O Figueirense desembarcou no fim da tarde deste domingo (6) em Cuiabá. E apesar dos atos de violência sofridos no último sábado, a equipe segue com a programação normal. “Temos 20 atletas na delegação. Ninguém deixou de viajar por conta do ocorrido. Alguns jogadores tiveram ferimentos leves, escoriações, e foram atendidos no estádio, pelo nosso departamento médico. Felizmente, nada que tire alguém do jogo”, informou a assessoria de imprensa.
O clube joga nesta terça-feira (7) contra o Cuiabá, quarto colocado da Série B do Campeonato Brasileiro. Em agosto de 2019, na mesma Arena Pantanal, os jogadores do Figueirense se recusaram a entrar em campo por salários atrasados. O W.O. gerou uma multa de três mil reais ao clube, enquadrado no artigo 203 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que trata sobre “deixar de disputar, sem justa causa, partida, prova ou o equivalente na respectiva modalidade”.
“A situação à época é parecida com a atual, em termos financeiros e de instabilidade. A empresa que tinha arrendado o clube teve o contrato rescindido e a discussão segue na Justiça. Uma nova diretoria foi eleita. O mesmo grupo que administrou o Figueirense no período entre 1999 e 2007 assumiu, mas como uma dívida bem maior, em torno de 150 milhões”, avalia Robson Vieira, advogado de Santa Catarina, especialista em direto esportivo.
O estádio Orlando Scarpelli foi palco de uma invasão na tarde do último sábado. No local, 34 jogadores realizavam treino regenerativo quando torcedores pularam o muro, derrubaram um dos portões do estádio e se dirigiram aos atletas com rojões.
“Nós estávamos trabalhando. A gente trabalha para ter resultado positivo, mas nem sempre consegue. Quem está lá tem dignidade, tem família e merece respeito. Não podemos ser covardemente agredidos física e moralmente, porque um bando de desocupados se acha no direito de nos bater e quebrar o nosso patrimônio. Isso tem que acabar. Essa história de torcedor ou de qualquer um achar que pode botar o dedo na cara de quem trabalha com futebol e dizer como as coisas têm que ser, sem respeito, tem que acabar!”, desabafou Cíntia Carvalho, nutricionista do Figueirense, nas redes sociais.
“É inadmissível, beira a barbárie. Ainda assim, isso não justifica que o atleta peça a rescisão do contrato, justificando a culpa do clube. São questões completamente diferentes. Mas isso não impede que o atleta peça a rescisão unilateral. Caso opte por isso, teria que pagar multa rescisória para o clube”, pondera o advogado trabalhista Theotonio Chermont.
A interpretação é de que não houve qualquer descumprimento contratual na relação clube-atleta, apesar da falha do empregador e de uma certa negligência no tocante à segurança. “O clima na cidade está bem ruim. Os torcedores arrombaram um portão e invadiram. Mas, como não havia uma competição em disputa, não há como se falar em julgamento desportivo”, acrescenta Robson Vieira, advogado de Santa Catarina, especialista em direto esportivo.
“O que o clube tem que fazer é identificar esses vândalos. Nem me refiro a eles como torcedores. São criminosos. Devem identificar, lavrar boletim e proibir a entrada dessas pessoas sejam em treinos ou partidas”, orienta Theothonio Chermont.
A assessoria de imprensa do clube informou ao Lei em Campo que, no sábado, dia da invasão, “foi registrado um boletim de ocorrência. As imagens das câmeras de segurança também foram entregues à Polícia”.
“A Lei 13.912/19, sancionada em novembro do ano passado, é aplicável neste caso”, lembra Martinho Neves, advogado especialista em direito esportivo. Nela, a pena para torcidas organizadas e torcedores que provocarem tumulto ou cometerem atos de violência foi ampliada. “Se o Figueirense conseguir, pelo menos, identificar a que torcida os invasores pertencem, esta poderá ser suspensa por cinco anos”, acrescenta.
Muitos deles estavam com uniformes da Gaviões Alvinegros, que é a maior torcida organizada do Figueirense. Mas a gestão do grupo emitiu nota repudiando os atos. A assessoria do clube informou que não está definido se as denúncias serão individuais ou contra a torcida organizada.
“Vai depender das investigações. A polícia trabalha junto com o clube para tentar identificar os invasores. Se algum deles for sócio, sofrerá medidas administrativas, que podem resultar, inclusive, na exclusão do indivíduo do quadro social”, finaliza.
O Figueirense ocupa, neste momento, antes do fim da 8ª rodada, a 15ª posição na tabela da Série B e acumula uma vitória, dois empates e quatro derrotas em sete jogos.
Crédito da foto: Figueirense/Divulgação
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