Nos últimos anos, o debate sobre o desenvolvimento do futebol de base tem sido dominado pela formação nas categorias mais jovens. Embora o investimento em projetos de iniciação seja fundamental, há um aspecto que merece mais atenção: O futebol sub 20 e o papel estratégico da captação nesse estágio avançado de formação. No Brasil, onde mais de 90% dos clubes profissionais têm baixo poder de investimento, a captação no sub-20 pode ser crucial para garantir competitividade e sustentabilidade a longo prazo.
O futebol na categoria sub-20 vive um paradoxo. Apesar de ser a última etapa antes da profissionalização, muitas vezes é negligenciado em termos de planejamento e estrutura. A preparação técnica e física dos atletas é intensificada, e jogadores dessa faixa etária já possuem uma base considerável de experiência.
No entanto, enquanto os grandes clubes concentram seus esforços em captar e formar atletas desde as categorias mais baixas, muitos clubes menores sofrem para acompanhar esse processo, em parte devido à falta de recursos e estrutura para formar jogadores ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento.
Com mais de 700 clubes profissionais registrados no Brasil, apenas uma pequena parcela tem condições de investir de forma expressiva na base, podemos ver como exemplo o baixo número de clubes com certificado de clube formador (56 no total, menos de 10% dos clubes nacionais). Isso cria uma disparidade acentuada, onde os clubes de maiores recursos conseguem manter programas de formação contínuos e de alta qualidade, enquanto a maioria luta para sobreviver financeiramente.
Nesse cenário, a captação no sub-20 se torna um elemento chave. Ao invés de competir diretamente com clubes que têm poder financeiro para atrair talentos desde muito jovens, esses clubes podem focar seus esforços em jogadores que já passaram pelas etapas iniciais de formação e estão prontos para um estágio mais avançado de desenvolvimento.
Nesse sentido, a captação precisa ser extremamente eficiente. Os atletas nessa faixa etária já possuem características mais consolidadas, tanto em termos técnicos quanto de personalidade, o que permite uma avaliação mais precisa de seu potencial. Ferramentas de análise de dados tornam-se fundamentais nesse processo, permitindo que os clubes identifiquem padrões de desempenho, resiliência sob pressão e consistência ao longo do tempo. Assim, é possível diminuir os riscos de erro nas contratações, maximizando o retorno sobre cada atleta captado.
Além disso, há uma janela de oportunidade para clubes menores na captação de jogadores que, por algum motivo, não foram plenamente reconhecidos nas categorias mais jovens, mas que têm grande potencial para evoluir. Esses atletas, muitas vezes subestimados por clubes maiores, podem representar oportunidades valiosas para equipes que sabem trabalhar com planejamento de curto e médio prazo.
Jogadores que maturam mais tardiamente, ou que passaram despercebidos em clubes menores, podem ser desenvolvidos no sub-20 com um custo significativamente mais baixo, mas com grande potencial de retorno, seja técnico ou financeiro.
Outro ponto relevante é a exploração de mercados subestimados. O Brasil possui diversas regiões ainda pouco exploradas em termos de captação de talentos. Além disso, mercados internacionais, especialmente na América do Sul, são um terreno fértil para clubes com redes de captação bem organizadas e que operam com orçamentos mais modestos. Encontrar talentos nesses mercados pode ser uma solução eficaz para driblar a falta de recursos e competir com clubes que têm mais capital para investir.
A grande maioria dos clubes brasileiros não tem o luxo de investir massivamente na formação desde as categorias de base iniciais. Isso torna ainda mais importante uma estratégia focada em captar atletas que estejam mais próximos do nível profissional, prontos para uma transição rápida e que possam gerar impacto imediato no elenco principal. O Sub-20, por ser uma fase de lapidação final, oferece essa oportunidade única de captar jogadores que já tenham passado pelo processo formativo básico e que precisem apenas de ajustes para encarar o nível profissional.
A realidade financeira da maioria dos clubes brasileiros exige uma abordagem pragmática e estratégica. A captação deve ser vista como uma ferramenta fundamental, que pode não apenas preencher lacunas no elenco profissional, mas também gerar oportunidades de retorno financeiro com vendas futuras. Clubes que conseguem otimizar esse processo, combinando a captação eficiente com o uso de dados e a exploração de mercados subvalorizados, estarão à frente na formação de jogadores mais completos e preparados para o futebol profissional, além de garantirem uma vantagem competitiva importante, mesmo com recursos limitados.
Portanto, em um país onde o número de clubes é imenso, mas os recursos estão concentrados em poucos, o Sub-20 se destaca como uma categoria estratégica para a sobrevivência e o sucesso dos clubes menores. Concentrar esforços na captação e desenvolvimento eficiente de talentos nesse estágio pode ser a diferença entre estagnar ou prosperar no competitivo mercado do futebol brasileiro.
Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo
Texto de Tiago Borges