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CBF, da origem ao caos – Parte 2

Por Marcelo Azevedo

O futebol brasileiro parecia ter encontrado o caminho para sua organização quando em junho de 1916 o Ministro das Relações Exteriores, Lauro Müller, conseguiu que as duas entidades que rivalizavam pelo poder do futebol nacional chegassem finalmente a um acordo que o pacificaria. Depois de tantos desarranjos e enfrentamentos (a primeira parte deste texto traz mais detalhes deste período), a criação da CBD deveria encerrar o primeiro ato deste processo de unificação não apenas do nosso futebol, mas do esporte nacional, em torno de uma entidade criada com esta finalidade.

Deveria.

Mas o que se viu a partir dali foi uma sequência notável de acontecimentos que durou quase duas décadas, com destaque para uma pauta que já começava a protagonizar o debate esportivo internacional: a disputa entre os defensores do profissionalismo contra os adeptos do amadorismo. As consequências deste debate trouxeram impactos importantes para o esporte brasileiro. E o futebol, comandado pela CBD, não estava alheio a esse contexto.

A começar pelo fato de que a CBD havia nascido em 1916 para representar os interesses de diversas modalidades esportivas, razão mais do que suficiente para fazê-la agir com enorme morosidade acerca do tema profissionalismo, assumindo, inclusive, um distanciamento às orientações da FIFA, que já havia entendido o movimento em curso e permitido a chegada da remuneração ao futebol. Isso, em parte, talvez explique porque a seleção brasileira, criada desde 1914, teve a sua entidade representante filiada a FIFA somente em 1923.

O preço deste embate seria evidentemente cobrado, trazendo como consequência inevitável, é óbvio, a criação em 1933 de outra entidade para tentar representar o futebol, tirando-o do controle da CBD. É como se estivéssemos andando em círculos, com o requinte de que o nome desta entidade era novamente FBF – Federação Brasileira de Futebol. Um novo confronto de ideias que fez retornar o mesmo ambiente de conflito e rompimento que havia sido uma tônica no início do século. O que fica aqui é que mais uma vez os rumos do nosso futebol estavam sendo decididos a partir de cisões.

Diante deste cenário, não tardou para que o Estado, que já tinha intermediado a criação da CBD, voltasse a se fazer presente, não mais para moderar, mas agora para intervir nos ditames do esporte nacional. Foi neste momento que Getúlio Vargas entendeu que era a hora de aproximar seu governo das alegorias que o futebol despertava no imaginário popular, um período nebuloso da história do esporte nacional que foi maravilhosamente contado por Wladimyr Camargos, também colunista deste portal, na sua coluna da semana passada, tema sobre o qual ele já havia trazido apontamentos numa coluna publicada em 2019. A história parece não ter problemas em permitir que enredos em parábolas esclareçam determinadas obviedades. Por decreto, num único movimento, o Estado extinguiu em 1941 a FBF, criou um orgão para comandar os esportes nacionais, o CND – Conselho Nacional de Desportes, e ainda devolveu o controle do futebol a CBD.

E a verdade é que o futebol nacional permaneceu abraçado a estrutura de Estado até o fim dos anos 70, período que sob a gestão de João Havelange, enfim conquistamos o respeito mundial pelo nosso futebol ao conquistarmos o tricampeonato da Copa do Mundo. Mas foi também neste período de triste memória que vivendo sob uma duríssima ditadura militar, vimos o controle do esporte nacional ser definitivamente subjugado aos interesses do Estado. Não demorou para que o aparelho opressor colocasse um militar para comandar os destinos do futebol nacional, um período representado pela transformação do campeonato nacional numa frente de consolidação do partido que dava sustentação política ao governo: Onde a Arena vai mal…

No âmbito internacional, a FIFA, já comandada pelo brasileiro João Havelange, põe em prática sua lógica expansionista, levando o futebol a todos os cantos do planeta. É neste contexto que a entidade volta a pressionar para que as federações nacionais se tornassem entidades com fins específicos para cuidar do futebol. E é justamente neste ambiente de pressão, externa pela FIFA, e interna pelo início da chamada reabertura lenta e gradual na sua política, que em 1979 a CBD promove a transição para a nova entidade que viria a comandar o futebol nacional. Chegamos enfim a CBF – Confederação Brasileira de Futebol, que tem na figura do civil Giulite Coutinho o seu presidente a partir de 1980.

Em breve retorno com a terceira e última etapa desta história, agora com a conclusão desta jornada ao longo do tempo para contar como a CBF se tornou a entidade que comanda, ao menos até o momento que este texto está sendo escrito, os destinos do futebol brasileiro.

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Marcelo Azevedo é formado em Administração de Empresas com MBA em Gestão de Negócios. Publicitário por adoção, atua há mais de 30 anos liderando áreas de gestão e finanças. É convicto da força que o ecossistema do futebol pode produzir ao seu entorno.  Torcedor raiz, é um amante do jogo bem jogado, da boa disputa, mas gostar, gostar mesmo, ele gosta é do Botafogo, até mais do que do futebol. É sócio do Futebol S/A

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