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Vôlei brasileiro registra denúncias de racismo e atletas se posicionam. Por que não há punição?

A Superliga B, segunda divisão do principal campeonato de vôlei do Brasil, registrou duas denúncias de racismo, uma no feminino e outra no masculino, somente na última semana.

Na sexta-feira passada (26), três jogadoras do Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro, disseram ter escutado sons de macaco vindos da torcida do Curitiba Vôlei durante partida na capital paranaense. Após o confronto, a central Dani Suco, a ponteira Camilly Ornellas e a levantadora Thaís Oliveira gravaram um vídeo relatando o ocorrido.

“Era o segundo set, teve um rali, nós ganhamos, e eu fui para o saque. No momento em que eu estava batendo a bola, escutei, em alto e bom som, barulhos de macaco mesmo”, disse Dani.

No dia seguinte, sábado (27), algo parecido se repetiu na competição masculina. Durante a partida em Goiânia entre Goiás e América-RN, o técnico da equipe potiguar, Alessandro Fadul, interrompeu a disputa de um dos pontos para informar ter sido chamado de macaco por um torcedor.

A atitude do treinador irritou o árbitro, que lhe apresentou um cartão vermelho – um ponto para o adversário. O homem acusado por Fadul não foi retirado do ginásio, e a Associação Esportiva Vôlei Pró, mantenedora do time goiano, negou ter havido qualquer tipo de injúria.

Comunidade do vôlei cobra punição

Enquanto a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) diz investigar os casos, atletas e ex-atletas usaram as redes sociais para cobrar punição da entidade.

A central bicampeã olímpica Fabiana Claudino, mais conhecida como Fabi, cobrou ações da entidade, responsável por gerir o vôlei brasileiro. Além disso, ela também pediu um posicionamento de clubes e atletas que se omitiram.

“Estamos cansadas de notas de esclarecimento no dia seguinte e de um crime não ter a devida importância e investigação. Até quando, hein? Toda a solidariedade às vítimas e todo o meu repúdio aos responsáveis que sempre se omitem quando o assunto é crime de racismo. Chega!”, disse Fabi em vídeo divulgado nas redes sociais.

O líbero Serginho, campeão pela seleção masculina, também se pronunciou: “Prisão para os racistas”, escreveu.

Por que vôlei brasileiro não pune?

Vinicius Loureiro, advogado especializado em direito desportivo, afirma que em muitos casos as denúncias acabam não sendo levadas à Justiça Desportiva. Ele reforça ainda que os processos devem ser respeitados.

“Primeira coisa: o racismo é algo inadmissível e precisa ser combatido. Dito isso, podemos discorrer um pouco sobre os motivos da dificuldade de punição em casos de racismo. Nos dias de hoje, as redes sociais se transformaram em instrumento de pressão e manifestação sempre que há qualquer problema. Para o mundo jurídico, no entanto, seu valor é limitado. Pouco ou nada adianta uma manifestação por ofício à entidade de administração da competição ou postagem nas redes sociais. O CBJD, assim como diversas outras leis, traz especificado o procedimento que deve ser adotado para que a questão seja analisada pelo STJD. Poucas vezes, para não dizer nenhuma, os ofendidos apresentaram aos tribunais uma Notícia de Infração conforme o Código determina, juntados provas do fato ocorrido. Diferentemente da ideia geral, não cabe à FIVB ou qualquer outra entidade de administração a análise desse tipo de infração, que pode ser punida pelo respectivo STJD ou, a depender da ação, por Comissão de Ética. De qualquer forma, para que possa existir uma punição, processos devem ser seguidos e provas analisadas, com base no que determina a lei. Punir infrações e crimes é importante, mas isso não pode ser feito sem que as leis sejam cumpridas e os processos respeitados”, explica.

“O que os ofendidos podem e devem fazer em todas as situações e juntar o maior número possível de provas e apresentar as Notícias de Infração nos termos do CBJD, assim como outras medidas que podem ser tomadas nas esferas Civil e Criminal, bem como perante o Comitê de Ética”, acrescenta.

O advogado Carlos Ramalho entende que a CBV precisa atuar fortemente denunciando casos dessa natureza aos órgãos competentes para que possa ser apurado as responsabilidades na esfera esportiva.

“A questão do racismo, há muito já extrapolou a arena do aceitável. Como se vê, infelizmente, vem tomando lugar em todas as competições, seja profissional ou não. A CBV, a meu entender, precisa atuar fortemente denunciando esse tipo de ocorrência aos órgãos competentes, bem como a Procuradoria de Justiça Desportiva para que possa apurar as responsabilidades na esfera esportiva de forma a punir e desestimular atos futuros dessa inaceitável natureza”, afirma o especialista em direito desportivo.

O que diz a CBV?

Em nota, a CBV diz que “não tem poder punitivo e nem de polícia” e que repudia “qualquer tipo de preconceito ou ato discriminatório”. A entidade está juntando um material que “será encaminhado aos órgãos competentes (principalmente Ministério Público, autoridade policial, STJD e Comitê de Ética), para que sejam tomadas todas as medidas cabíveis no âmbito esportivo e perante o poder público e demais instâncias”.

Crédito imagem: Marcelo Cortes/Flamengo

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