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Tyson e o fim do PRIDE e do K-1

Mike Tyson foi a maior estrela do boxe na década de 1990. Ele entrou no esporte ainda muito jovem. Em pouco tempo, tornou-se o rosto da elite do boxe de peso pesado.

Sua personalidade, seu poder de nocaute assustador, seus movimentos rápidos no ringue e sua capacidade geral de enfrentar os adversários fizeram dele o favorito dos fãs.

Tyson fez sua estreia no boxe em 1985. Naquela época, ele era um jovem garoto esperando para explodir quando chegasse ao grande palco.

Dito isso, assim que ele apareceu no circuito profissional, foi tudo muito fácil para “Iron” Mike.

Ele derrotou todos os adversários que enfrentou e permaneceu invicto durante os primeiros cinco anos de sua carreira. Nessa época, os fãs começaram a citá-lo como uma lenda do esporte, comparando-o a nomes como Muhammad Ali e outros.

Embora a carreira de Tyson fosse repleta de complicações, ele deixaria o esporte de combate de maneira honrosa em 2005, mas sua história na luta ainda não teria um final naquele ano.

Aos 54 anos de idade, Mike Tyson retornou aos ringues de boxe para enfrentar Roy Jones Jr. em 28 de novembro de 2020 no Staples Center em Los Angeles, Califórnia.

A luta terminou empatada, pois a Comissão Atlética do Estado da Califórnia havia dito que não haveria juízes oficiais marcando a luta. Os dois homens levaram para casa pelo menos US$ 1 milhão pela luta da noite. Mike Tyson disse que doaria o prêmio da luta para instituições de caridade.

Um dos oponentes ventilados para esse retorno na época foi o veterano Bob Sapp, o qual Tyson quase enfrentou no K-1, mais famoso torneio de kickboxing da época.

Em agosto de 2003, Bob Sapp participara de um evento especial do K-1 em Las Vegas, enfrentando o veterano do UFC Kimo Leopoldo na ocasião, com Tyson como um dos espectadores.

A disputa gerou polêmica muito antes de Mike Tyson entrar em cena, pois parecia que o árbitro Nobuaki Kakuda estava favorecendo Sapp e dando-lhe tempo para se recuperar dos golpes de Leopoldo.

Sapp foi sendo aos poucos superado por Leopoldo. No entanto, ele acabou dominando o adversário e a luta terminou com vitória de Bob Sapp por nocaute.

Após a vitória, Sapp chamou Mike Tyson, que estava sentado ao lado do ringue. Tyson entrou no ringue e Sapp tentou começar uma briga com o boxeador imediatamente. Ambos foram impedidos pelos oficiais presentes, mas se desafiaram mutuamente.

Entretanto, a luta nunca aconteceu, principalmente devido ao status de criminoso de Mike Tyson. Seu histórico de delitos impossibilitou que Mike Tyson obtivesse um visto[1] para o Japão, onde os organizadores queriam que a luta fosse realizada por motivos de lucro.

Tyson também quase chegou a lutar MMA, tendo até fechado contrato com o PRIDE, maior torneio de MMA asiático de todos os tempos, que foi indiscutivelmente maior do que o UFC em um determinado momento. Porém, a promoção japonesa acabaria sendo adquirida por seu concorrente americano por estar passando por sérias dificuldades financeiras.

O evento japonês ainda é famosos por combates bizarros, lutadores dopados e por permitir “tiros de meta[2]” (soccer kicks) e outras técnicas hoje ilegais na maioria das promoções.

O PRIDE em 2003 fechou um acordo com os representantes de Tyson, a DSE, para lutar com seus melhores pesos pesados. Infelizmente, as lutas nunca aconteceram.

Controversamente, Tyson, depois de assinar o contrato, desapareceu e parou de responder aos seus representantes.

Estes e outros prejuízos ajudaram sobremaneira na queda do PRIDE e da organização de kickboxing K-1.

