Pesquisar
Close this search box.

Uma potência desmascarada por um casal do esporte

Uma potência desmascarada por um casal do esporte. Se fosse nome de um filme, este seria baseado em fatos reais. A trajetória de conquistas recentes da Rússia mostrou ser frágil tal qual um castelo de cartas. O sopro que desmanchou a fachada multivitoriosa veio de uma atleta e de seu marido. E foi destruidor.

O esporte russo estava contaminado por uma política estatal de dopagem. Um esquema planejado e capilarizado que só foi entendido e desmembrado depois que a atleta Yulia Stepanova e seu marido, o treinador de atletismo Vitaly Stepanov, foram pegos no antidoping em 2013 por irregularidades no passaporte biológico de Yulia, corredora de atletismo. Os resultados conquistados desde março de 2011 foram anulados.

Antes disso, em 2010, o casal fez uma denúncia à Agência Mundial Antidoping (AMA), que lhes respondeu que não tinha poderes de investigação.

Em 2014, suspensos e ameaçados por funcionários do governo russo, o casal decidiu ajudar a desmembrar o crime. Além de depor explicando como funcionava a estratégia, comprovaram que funcionários oficiais forneciam dopagem em um esquema profissional e sem rastros em troca de 5% dos ganhos dos atletas, falsificando exames. Além disso, eles começaram a gravar colegas russos de alto desempenho que admitiam o uso de substâncias proibidas.

A lista contava com atletas de ponta do esporte russo, alguns medalhistas olímpicos. Em Londres, 2012, a Rússia havia conquistado 16 medalhas no atletismo, só perdendo para o desempenho dos Estados Unidos, com 28 medalhas – desempenho atropelando princípios olímpicos como nunca antes visto na história do doping.

A denúncia virou documentário na TV alemã, a ARD: “Dossiê secreto sobre doping: como a Rússia fabrica seus vencedores”. O documentário destruiu o castelo russo de conquistas e provocou uma revolução no esporte.

O cenário deixou o esporte em descrédito. O país inteiro ameaçado de ficar de fora dos Jogos do Rio 2016. A Federação Internacional de Atletismo (IAAF) suspendeu todos os atletas do país de todas as competições. O COI (Comitê Olímpico Internacional), assustado com uma avalanche de processos que chegavam ao Tribunal Arbitral do Esporte (TAS), decidiu delegar às respectivas federações internacionais a decisão de permitir ou não a participação de atletas russos na Olimpíada do Rio.

Na semana que vem, voltaremos a falar mais sobre as consequências da delação de Yulia e do marido para o esporte, em especial para o russo – com números de medalhas perdidas e sobre Yelena Isinbayeva, o maior nome do atletismo russo, que levou a questão ao TAS.

O importante aqui é reforçar o gesto de coragem dela e do marido. Suspensos, é verdade, mas que tiveram a coragem de arriscar a própria vida para levar adiante uma denúncia fundamental para proteger princípios olímpicos.

Yulia voltou a competir em junho de 2016 e chegou a ter a promessa de participar dos Jogos do Rio como “atleta neutra”, “pelo seu extraordinário contributo para a defesa de um desporto limpo”, conforme havia dito a Federação Internacional de Atletismo.

Isso não se confirmou.

O COI recusou essa permissão. O mesmo comitê que convidou Yulia e o marido a estarem presentes na cerimônia de abertura dos Jogos de 2016. O casal vive nos Estados Unidos desde que denunciou o esquema, colaborando com IAAF e o COI. Assustados e ameaçados. Um assessor do presidente russo, Vladimir Putin, a chamou de “judas” pelas denúncias que fez.

Na semana que vem, os desdobramentos desse caso que gerou uma avalanche de discussões jurídicas no mundo esportivo. A maior vergonha do esporte mundial quando o assunto é doping.

Mais sobre: “Dossiê secreto sobre doping: como a Rússia fabrica seus vencedores”, no YouTube.

Compartilhe

Você pode gostar

Assine nossa newsletter

Toda sexta você receberá no seu e-mail os destaques da semana e as novidades do mundo do direito esportivo.