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Unidos, atletas podem acabar com o preconceito no futebol

O esporte está respirando. E reagindo. O absurdo de agressões repetidas contra Vinicius Junior ganhou uma resposta. O mundo noticiou o episódio e se posicionou em defesa de direitos humanos e combatendo o preconceito. A postura pode ser o início de uma grande transformação no esporte.

Esporte não se afasta do direito e o direito tem como base a proteção de direitos humanos. Se ele esquece sua natureza, as leis e os próprios regulamentos privados do esporte que protegem a igualdade e combatem o preconceito, é preciso agir. E a ação passa necessariamente por mobilização.

Momentos históricos

A discussão não é nova, em vários momentos o esporte foi também um catalisador de transformações sociais importantes, combatendo o preconceito e levantando bandeiras necessárias.

Vamos ficar em três exemplos:

– a história do Start FC também é fantástica. O time formado por jogadores ex-jogadores do Lokomotiv e do Dínamo de Kiev, muitos deles ex-prisioneiros na Segunda Guerra Mundial, começou a se destacar. Isso incomodou os nazistas. O time da Força Aérea Alemã desafiou o Start. Vencer poderia significar a morte. Eles sabiam disso, mas decidiram honrar a pátria, a dignidade e as chuteiras e venceram o jogo. Os jogadores foram presos e quatro deles foram assassinados.

– em 1968, os americanos Tommie Smith e John Carlos ganharam medalhas de ouro e bronze nos Jogos Olímpicos do México. No pódio, protestaram contra a discriminação racial nos EUA. Em silêncio, um gesto que foi sentido em todo o mundo. Eles subiram ao pódio e ergueram os punhos fechados com luvas pretas, a saudação dos Panteras Negras. Eles foram expulsos da Vila Olímpica.

– um exemplo no Brasil, a democracia corintiana. Na década de 80 o Brasil ainda vivia sob ditadura militar. Foi nessa época que alguns atletas politizados do Corinthians decidiram criar um movimento político pela volta da democracia e maior participação dentro do clube. Com líderes como Sócrates, Wladimir e Casagrande, os jogadores passaram a fazer parte de discussões importantes, como contratações, premiações, concentração. Essa democracia interna se tornou um símbolo de luta pela democracia no Brasil, e muitos desses atletas participaram ativamente da campanha pelas Diretas Já em 1984.

Dessa vez, o grito tem que ser contra o preconceito.

A participação coletiva, provocada pela pressão dos atletas e da opinião pública, pode desencadear uma mudança sistêmica no esporte.

Mobilização gera mudança

O esporte se organiza dentro de cadeias associativas. A adesão de todos às regras é o que garante uma estabilidade jurídica a esses movimentos.

Se os atletas se posicionarem firmemente contra a passividade do movimento esportivo diante do preconceito, ele vai ter que agir.

Para isso, é preciso lutar. De maneira organizada e coletiva. Luta gera mudança.

Tem manifestação racista, homofóbica, misógina no esporte, para de jogar. Se ela persistir, deixe o campo.

Se esse for um caminho de todos, protegido pelas regras esportivas e direitos universais, as entidades esportivas vão ter caminho para punição. E, mais, terão que agir na defesa de direitos humanos, para garantir a continuidade do jogo e a proteção do negócio.

Se todos se unirem numa campanha efetiva e firme de combate ao preconceito, o movimento esportivo não poderá mais relevar comportamentos como esses que se repetem na Espanha.

Episódios como o de Vinícius Júnior podem desencadear mudanças reais de comportamento, que implicarão numa nova cultura nas arenas esportivas. A pressão coletiva – de atletas, clubes, patrocinadores – provocará irritações nesse sistema, obrigando as entidades esportivas a dialogar e avançar na necessária proteção de direitos humanos, como manda o estatuto da Fifa.

Combater o racismo, a misoginia, a homofobia também precisa ser uma causa do movimento esportivo. A participação de todos é importante.

No mundo, muitos são os exemplos de atletas que entenderam que sua força vai muito além de uma pista ou quadra ou campo, e que eles podem ser agentes importantes na construção de uma sociedade melhor, menos excludente e mais humana. E o primeiro passo para atacar o problema é se posicionar.

Nelson Rodrigues já escreveu: “No futebol, a pior cegueira é só enxergar a bola”. Ou, se preferir, lembremos de Rousseau:

“A essência do direito consiste na ação. A Ação livre é para o sentimento jurídico o que o ar é para a chama: diminuí-la ou perturbá-la é abafá-la inexoravelmente”.

A luta recente pela defesa da igualdade dentro do movimento esportivo tem transformado o jogo. Atletas venceram o déficit democrático do movimento esportivo, levantaram a bandeira da proteção de direitos humanos de maneira coletiva e estão transformando o esporte.

Crédito imagem: Reuters/Pablo Morano

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