Os tempos são difíceis, os desafios são muitos na proteção da integridade e dos direitos humanos em ambiente esportivo, mas precisamos vencer a desesperança. Estamos avançando e vou trazer dois exemplos que vão quase desenhar esse sentimento.
Terminei nesses dias o livro do economista francês Thomas Piketty, Uma Breve História da Igualdade. Para falar das angústias e desafios que temos como civilização para tornar o mundo menos desigual, ele lembra como já avançamos nos últimos 100 anos com vários exemplos. Um deles destaca que até a década de 1960 os Estados Unidos tratavam negros com menos direitos do que os brancos. O fim da discriminação legal só veio a 60 anos (!). Claro que ainda precisamos acelerar o processo para que essa conquista legal se torne um processo emancipatório real. Mas estamos avançando no combate ao preconceito, inclusive no esporte.
Outro exemplo. Até uns 5 anos atrás pouco – ou nada – se falava sobre direitos humanos e integridade no esporte. Quando eu citava a palavra compliance e apresentava projeto de conformidade para muitos dirigentes, eles sequer conheciam. Quem conhecia, acreditava ser algo distante do esporte. Nesta segunda (4) tivemos um evento que é quase um outdoor de novos (e promissores) tempos.
Um fórum global, no Brasil, dentro de um grande clube de futebol, para discutir integridade.
O Fórum de Integridade no Esporte reuniu poder público, movimento privado do esporte, atletas, pensadores e investidores do esporte para tratar de pautas como integridade, governança, direitos humanos. Ou seja, um diálogo entre a comunidade esportiva para debater, refletir e avançar em temas urgentes e necessários.
O evento teve a transmissão da Globo!
Ou seja, estamos discutindo. E avançando.
O evento organizado pela SIGA (Agência Global pela Integridade no Esporte) em Parceria com o São Paulo FC, colocou protagonistas do esporte numa mesa. A Ministra Ana Moser, o deputado Eduardo Bandeira, Paulo Kakinoff, do Pacto pelo Esporte, Emanuel de Medeiros, CEO da Siga entre outros. A comunidade esportiva estabelecendo um pacto pela integridade.
Mas, claro, como lembrou Emanuel de Medeiros, esse precisa ser um compromisso real de todos os agentes do esporte. Só assim uma política escrita se torna efetiva, com a prática permanente.
No encontro, um ato formal que pode se tornar um avanço efetivo.
O Governo Federal assinou um memorando de entendimento com a SIGA. O acordo define preocupações comuns e as prioridades na proteção da integridade. É a primeira vez que o Brasil firma compromissos do tipo com uma entidade internacional.
– O esporte é amplo e acessível, mas só é assim a partir do momento em que é íntegro e imprevisível. Não podemos perder estes valores, senão não há mais esporte. Precisamos salvar a natureza do esporte, e isso passa pelos mecanismos de integridade – disse a ministra Ana Moser em seu discurso.
Eu tive o privilégio de participar dos debates ao lado do vice-presidente da Federação Paulista de Futebol Mauro Silva, do advogado Paulo Schmitt e do especialista em compliance Fred Justo. Ali por perto estava atenta Roberta Cardignoto, uma profunda estudiosa dessa área de conformidade. Como ali também estava o diretor jurídico do São Paulo Roberto Armelin, o anfitrião de todos.
No encontro, lembrei que o esporte tem dois grandes desafios pela frente: a proteção de direitos humanos e entender como conciliar a importância das apostas para a economia do jogo com a inegociável integridade.
Enfim, discutimos e, mais do que isso, nos comprometemos.
Ao final, lembrei do pensador francês que a ministra Ana Mozer citou na orelha do meu livro, Pierre Parlebas que disse que “o esporte não é bom, nem ruim, ele é o que fazemos dele”.
Eventos como esse, do dia 4 de setembro de 2023, podem ajudar a fazer o esporte ser ainda melhor. Depende – de TODOS – nós. Assim, venceremos os desafios e a desesperança.
Crédito imagem: Pixabay
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