Nenhum atleta em atividade no futebol brasileiro em 2019 deu um exemplo tão inspirador para todos nós como Willian Bigode. O atacante do Palmeiras é mais um daqueles a mostrar que todos temos compromissos como atletas, médicos, advogados, operários, garçons, jornalistas…, mas temos também responsabilidade como cidadãos na construção de um mundo melhor. E quando ídolos entendem isso, a força do exemplo se potencializa.
Pela força que tem, o esporte é um agente catalizador de transformações sociais importantes. Tanto que ele e seus personagens já pararam guerras, e aproximaram povos; o esporte recuperou pessoas. E William Bigode tem salvado vidas.
William Bigode e mais um golaço
Foi notícia aqui no UOL a viagem que Willian Bigode, atacante do Palmeiras, fez até Angola. Ele, a mulher, Loisy, e o amigo/colega Raphael Veiga foram até o país africano nas férias para um trabalho voluntário ao lado da ONG Baluarte. Na verdade, ele e a esposa ajudaram os irmãos Marcos Freire e Jonnes Queiroz a fundar essa organização que ajuda crianças em situação de abandono no país.
“Para nós começarmos tudo isso, nós tivemos um casal que se prontificou a dar as mãos tanto para mim quanto para o meu irmão. Há dois anos, surgiu apenas a visão do projeto, e tanto o Bigode quanto a Loisy acreditaram no que dissemos que ia acontecer e falaram que iam começar a semear. Eles são muito generosos, e a ONG só está onde está, com essa visibilidade, organização, equipes operacionais, materiais, escola, alimentação diária, graças à parceria desse casal maravilhoso”, contou Marcos Freire, em entrevista ao UOL Esporte.
A reportagem trouxe números importantes, “atualmente, a Baluarte atende cerca de 300 crianças do bairro Capolo, na cidade de Poro Amboim, em Angola. Desse total, 230 jovens estudam na ONG de forma integral, justamente porque não existem escolas públicas 100% gratuitas em Luanda. A entidade também tem parcerias com universidades para encaminhar os adolescentes ao ensino superior.”
Conheço Willian há muito tempo. Sei não só do envolvimento e preocupação dele com problemas sociais, da atenção que tem com a inclusão, mas também da convicção que ele tem de que é preciso ajudar. Fazer a diferença. E ele sempre fez. Sempre se importou, e sempre ajudou.
Para melhorar, na mesma semana em que foi mostrado o exemplo do atacante, uma outra notícia importante veio da Inglaterra, a de que o goleiro do Brighton Mat Ryan doou 500 dólares australianos por cada defesa feita por um goleiro da Premier League na rodada do fim de semana que passou. O dinheiro será entregue às instituições de caridade australianas devido aos incêndios florestais em seu país.
Bigode e Ryan.
Infelizmente, ainda são duas exceções.
É. preciso acabar com um silêncio constrangedor
Você provavelmente adora e repete por aí que “o futebol é muito mais do que um jogo”. Mas vai além por quê? Porque mexe com a sua emoção. Afinal, o umbigo é nosso reino. Dito isso, agora posso eu repetir que o esporte é muito mais do que um jogo. Mas explico: além de agradar o meu umbigo, ele é também um catalizador de transformações sociais e um instrumento de paz entre nações.
E ele é importante em qualquer movimento social, seja no combate à pobreza e desigualdades, seja na luta permanente contra o preconceito.
O apoio à diversidade tem sido uma batalha de vários movimentos ao redor do planeta. Vários movimentos sociais, como também influenciadores, artistas e atletas já se manifestaram de diversas maneiras sobre a importância do respeito e da necessidade de inclusão.
Mas no Brasil, personagens importantes do esporte normalmente se calam. O que é uma pena.
Repito: o esporte sempre foi um catalisador de transformações sociais pelo mundo. Ele ajudou na luta contra o racismo, contra a discriminação aos mais pobres, até na abertura democrática brasileira durante os anos da ditadura. Devido à força que o esporte tem como instrumento de transformações, não podem existir fronteiras entre ele e causas importantes para a sociedade. A ONU também sabe da força que o esporte pode ter.
A ONU tem o esporte como aliado
A Carta Olímpica já traz como objetivo que o esporte ajude na construção de um mundo melhor; a própria ONU, com uma resolução de 2003, colocou o esporte como instrumento de desenvolvimento de saúde, educação e paz.
A Assembleia Geral da ONU criou em 2006, por meio da Resolução A/RES/67/296,o Dia Internacional do Esporte para o Desenvolvimento e pela Paz. E ele tem sido celebrado em vários lugares do mundo, como no Brasil. Ele faz parte de uma ideia global da Organização de inserção do esporte em políticas sociais.
Mas a ideia de ter o esporte como vetor de promoção e desenvolvimento da paz no mundo vem sendo pauta da ONU desde 2003, quando a Organização publicou a Resolução 58/5, intitulada “Esporte como um meio para promover educação, saúde, desenvolvimento e paz”.
Inclusive na Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável, está escrito que o esporte é importante facilitador para a promoção do desenvolvimento e da paz, a partir da promoção da tolerância e do respeito e das contribuições que pode fazer para o empoderamento de indivíduos, como também para atingir objetivos como inclusão social, melhorar a educação e saúde no mundo.
Todos podem mais
O esporte vai além do jogo, claro que vai. E ídolos têm papel importante quando não estão em campo, em quadra, ou numa pista. Eles não só podem, mas devem ser agentes de transformação social.
No Brasil, em especial os jogadores de futebol.
Já se falou por qui que o futebol é um problema social, no Brasil e no mundo.Neymar, Dudu, Gabigol e bruxaria representam a exceção. Apenas 3% dos jogadores brasileiros ganham mais de 50 mil reais por mês, e conseguiram com talento driblar um destino de dificuldades e injustiças.
Venceram a lógica, e por isso já estão quites com o mundo? Eu acho que não.
É obrigação? Claro que não. Cada um faz aquilo que entende ser importante. Mas tenho certeza que usando esse poder de transformar realidade e vidas, se estará não só contribuindo para um mundo melhor, como também inspirando comportamentos.
Basta olhar os exemplos de atletas que entenderam que sua força vai muito além de uma pista ou quadra ou campo, e que eles podem ser agentes importantes na construção de uma sociedade melhor, menos excludente, e mais humana.
Olhem o exemplo de Willian Bigode. Olhemos todos.
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