Na semana que passou, o Itaú BBA divulgou Análise Econômico-Financeira dos clubes de futebol no Brasil. A referida análise indica de forma clara forte relação do sucesso desportivo do Flamengo e do fracasso do Cruzeiro com a gestão financeira do respectivo clube.
Segundo Cesar Grafietti, que coordenou o estudo, os clubes serão divididos entre os que entenderam que o equilíbrio financeiro e a gestão eficiente são parte necessária para o desempenho esportivo e o grupo que ainda insiste em velhas e mal sucedidas práticas.
A análise traz um diagnóstico crucial para que se identifique os problemas e busque caminhos e soluções. Além disso, é preciso haver conhecimento público dos dados dos clubes a fim de que se fiscalize o “fair play” financeiro dos clubes.
O Flamengo não é o grande “bicho papão” do futebol brasileiro atoa. O clube teve um aumento de 50% nas receitas fulcrado em uma gestão profissional que buscou honrar todos os débitos em dia.
O Cruzeiro, por seu turno, rebaixado no Brasileirão e desclassificado na primeira fase do mineiro precisaria de mais de dez anos para quitar suas dívidas, caso utilize 20% da receita para tanto.
Em outras palavras, a era de que o uso e abuso de irresponsabilidade financeira poderia trazer títulos parece chegar ao fim.
Diante disso, clubes como Athletico-PR, Bahia, Ceará, Fortaleza e Goiás tendem a ter mais destaque desportivo que os tradicionais Corinthians, São Paulo, Vasco, Santos, Fluminense e Botafogo.
Outro ponto que chamou atenção no estudo é da grande dependência financeira que os clubes têm das transações de atletas.
O fato de as transações de atletas serem tão relevantes nas receitas dos clubes demonstra o quanto o modelo de gestão carece de sustentabilidade. Ora, se o objetivo do desporto é a montagem de equipes competitivas, ser obrigado a se desfazer de um grande atleta por necessidade financeira indica uma grande fragilidade estrutural.
Dessa forma, é indispensável que os clubes brasileiros, antes de pensarem no imediatismo da buscar títulos, viabilizarem recursos para a boa saúde financeira dos clubes.
O sucesso do Flamengo não foi por acaso. O clube passou anos com times muito aquém de sua tradição enquanto saneava o clube.
Da mesma forma, o cruzeiro passou anos com times muito além da sua capacidade financeira pensando exclusivamente no imediatismo dos títulos (e os conquistou), mas o preço a ser pago pode ser alto demais.
Ainda dá tempo de os clubes brasileiros reverem o rumo da sua história a fim de que não tenhamos, em breve, um abismo quase insuperável entre os clubes bem geridos como Flamengo, Grêmio e Palmeiras e os demais.