Cursos de storytelling aos montes nos oferecem técnicas para prender a atenção de leitores e ouvintes. Garantem nos ensinar a tornar a informação que pretendemos passar mais atraente, fazer conexões entre elementos da escrita de forma mais interessante e construir a tensão necessária a prender o interesse do público.
Histórias bem contadas podem tratar até mesmo de coisas comuns. Será a curiosidade, o que nos prende? Ou o desejo de abstração da nossa realidade?
Mesclar assombro e admiração, com aquela sensação de suspensão que só nos trazem as boas histórias.
Meu livro favorito de todos os tempos se intitula “O Horizonte Perdido”, também conhecido como “o mito de Shangri-la”, do escritor James Hilton, quem verdadeiramente conseguiu contar uma história daquelas, o que me fez devorar as cerca de 200 páginas do livro e voltar a relê-lo de tempos em tempos.
O livro trata de uma viagem pelo Oriente, por volta de 1930. Quatro passageiros decolam em um avião em fuga, de uma espécie de insurreição em curso no país onde se encontram, quando a direção do voo é alterada de forma inesperada. Nem os passageiros, nem nós, leitores, sabemos para onde estão sendo levados, quando o avião cai e o piloto morre.
Perdidos e sem comunicação, os tripulantes avistam ao longe homens vestidos como religiosos que os ajudam, oferecendo abrigo em um mosteiro situado em Shangri-la, uma cidade até então desconhecida, no Tibet.
Os visitantes descobrem que Shangri-la é uma inacreditável cidade, estrategicamente fincada em um planalto elevado, de difícil acesso. Apesar da relutância, eles são obrigados a permanecer por 2 meses naquele paraíso perdido, pois os monges só descem a montanha para buscar mantimentos a cada 60 dias. Enquanto esperam, os visitantes vivem o cotidiano local e descobrem alguns dos segredos escondidos naquela paisagem, dentre os quais a longevidade inconcebível dos que ali permanecem e a busca por um substituto para o líder religioso.
Beleza, conforto, momentos de contemplação, hospitalidade e uma filosofia pautada na moderação tornam o local perfeito ao grupo de visitantes.
Desde o modo como a história é escrita até o seu desfecho, minha curiosidade é desafiada a decidir se a história parece verdadeira ou totalmente irreal.
Quantas vezes desejei estar naquela cidade que ainda possuía livros para todos os gostos! Paraíso onde quase nada é o que parece e tudo se encaixa. Que história!
James Hilton tinha uma boa história ou usou de adequada técnica? Um pouco de cada, opino com a mesma moderação praticada em Shangri-la. Publicado em 1933, dizem ser fruto da desesperança trazida pela primeira guerra e perspectiva de um novo conflito mundial.
As histórias que atravessam o tempo e nos fazem querer ficar são histórias bem contadas. Partindo do mesmo princípio, Tóquio 2020 já é uma dessas histórias bem contadas, cujo final queremos conhecer em 2021. Pensemos essa teia que parece traçada com fios e alinhos de um bom escritor:
O ano é 2021, a cidade de Tóquio espera sediar o maior evento esportivo do planeta. Sua primeira tentativa frustrada ocorreu ainda em 1940. Mais de 80 anos depois, vê seus planos novamente ameaçados quando o evento é adiado pela primeira vez na história do Movimento Olímpico e suas pretensões de sediá-lo são ameaçadas por um vírus que assola todo o mundo e traz a ameaça de cancelamento ao evento. Enquanto nega cada novo boato de cancelamento e se prepara para receber atletas de todo o planeta, Tóquio se prepara para servir sediar aquela que pretende ser a edição mais esperada dos Jogos Olímpicos de todos os tempos. Com ou sem vacina, Tóquio e os Jogos Olímpicos vencerão o medo?
Que história! “Tóquio 2020” já é uma história bem contada.