O clássico mineiro entre América e Atlético, no sábado (4), pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro, foi marcado por uma cena forte. Aos 34 minutos do primeiro tempo, o volante Rodriguinho, do Coelho, e o lateral Rubens, do Galo, se chocaram ao disputar uma bola de cabeça. Os dois jogadores ficaram caídos e a partida ficou paralisada por cerca de dez minutos.
Rodriguinho e Rubens deixaram o estádio Parque do Sábia, em Uberlândia, de ambulância. Eles foram levados para um hospital na cidade mineira, onde passaram por exames.
O volante Rodriguinho acabou levando a pior. Uma tomografia revelou que o jogador do América-MG sofreu um traumatismo cranioencefálico e fraturou ossos da face. Por enquanto, não há necessidade de procedimento cirúrgico. O jogador está fora da partida de quarta-feira (8) diante do Coritiba, e dificilmente vai ser liberado para enfrentar o Vasco, no domingo (12).
Rubens apenas sofreu um corte na cabeça e precisou levar oito pontos. O lateral do Galo passou por exames de tomografia de crânio e de coluna, porém nenhuma lesão foi detectada.
Concussão é um problema sério no esporte e que passou a ser cada vez mais frequente no futebol. Diante do aumento de frequência dos casos, a IFAB (Internacional Football Association Board) – órgão regulador do futebol – aprovou em 2020 um protocolo que permite uma substituição extra em casos de suspeita de concussão.
Esse protocolo, adotado pela FIFA em seus torneios, prevê que para casos de suspeita de concussão, ou seja, choque de cabeça, a substituição não conta para o limite de cinco trocas. No entanto, para isso acontecer, há algumas etapas a serem cumpridas.
A norma foi adotada pela entidade máxima de futebol na Copa do Mundo do Catar, em 2022, e nas últimas edições do Mundial de Clubes. Algumas ligas pelo mundo, como é o caso da Premier League, seguiram o mesmo caminho. Aqui no Brasil a regra de substituição extra ainda não foi incorporada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), embora o protocolo para reconhecimento da concussão e retirada do campo já ser praticada.
O caso deste sábado volta a alertar para a necessidade de se pensar em medidas que visem proteger os atletas.
“A disputa por bola aérea é o mecanismo mais comum de trauma de cabeça no futebol. Entre esses traumas, podemos citar os cortes na cabeça, as fraturas de crânio, lesões orofaciais e lesões intracranianas como hemorragias e a concussão cerebral, por exemplo. A discussão atual no futebol, e também em outros esportes, deve se concentrar não apenas em se garantir uma assistência de alta qualidade ao atleta que sofre uma concussão, mas também minimizar a exposição aos impactos na cabeça. Não precisamos mudar o jogo, mas podemos diminuir a exposição nos treinos. Isso já seria um bom começo”, avalia Hermano Pinheiro, fisioterapeuta esportivo e neurofuncional, mestre e doutor pela USP e membro da Comissão de Futebol Americano e Rugby da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física (SONAFE).
O especialista explica que nem sempre os sintomas da concussão se manifestam de forma imediata.
“A concussão é caracterizada por alterações funcionais ao invés de estruturais no cérebro e dessa maneira, exames como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética não são capazes de mostrar a lesão. No entanto, esses exames de imagem são necessários para a identificação precoce de áreas de hemorragia e edema (inchaço) no cérebro e fraturas no crânio. Os sintomas nem sempre são evidentes imediatamente embora o cérebro esteja sustentando uma alteração neurometabólica. No entanto, à medida que a demanda cognitiva, física e emocional aumenta, alguns sintomas podem se manifestar. No primeiro momento, é de fundamental importância remover o atleta em definitivo do jogo para preservar a sua integridade física, evitar que ele receba novos impactos que poderiam resultar em lesões subsequentes e síndrome do segundo impacto. Além disso, a ciência já nos mostrou que quanto mais tempo demoramos para remover o atleta do jogo, mais lento será a sua recuperação clínica e funcional após a concussão”, conta o especialista.
Alguns dos sintomas da concussão cerebral são: desmaio; dor forte ou crescente na cabeça; alteração no estado de consciência; alteração no humor; convulsão ou algum outro tipo de epilepsia; falta de coordenação motora; visão dupla; vômito; fraqueza ou formigamento nos braços ou pernas; e dor muito forte no pescoço.
O advogado especializado em direito desportivo e jornalista, Andrei Kampff, alerta para problemas jurídicos que grandes ligas do esporte podem enfrentar por conta das sequelas deixadas aos ex-atletas.
“Além da obrigação permanente de cuidar da saúde dos atletas, a situação traz um risco jurídico. A NFL já sofreu uma derrota bilionária não justiça, quando atletas ingressaram pedindo ressarcimento em função das sequelas proporcionadas pelas concussões. Isso trouxe aprendizado à força, e a NFL passou a investir mais na saúde dos atletas. A FIFA e o futebol também correm esse risco”, afirma.
O Lei em Campo entrou em contato com a CBF para saber o motivo pela falta da regra de substituição extra para casos de concussão.
“Essas substituições foram utilizadas de forma experimental em torneios curtos, como por exemplo a Copa do Mundo Feminina e está sendo usada nas eliminatórias! Está sim em estudo, e foi um dos temas abordados em nosso 6° Curso de Educação Continuada de outubro. Precisamos avaliar a sua aplicação em torneios longos, a eventual autorização da FIFA e IFAB pois se trata de aplicação de nova regra e ajustar a aplicação com os Departamentos de Competições e Arbitragem! É um assunto prioritário para nós! Em tempo, via Conmebol essa era uma proposta nossa desde 2018”, conta o diretor médico da CBF Jorge Pagura.
Crédito imagem: Reprodução
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