os atletas do PSG subiram as arquibancadas para receber a medalha de vice-campeão, Edouard, torcedor do rival, provocou os atletas parisienses. Chamou Buffon de bobo, Verratti de racista e disse que Neymar deveria aprender a jogar futebol. O brasileiro não gostou, voltou até o torcedor e desferiu um soco no rosto dele.
Esse não é o primeiro caso de um jogador agredindo um torcedor. O caso mais clássico na Europa foi do francês Eric Cantona. Então vestindo a camisa do Manchester United, em 1995, o atacante deu uma voadora em um torcedor do Crystal Palace que estava nas arquibancadas. Cantona foi suspenso por oito meses. Em solo brasileiro, Romário agrediu um torcedor nas Laranjeiras, local de treinamentos do Fluminense, em 2003. O atacante foi condenado a pagar uma indenização ao agredido.
A atitude destemperada do atleta brasileiro pode acarretar punição por jogos. Não cabe à FIFA ou à UEFA punirem o jogador, já que se trata de uma competição realizada na França. “Fica claro que houve ali uma atitude desmedida do Neymar, uma resposta desmedida a uma provocação. Sobre o código esportivo e, nesse caso, por ser uma competição francesa e organizada em sede da Federação Francesa, aplica-se o código disciplinar da França”, avaliou o advogado Luís Marcondes
“Me parece que pelo caso seria enquadrado no artigo 1, item 11. De agressão, sem que houvesse maior consequência. Nesse sentido, poderia ter uma punição, se condenado, de três a oito partidas”, comentou Marcondes.
O julgamento do jogador será realizado na quinta-feira (02/05). O Paris Saint-Germain já é campeão francês, mas ainda disputa quatro jogos no campeonato. Neymar, inclusive, foi titular na partida de hoje contra o Montpellier, fora de casa.
Para Marcondes, a pena do brasileiro não deve ultrapassar cinco jogos: “Uma suposição: ele ficaria com uma punição de três a cinco jogos. Com avaliação não só das atenuantes, mas também pela circunstância, pois houve uma provocação, acredito não passaria de cinco jogos”, relatou.
Por outro lado, se a atitude for entendida como uma ação com brutalidade, o gancho de Neymar pode ser pesado. “O pior cenário seria ele pegar os oito jogos de punição e ainda uma avaliação no campo efetivamente criminal, por conta de uma queixa do agredido”, explicou Luís Marcondes.
Edouard, o torcedor agredido por Neymar, em entrevista ao jornal L’Equipe, da França, disse que não foi até uma delegacia pois tinha que dirigir cerca de 380 km de Paris para Nantes. Se ele tivesse levado o caso adiante, Neymar poderia responder a um processo criminal na França.