“Último Tango em Paris” (1972) é um filme que conta a história de Paul, um americano de meia-idade e Jeannie uma jovem parisiense, que casualmente se encontram em Paris e mesmo sem sequer saberem o nome um do outro, começam a ter relações sexuais no apartamento em que ambos buscavam para alugar.
Querendo conhecê-la melhor, Paul leva Jeanniea uma casa de Tangos. Ela, por sua vez, vai se desiludindo ao longo do tempo com ele e o relacionamento caminha até culminar num final trágico para o homem.
Quase cinquenta anos depois do filme, a cidade luz recebe agora, vindo do país do Tango, o maior “dançarino” que o futebol já conheceu nas últimas décadas e que, estando em plena meia-idade como jogador, deverá bailar pela última vez no PSG.
Mas nesse palco quem dançou mesmo foi o Barcelona. Em virtude de regras rígidas de governança existentes na liga espanhola, o clube não foi autorizado pela entidade a renovar o contrato com Messi pelos valores que haviam sido negociados pelas partes.
Isto porque o contrato atingiria níveis de endividamento da equipe catalã que extrapolariam os limites estipulados pela entidade espanhola, o que implicou na proibição para que o ajuste fosse sacramentado.
Porém, diferentemente da Espanha, a França não dispõe das mesmas regras de controle, o que permitiu o PSG assumir um compromisso que está acima das receitas de que o clube dispõe hoje em dia.
É nítida a desigualdade de tratamento dispensada aos times no caso, onde quem na verdade ficou vendo o Tango passar foi a dona FIFA.
Justamente ela, que gosta de regular inúmeros temas em escala mundial e que extravasam as quatro linhas, vem inexplicavelmente deixando essa questão passar em branco, olvidando aquele que é considerado o pilar fundamental sobre o qual se sustenta todo o edifício jurídico do esporte.
Com efeito, um dos princípios básicos do direito desportivo é o da uniformização das normas, que impõe que as regras que regulam o desporto sejam uniformes em todo o mundo.
Essa é, inclusive, uma característica que diferencia o direito desportivo dos demais ramos jurídicos, qual seja, a universalização do seu Direito, tornando-se um Direito Mundial que possui sua raiz numa fonte central, que no caso do futebol é a FIFA.
Esta peculiaridade ainda não é vista no plano do Direito comum, já que a soberania dos Estados impede a formação de um Direito único, aplicável indistintamente a todos os povos.
Nesse sentido, só se vislumbra possível comparar-se o Direito Desportivo com o Direito Canônico, que é o direito emanado da Igreja Católica e que possui o seu polo de irradiação normativa advindo de uma única fonte que é o Vaticano e que se impõe perante todo o universo eclesiástico do planeta.
“Último Tango em Paris”, pelo contrário, não possui nada de católico, tendo ficado mundialmenteconhecido pela famosa “cena da manteiga”, momento em que Paul se vale do produto para praticar um ato de sodomia não consensual com sua parceira.
Tal episódio marcou negativamente a película e trouxe sérios danos psíquicos à atriz que interpretava Jeannie, que não sabia que encenaria tal ato e carregou as marcas desse momento para o resto de sua vida.
Danos irreversíveis também podem ser causados ao futebol, caso o denominado “Fair Play financeiro” não seja idêntico em todo o planeta. O que faz o esporte realmente valer a pena é o equilíbrio das disputas. O dinheiro, que nem sempre é de origem lícita, pode desequilibrar o jogo para sempre e o futebol arrisca ter o mesmo desfecho trágico que a trama de Bertolucci havia reservadopara Paul.
A atuação de Marlon Brando não pode ser ofuscada pelo erro cometido na condução do filme. Ele desempenhou com maestria o papel que lhe foi destinado, fazendo jus à fama de ser um dos maiores atores de todos os tempos.
Da mesma forma, as nebulosas circunstânciasda contratação do “Marlon Brando do futebol” não devem suplantar a chance de vermos os últimos passos de um dos melhores artistas da bola de todos os tempos.
Afinal, o tempo passa para todos e com Messi não será diferente.
Aproveitemos então, pois está chegando a hora em que o mágico argentino se prepara para dançar…
O seu último tango em Paris.
Crédito imagem: PSG
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