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A nova política de inclusão de transgêneros do ADCC

O ADCC (Abu Dhabi Combat Club) Submission Fighting World Championship anunciou sua nova política oficial sobre atletas transgêneros para competição em seus torneios.

Considerado o torneio de submission grappling[1] mais prestigiado do mundo, o ADCC é comumente chamado de “as Olimpíadas do grappling“.

O evento estabeleceu uma política[2] que exige que os atletas se registrem e compitam na divisão que se alinha com seu sexo biológico.

Pontos principais da política:

  1. Classificação do sexo biológico: Os atletas são obrigados a se registrar e competir na divisão correspondente ao seu sexo biológico, conforme designado no nascimento.
  2. Sem exceções: A política do ADCC não permite exceções à classificação do sexo biológico.
  3. Aplicação: Qualquer violação ou tentativa de burlar essa política resultará em consequências graves, incluindo uma suspensão prolongada ou possível banimento vitalício de todos os eventos sancionados pelo ADCC.

Segundo a organização do evento, a decisão foi tomada “em um compromisso contínuo de oferecer um ambiente esportivo justo e inclusivo. Após uma deliberação cuidadosa, o ADCC estabeleceu uma política que exige que os atletas se registrem e compitam na divisão que se alinha com seu sexo biológico“.

A ex-campeã do UFC e atual campeã do Bellator, Cris Cyborg, que já foi medalha de bronze no Campeonato Mundial do ADCC, disse o seguinte sobre a decisão: “Fico feliz em ver o ADCC comprometido em proteger os esportes femininos a todo custo. Os fundamentos da justiça são representados por essa decisão[3].”

Recentemente, a Association of Ringside Physicians (organização de médicos que trabalham em esportes de combate, formada por médicos do mundo todo) divulgou um estudo assim tratando a questão, in verbis:

Como a segurança do atleta é a prioridade mais importante, acima de considerações como a inclusão, é imprescindível realizar uma avaliação de risco adequada nos esportes de combate que continuam a incluir mulheres transgêneros na categoria feminina ou homens transgêneros na categoria masculina. Os estados ou organizações que permitem que mulheres transgêneros compitam contra mulheres cisgêneros ou homens transgêneros contra homens cisgêneros em esportes de combate negligenciam os riscos de segurança inerentes[4]. (tradução nossa)

O estudo prossegue trazendo ainda os seguintes pontos de atenção para as entidades desportivas de combate que liberem confrontos entre atletas nesse sentido:

– Incentivar o uso de identificação não binária de identidade de gênero em formulários de exames físicos para identificar atletas transgêneros e cisgêneros.

– Levantar questões para atletas, treinadores, reguladores esportivos e outros profissionais médicos sobre as preocupações de segurança da competição entre cisgêneros e transgêneros, incluindo diferenças fisiológicas injustas, desempenho atlético, registro de competições e consciência do atleta de que seu oponente é transgênero.

– Usar dados comprovados que identifiquem que a testosterona sozinha é uma métrica insuficiente para garantir uma competição justa e segura entre um combatente transgênero e um cisgênero.

– Reconhecer que a competição entre atletas transgêneros e cisgêneros aumenta os riscos médico-legais para médicos, promotores, matchmakers e comissões reguladoras que acompanham as competições devido ao risco elevado de lesões[5]. (tradução nossa)

No caso dos esportes olímpicos, as revogadas diretrizes do Comitê Olímpico Internacional (COI) exigiam que todas as atletas mulheres trans declarem seu gênero e não mudem essa declaração por pelo menos quatro anos, bem como tenham um nível de testosterona inferior a 10 nanomols por litro por pelo menos um ano antes da competição e durante todo o período de elegibilidade[6].

Atualmente, o COI atribui às federações internacionais a responsabilidade de desenvolver suas pesquisas, bem como seus regramentos, em consonância com as peculiaridades de cada modalidade.

No caso, não sendo o Jiu-jitsu reconhecido como esporte olímpico, não há vínculo com o COI que impeça as entidades desportivas da modalidade de ditarem suas próprias regras.

A North American Grappling Association (NAGA), principal associação de luta agarrada norte-americana, também atualizou recentemente sua política para transgêneros.

A partir de 28 de outubro de 2023, sua política[7] foi atualizada para enfatizar que haverá uma “divisão para os atletas cisgêneros”, bem como uma opção de divisão simples para mulheres transgêneros:

Nós, como organização, nos esforçamos para garantir justiça, inclusão e respeito a todos os competidores em nossos eventos. Com relação às mulheres transgênero que competem no NAGA, a seguinte política deve ser implementada:

Divisão para mulheres cisgênero:

Teremos divisões apenas para mulheres cisgênero. As mulheres transgênero não participarão dessas divisões.

Opções de divisão para mulheres transgênero:

As mulheres transgênero devem competir na divisão masculina.

Esperamos que a simplicidade dessa política revisada ajude a evitar qualquer ocorrência futura em que mulheres transgêneros entrem em divisões femininas.

Se a equipe da NAGA for informada de que uma mulher transgênero está em uma divisão feminina, ela terá a opção de ir para a divisão masculina ou receber um reembolso. (tradução nossa)

A organização divulgou um comunicado anunciando uma revisão em sua política em relação às atletas transgênero que competem nos eventos da NAGA. Isso ocorreu depois que algumas atletas cisgêneros terem se recusado a competir contra atletas trans[8].

A organização declarou que, a partir de agora, somente atletas cisgêneros do sexo feminino competirão na categoria feminina.

A organização afirmou ainda que as atletas transgêneros terão de competir na categoria masculina. A organização informou que a decisão específica foi tomada para garantir a justiça, a inclusão e o respeito a todos os competidores em seus eventos.

Crédito imagem: ADCC/Divulgação

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[1] Competição de luta agarrada, cujo objetivo é a submissão do adversário, misturando vários estilos de artes marciais.

[2] https://www.instagram.com/p/CzG3MXCOh6W/?utm_source=ig_embed&ig_rid=945a9fb0-076e-49ee-a2f8-ba962c1777ac

[3] https://www.criscyborg.com/adcc-announces-policy-on-transgender-athletes-in-competition

[4] BASCHARON, Randa et al. TRANSGENDER COMPETITION IN COMBAT SPORTS: POSITION STATEMENT OF THE ASSOCIATION OF RINGSIDE PHYSICIANS. CONSENSUS STATEMENTS, 13 jun. 2023. Disponível em: https://ringsidearp.org/wp-content/uploads/2023/07/Transgender_PP1.pdf. Acesso em: 10 nov. 2023, p. 8.

[5] Ibid, p. 8.

[6] COSTA, Elthon José Gusmão da. A posição dos médicos de ringue quanto aos transgêneros nos esportes de combate. Lei em Campo, 31 jul. 2023. Disponível em: https://leiemcampo.com.br/a-posicao-dos-medicos-de-ringue-quanto-aos-transgeneros-nos-esportes-de-combate/. Acesso em: 10 nov. 2023.

[7] https://www.nagafighter.com/naga-transgender-policy

[8] SHINDE, Janhavi. North American Grappling Association revises its policy after tournament boycott, transgender fighters banned from competing against women. Sportskeeda, 29 out. 2023. Disponível em: https://www.sportskeeda.com/sports/news-north-american-grappling-association-revises-policy-tournament-boycott-transgender-fighters-banned-competing-women. Acesso em: 10 nov. 2023.

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