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Todo mundo pede, mas ninguém faz. Compliance

A Confederação Sul-Americana de Futebol esteve no centro da discussão esportiva nos últimos dias. Seria natural, uma vez que vivemos a fase final da Libertadores da América. Mas a entidade esteve envolvida em uma outra conversa, que saiu das quatro linhas e entrou no campo da ética. Por conta de uma decisão do Tribunal da entidade, ela foi duramente questionada e criticada. Imagem seriamente arranhada. Pedido de compliance de torcedores, dirigentes de clube, imprensa. Todos pedem transparência à Conmebol, mas ninguém pratica de fato na própria gestão.

Primeiro aqui, é importante explicar o caso. O técnico do River Plate estava suspenso do segundo jogo contra o Grêmio pela semifinal da Libertadores. Num ato de afronta à entidade e à decisão da Justiça esportiva, mesmo proibido, passou orientações ao time durante a partida, via dispositivo eletrônico, e desceu até o vestiário do River no intervalo, para conversar com os atletas. O time estava perdendo o jogo por um a zero. No segundo tempo, virou e venceu por dois a um. O time argentino se classificou para a final, e a participação do técnico foi decisiva, de acordo com os jogadores.

Pois bem, o Grêmio apresentou denúncia contra Marcelo Gallardo e, junto, pediu a eliminação do River. Tudo dentro do prazo de 24 horas do fim da partida, como manda o regulamento da Conmebol. Depois de uma longa espera, o Tribunal decidiu punir Gallardo com 3 partidas de suspensão, sendo que, em uma delas, não poderá ir ao estádio, e multa de 50 mil dólares, entretanto, não acolheu os argumentos da equipe brasileira quanto à anulação da partida e definição do placar por 3 x 0 para o Grêmio. O River Plate não perdeu os pontos e acabou confirmado na final da competição.

Não vamos entrar na questão jurídica da decisão, assunto importante e que vai ser abordado pelos especialistas do #LeiemCampo oportunamente, mas vamos falar da repercussão indignada que a decisão causou.

A #useoregulamento, uma crítica da torcida do Grêmio à Conmebol, virou trending topics mundial. A imprensa internacional também bateu na entidade. Milhares de mensagens virtuais atingiram os patrocinadores… No centro de tudo, um pedido de transparência nas decisões da entidade, aprimoramentos nas suas normas disciplinares e o devido rigor na aplicação delas, ou seja, compliance.

Resumidamente, compliance é um programa de conformidade que uma instituição, preocupada com o cumprimento de lei, normas e, principalmente, com a transparência e ética, se propõe a seguir.

Sua origem foi nos Estados Unidos, após escândalos de corrupção que tomaram proporções gigantescas. O governo norte-americano, com a finalidade de punir executivos e empresas corruptas e antiéticas, criou normas legais para exigir conformidades com as legislações, condutas éticas de mercado e transparência com todos os envolvidos.

Voltando ao caso Conmebol, quando se pede compliance à instituição, é um clamor dos torcedores para que haja mais ética e fair play fora de campo, atingindo todos os envolvidos no esporte.

Se houvesse alguma legislação de conformidade, como o compliance, no esporte, as instituições e clubes seriam punidos objetivamente, ou seja, não cabendo discussão sobre se o clube sabia ou não ou se foi beneficiado ou não pela conduta aética ou corrupta.

O mundo do esporte está em constante aprimoramento. Pessoas mais preparadas e com visão mais empresarial e gerencial têm assumido os cargos que podem fazer a diferença para o esporte. Além disso, as informações e satisfações para os sócios e torcedores estão cada vez mais rápidas. Programas de conformidades, como já mencionado, são as mudanças que todos bem-intencionados querem.

Quando o exemplo não vem tone from the top, de cima para baixo, mais valorizados ficam os clubes e demais instituições que estão com as suas gestões à frente nesses quesitos.

O fundamental nessa nossa primeira conversa é deixar claro qual foi o recado de uma das grandes polêmicas da gestão esportiva dos últimos tempos: o julgamento do Grêmio trouxe à discussão dois assuntos importantes que precisam mesmo ser debatidos: a necessidade de mudar o regulamento da Conmebol e a urgência de as entidades esportivas aplicarem compliance. Conmebol, CBF, federações e clubes.

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