Por Rogério Tavares
Nos últimos dias, para boa parte da população, principalmente àquela que acompanha as atualizações esportivas no Brasil, o noticiário se dividiu em “Invasão Russa na Ucrânia” e “Violência no futebol brasileiro”.
Não se trata de comparação de assuntos e muito menos análises geopolíticas. O que se procura aqui são exemplos de ações que buscam ajudar o mundo em momento tão crítico e que podem ser utilizados dentro de um campo esportivo brasileiro.
Hoje, o que se tem no cenário internacional é uma pressão mundial muito grande para que a Rússia interrompa seus ataques à vizinha Ucrânia. Em meio a discursos inflamados, surgem ações que passam por medidas políticas, econômicas e até esportivas. Sim, esportivas.
A FIFA decidiu por suspender a Federação Russa de futebol. O que significa a desclassificação da Seleção das eliminatórias para a Copa do Mundo. A UEFA eliminou o Spartk Moscou das oitavas de final da Liga Europa. Enquanto o COI (Comitê Olímpico Internacional) já recomendou às federações de cada modalidade que excluam atletas de Rússia e Belarus de todas as competições internacionais.
Se fossemos analisar a legitimidade de tais medidas a discussão seria longa. Existe, certamente, apoio popular às medidas. No entanto, há dificuldades em encontrar previsão e tipificação no ordenamento esportivo mundial que corrobore com tais atos.
Mas aí chegamos ao ponto chave. Então, por que tais decisões foram tomadas, qual a base minimamente compreensível, ou que pelo menos fortaleça subjetivamente tais caminhos tomados por FIFA, UEFA E COI?
A resposta é: a pressão.
Uma pressão externa que busca atingir objetivos que se encontram com os princípios básicos e criadores do esporte.
Não é de agora que FIFA e COI levantam a bandeira da proteção dos Direitos Humanos. A própria Carta Olímpica, o documento mais importante do desporto, tem como um de seus objetivos colocar o esporte para ajudar o desenvolvimento de uma sociedade pacífica, respeitando e protegendo a dignidade humana.
Dito isso, o que nos levaria a abordar o assunto da violência que nos assaltou nos últimos dias dentro do futebol nacional?
Vejamos.
Em menos de 5 dias, jogadores, no Brasil, foram atacados dentro de ônibus e dentro de campo. Se aumentarmos o quadro temporal de análise, veremos casos e casos de homofobia, racismo, faca dentro de campo invadido, e por aí vai. E estamos falando apenas de 2022.
Não se trata, de forma alguma aqui, de comparar fatos e importância. Longe disso. Mas sim, entender e perguntar. Se o esporte é capaz de mesmo sem muito embasamento jurídico objetivo, participar da busca pela paz em situações tão críticas e horrendas como as que estão acontecendo em solo ucraniano, por que não usar do mesmo remédio, em diferentes doses obviamente, para buscar uma segurança no futebol brasileiro?
Seria exagero dizer que o goleiro do Bahia poderia ter ficado cego? Que o jogador do Grêmio poderia ter se machucado gravemente? Que alguém da delegação do FC. Cascavel tenha passado por séria ameaça? Que os atletas do Paraná correram risco de vida?
Não nos esqueçamos que há um mês houve uma invasão de campo na Copa São Paulo e uma faca foi encontrada no gramado. E se alguém, com instrumento parecido tivesse entrado na Vila Capanema, participado do ato de vandalismo e fosse além?
É…mas é carnaval, os discursos inflamados vão perdendo força, a tendência é a segurança aumentar nos próximos dias, os acontecimentos perigosos diminuírem, o assunto desaparecer do noticiário e o “normal” do futebol voltar.
Porém, o nosso normal futebolístico é há muito tempo algo violento. Que como onda vem, faz estragos, volta, acalma, engana, vem de novo, e permanece em um ciclo infinito.
Ok, mas o que a Guerra tem a ver com o futebol brasileiro?
Vejamos!
Para algo de extrema complexidade e dificuldade, o esporte tenta contribuir através de atos de pressão e ações, que mesmo gerando discussões, buscam um objetivo maior que é a paz.
Por que, então, em seu próprio quintal, o futebol não consegue usar do mesmo método em proporções adequadas?
Explico!
O que as entidades esportivas mundiais fazem não é se utilizar da pressão?
Alguns não podem se sentir prejudicados? Afinal, o que os jogadores da seleção russa de futebol, e até mesmo do Spartk Moscou (nem todos russos) têm a ver com as decisões do presidente Putin? Em que ações nocivas ao povo ucraniano os atletas da Rússia se envolveram para serem punidos?
Certamente, esses personagens estão pagando um preço alto e em particular por uma pressão necessária encontrada para se buscar a paz ou, pelo menos, condenar a guerra.
No futebol brasileiro é preciso fazer igual. Primeiramente, é fundamental ter coragem e depois vontade política esportiva. Com a diferença que nos casos em tela do futebol brasileiro, existem leis desportivas e penais que podem ajudar e muito a dar fim a essa barbárie que estamos nos acostumando a ver.
É preciso pressão! Pressão com atos e decisões que fazem doer na carne. Que geram, sim, pequenas injustiças e discussões, mas que no macro venha a salvar o futebol brasileiro.
Por que não estamos vendo os principais atletas do país se pronunciarem? Vocês têm poder na voz! Estamos pedindo! Seus colegas de profissão implorando! Não conseguem perceber?
Digam que não vão entrar em campo!
Treinadores, vocês são os comandantes! Os líderes!
Façam greves, parem tudo, abandonem esse campo minado por um dia ou dois que seja!
Exijam que os agressores sejam punidos. Acompanhem os inquéritos policiais. Cobrem publicamente o Ministério Público. Apoiem penas duras nos tribunais e plenos desportivos.
Repito, temos lei!
Diretores, não sejam coniventes. Mesmo que a dose do remédio utilizada um dia possa respingar em vocês, não se acovardem. Acreditem que um clube não tem que passar pano. Precisa ajudar objetivamente na busca pelos criminosos. Que ao colaborar com a justiça, a pena será atenuada. Mas apoiem punições severas. No futuro, o esporte ficará mais limpo, mais calmo, mais saudável financeiramente. Investidores terão outra visão. Dólares e euros entrarão, ainda mais, em seus cofres.
Valerá a pena!
Se em uma guerra de proporções inimagináveis o esporte e o futebol têm papel fundamental na busca pela paz, por que não utilizar desses mesmos antídotos para seu próprio bem?
O lado complicado é que para isso, é preciso pessoas corajosas, líderes destemidos, ídolos dispostos a usar suas forças para o bem.
A história costuma registrar e se lembrar dos audaciosos, diferenciados, sonhadores e que mudam o mundo para melhor. Porém, costuma deixar guardados alguns capítulos aos covardes.
Não sejam. Não esperem.
Pressionem!
Crédito imagem: Reuters/Bernadett Szabo
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