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A NFL, de verde, vem para invadir o Brasil

Em coluna publicada no dia 14 de novembro de 2023, escrevi por aqui:

(…) o que agitou o nosso noticiário nos últimos dias (…) foram os novos pronunciamentos quanto ao interesse da liga em trazer jogos para o Brasil, país que está no radar da NFL já há algum tempo.

A audiência do Super Bowl cresceu por aqui quase 200% de 2021 para 2022 e o país é visto como um mercado consumidor estratégico para a expansão continental da liga.

A RedeTV!, que fechou contrato de exclusividade para transmissões do futebol americano na TV aberta até 2025, contou, na edição de 2023 do Super Bowl, com o apoio de grandes anunciantes (…).

Além disso, o NFL in Brasa, primeira live experience oficial da NFL no Brasil e maior evento vinculado ao Super Bowl produzido fora dos Estados Unidos, foi um sucesso, com experiências gastronômicas, sensoriais e musicais que exploraram a atmosfera do futebol americano.

(…)

Segundo dados do Ibope Recupom, havia, há 10 anos, 3 milhões de brasileiros que se declaravam fãs da NFL. Esse número saltou para 35,4 milhões em 2023.

Enfim, o voo da bola oval em algum estádio do Brasil parece questão de tempo.

(…)

Seja como for, não resta mais nenhuma dúvida: a NFL quer conquistar o mundo! E o Brasil é parte relevante desse plano ambicioso.

Praticamente um mês após a divulgação de tal texto, veio a confirmação oficial: em 13 de dezembro de 2023, a NFL anunciou a realização, em São Paulo, de um jogo válido pela temporada regular da competição.

E, no último dia 10 de abril, foi revelado que o duelo do dia 06 de setembro de 2024 reunirá o Philadelphia Eagles e o tradicional Green Bay Packers.

Enfim, o “outro futebol” chegará ao país vestindo, de um lado, verde e branco (Eagles), e, de outro lado, verde e amarelo (Packers). O cenário? A Neo Química Arena, estádio do Corinthians.

Opa! Há alguma coisa errada aí?

Imediatamente após o anúncio de que o adversário do Eagles será um outro time que possui verde em seu uniforme (já se sabia, desde dezembro, que a equipe da Filadélfia seria uma das que viria ao Brasil), torcedores corintianos começaram a se movimentar nas redes sociais.

Dois times verdes, cor do arquirrival Palmeiras, jogando no estádio do Corinthians?

Essa preocupação pode parecer bobagem ou algo irracional? Bom, quem trabalha com esporte sabe que não é nada realista esperar racionalidade por parte de um torcedor fanático…

Torcer por um time, afinal, é algo que se faz, invariavelmente, em razão de uma paixão das mais viscerais.

Ouvi, em um curso que fiz nos Estados Unidos, uma frase bem interessante dita por Mark Cuban, investidor mais conhecido pelo programa Shark Tank e por ter sido, desde 2000, o sócio controlador do Dallas Mavericks, da NBA (recentemente, ele vendeu 73% da participação acionária na franquia):

O esporte é diferente de qualquer outra indústria. Um jogo impacta os corações e mentes das pessoas e existe uma conexão emocional única entre nós e o nosso time do coração. Ninguém faz um desfile para comemorar vitórias em negócios ‘normais’, mas as pessoas saem às ruas para celebrar quando o time ganha um campeonato.

De fato, um jogo esportivo é, muitas vezes, justamente a “válvula de escape” para as pressões cotidianas que as pessoas enfrentam no trabalho ou na família, ambientes em que decisões racionais são, além de necessárias, inevitáveis.

Salvo aqueles que estão no estádio por razões profissionais ou por algum interesse muito específico, quem vai torcer in loco por algum time normalmente “deixa em casa” qualquer compromisso com o que é racional.

O grande barato, ali, é vibrar, celebrar e extravasar como se não houvesse amanhã.

O esporte representa, para o cidadão comum, uma chance de expressar sua identidade e suas preferências sem maiores julgamentos, algo que não acontece no restante da vida em sociedade.

Logo, é natural que a primeira reação dos torcedores mais passionais do Corinthians, os “donos da casa”, seja a de demonstrar incômodo ao imaginar o estádio de Itaquera “pintado” de verde em razão da presença das equipes da NFL. Eles se sentem no direito de fazê-lo e, obviamente, não há regra que os proíba disso.

Segundo apuração do site Meu Timão, Corinthians e Eagles já estariam conversando sobre o tema das cores dos uniformes. A ideia é que o mandante da partida, que será o time das águias (neste ponto, há alguma proximidade com a Gaviões da Fiel, principal torcida organizada corinthiana), jogue predominantemente de branco.

Preocupado com as repercussões negativas de um possível excesso de verde junto à sua base de torcedores mais radicais, Augusto Melo, Presidente do clube paulista, fez questão de destacar que “existe um contrato” e que “é uma satisfação muito grande receber um evento tão importante e gigantesco no mundo”, o qual, a propósito, gerará um bom dinheiro para o Corinthians, sejam quais forem as cores da ocasião.

Ainda não se sabe se algo será feito em relação ao uniforme do Packers. O Eagles tem até o dia 01 de julho para informar à NFL por qual vestimenta optará, o que, a princípio, condicionará a escolha do time de Green Bay.

Há alternativas para minimizar o uso do verde, ao menos dentro de campo. O que será feito nas arquibancadas, por outro lado, é absolutamente imprevisível.

A tendência é que vejamos muitas camisas e bandeiras verdes de Eagles e Packers, mas também uniformes de outras equipes da NFL e dos times de futebol do Brasil. Das mais variadas cores.

O que mais interessa, no fim das contas, é que a liga consiga reproduzir, para o público brasileiro, a atmosfera de entretenimento da qual os norte-americanos tanto se orgulham.

A Neo Química Arena, que passará por cerca de seis semanas de preparação, deverá ter sua capacidade ampliada de 48 mil para 50 mil pessoas, com a retirada de cadeiras de alguns setores e a utilização de arquibancadas móveis. O campo precisará ser expandido para acomodar as duas endzones e as sidelines. Os vestiários terão de ser adaptados.

Mas as mudanças que mais esperamos ver, de verdade, são aquelas que virão depois. Como já deixei registrado neste meu espaço no Lei em Campo, tenho a legítima expectativa de que o evento da NFL sirva como “laboratório de boas práticas” para público, clubes, federações, governos e profissionais do esporte de modo geral.

Cabe a nós termos humildade para aprender e parcimônia para avaliar o que funciona e o que não funciona em nosso ecossistema e em nossa cultura. Sem preconceitos, mas também sem o “complexo de vira-lata” cunhado por Nelson Rodrigues.

Se podemos nos valer de um jogo de futebol americano disputado em território nacional para continuarmos evoluindo no trato do esporte como opção de entretenimento (dentre tantas outras que temos à disposição), que saibamos desfrutar e aproveitar a oportunidade.

Crédito imagem: NFL

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