O PRIDE era essencialmente uma operação de lavagem de dinheiro para a Yakuza (máfia japonesa)[3] e, embora o K-1 nunca tenha sido exposto como tal, é provável que tenha sido semelhante.

O fundador do K-1, Kazuyoshi Ishii, chegou a ser preso em 2005 por acusações de sonegação de impostos[4] e, depois disso, as operações do K-1 foram assumidas por Sadaharu Tanikawa, um jornalista esportivo e amigo/protegido de Ishii.

Um grande problema que os esportes de combate enfrentaram no final dos anos 2000 foi o declínio do interesse no mercado japonês. É muito difícil conseguir um grande contrato com TVs japonesas e, quando o público começou a diminuir, os patrocinadores e parceiros de TV começaram a desistir.

O primeiro grande golpe para o K-1 foi a perda de seu contrato com a Tokyo Broadcasting System; é o equivalente ao UFC perder a ESPN. Além disso, o público começou a diminuir, tornando difícil reservar um local como a Saitama Super Arena.

Eventualmente, o K-1 perdeu tanto dinheiro que não conseguiu pagar os lutadores, e foi aí que as coisas explodiram em um grande escândalo, já que mais estrelas do K-1 começaram a reclamar da situação para a imprensa.

Por fim, a marca K-1 foi vendida a uma holding japonesa e adquirida por uma empresa de investimentos chinesa que criou a empresa que atualmente administra o K-1, a K-1 Global.

O clima era de ceticismo em relação a Mike Tyson desde o início. Antes de o PRIDE entrar em contato com Tyson, o K-1 também o havia procurado[5], e diz-se que o custo proibitivo envolvido foi o que levou ao enorme escândalo de evasão fiscal que atingiu o K-1.

Não se tratava apenas de ver Tyson lutar, o PRIDE tinha um plano completo para a comercialização de Mike Tyson no evento, sendo até planejada uma espécie de turnê mundial para Tyson.

Teria sido no mínimo interessante se um dos mais famosos boxeadores de todos os tempos tivesse se aventurado em outros esportes de combate, a exemplo do próprio Ali (que não fez luta das mais excitantes com Inoki).

Aos fãs, resta especular como teria sido e lamentar o fim de uma era dos esportes de combate japoneses que tantas lutas históricas trouxe.

Crédito imagem: Getty Images

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[1] Um registro criminal não significa necessariamente que você não possa viajar para o Japão. No entanto, se uma pessoa tiver sido condenada por uma violação de qualquer lei ou regulamento do Japão ou de qualquer outro país e tiver sido sentenciada a prisão com ou sem trabalho por 1 ano ou mais, ou a uma pena equivalente, sua entrada no Japão geralmente será negada.

[2] HARKNESS, Ryan. Video: The soccer kick KO you didn’t see from Bellator Japan. In: MMA MANIA. Site, 29 dez. 2019. Disponível em: https://www.mmamania.com/2019/12/29/21041983/video-the-soccer-kick-ko-you-didnt-see-from-bellator-japan. Acesso em: 23 mai. 2022.

[3] SNOWDEN, Jonathan. Sex, Drugs, Gangsters and MMA: Remembering Pride, UFC‘s Wild Predecessor. Bleacher Report, Site, 6 jul. 2017. Disponível em: https://bleacherreport.com/articles/2718986-sex-drugs-gangsters-and-mma-remembering-pride-ufcs-wild-predecessor. Acesso em: 23 maio 2023.

[4] Former K-1 promoter gets prison for tax dodge. The Japan Times, Site, 15 jan. 2004. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/news/2004/01/15/national/former-k-1-promoter-gets-prison-for-tax-dodge/. Acesso em: 23 maio 2023.

[5] Em 2003, Tyson declarou falência, tendo desperdiçado o dinheiro devido a “gastos imprudentes”, aparecendo no mesmo ano em um cargo promocional para o K-1, mas não assinando um contrato como lutador. De acordo com os documentos da falência de Tyson, o contrato de um ano com a K-1 exigia que a empresa assumisse algumas das despesas de moradia de Tyson.

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